Análise: Class of Heroes 3 Remaster: uma experiência de outro tempo que chega como novidade

Mais de 100 horas de RPG para quem não teme repetição.

em 11/09/2025

Lançado originalmente em 2010 para PlayStation 3 e PSP, Class of Heroes 3 chega ao Ocidente pela primeira vez. Isso significa que, embora seja um remaster, é também uma estreia, recebendo sua primeira tradução em inglês e aparecendo em plataformas modernas. Para nós, é um jogo novo, mas definitivamente uma experiência de seu tempo.

Bem-vindo à escola

O gênero dungeon crawler é mais nichado hoje do que era em 2010, e, justamente por isso, o retorno de Class of Heroes 3 é uma boa porta de entrada para quem nunca se aventurou por esse tipo de RPG. O formato é simples de descrever: explorar labirintos em primeira pessoa, administrar um grupo de heróis e enfrentar batalhas por turnos contra inimigos. É uma jornada tanto de estratégia quanto de paciência.

Ao iniciar o jogo, a primeira decisão já dita o tom da aventura: escolher em qual escola se matricular. São três opções bem distintas:

— Academia Drakken: o caminho clássico, que representa a escola de aventureiros tradicionais;

— Instituto Preciana: voltado à tecnologia e ao experimental;

— Colégio Takachino: uma visão mais ancestral, marcada pela estética japonesa.

Cada escola traz personagens próprios que te acompanham pela jornada. E, embora sigam rumos diferentes no começo, as histórias acabam se convergindo mais adiante.

Para quem está começando, a Academia Drakken é a recomendada por ser mais acessível, equilibrada e com alguns dos melhores personagens da trama.

Essa estrutura já mostra uma das marcas do jogo: ele é megalomaníaco. Tudo é abundante, do número de classes e raças jogáveis até os sistemas paralelos que se empilham uns sobre os outros. Há conteúdo suficiente para ultrapassar facilmente 100 horas de gameplay. Um prato cheio para fãs do gênero e, ao mesmo tempo, uma parede para quem não estiver disposto a mergulhar fundo.

Uma escola de opções

Depois da escolha da escola, vem a criação de personagens, em que o jogador pode escolher entre raças clássicas de fantasia — como Humanos, Elfos, Anões e Gnomos — até opções mais exóticas, como Khulaz, Felpurr, Bahamoon, Diaboros ou Celestiais. O visual também pode ser levemente ajustado, mas o ponto central está na seleção de classes, ou melhor, nos cursos em que cada aluno vai se matricular.

Aqui, o leque impressiona. São 17 classes iniciais, incluindo cinco exclusivas da escola escolhida no começo. Ao longo da campanha, todas as 36 acabam sendo desbloqueadas. Desde opções mais amplas, como a classe Comum, capaz de empunhar todo tipo de arma, até especializações como Lutador, Cavaleiro, Mestre em Artes Marciais ou Umbramancer.

O jogador pode montar uma party com até seis personagens originais, ou então recorrer aos alunos já disponíveis. Mais do que acumular poder, o segredo está na sinergia, fazendo o equilíbrio entre papéis e habilidades ditar o sucesso nas masmorras.

Mas o que realmente dá personalidade ao jogo são as classes únicas que aparecem com o progresso. É aqui que o tom excêntrico da série brilha, com opções como Otaku, Irmão mais novo, Jornalista e até Tsundere. Cada uma carrega preferências inusitadas de arsenal, como o uso de microfones mágicos por classes como Ídolo ou Jornalista. E o sistema se expande ainda mais com os sub cursos, que permitem acumular duas classes ao mesmo tempo, ampliando as possibilidades de arsenal e sinergia de forma quase ilimitada.

Aventurando-se fora da escola

As escolas funcionam como o núcleo de gerenciamento: é ali que a party é organizada e onde as missões são aceitas. Cada escolha inicial define também os primeiros cenários, que variam em dificuldade e ritmo. Nesse ponto, a Academia Drakken oferece a melhor porta de entrada, com uma floresta simples que cumpre bem o papel de introduzir as mecânicas antes que a jornada avance para áreas mais exigentes e complexas. A partir daí, o jogador está livre para aprender e descobrir os sistemas no seu próprio tempo.
A marca registrada de Class of Heroes 3 é o excesso, mas um excesso pensado. As dungeons são labirintos densos e confusos, e em um primeiro contato a ausência de um mapa pode parecer crueldade. Mas a resposta está lá: cada calabouço tem mapas disponíveis para compra em cidades ou que podem ser revelados com magias específicas. O mesmo vale para o deslocamento: um sistema de piloto automático pode levar a party até pontos já visitados apenas selecionando-os no mapa. O teleporte e o fast travel também estão presentes, escondidos atrás de feitiços que precisam ser desbloqueados.

Essa filosofia acompanha todo o design. O jogo raramente explica essas conveniências, deixando que cada jogador tropece nelas por conta própria. Para alguns, essa falta de clareza inicial pode gerar frustração, porém, ao serem descobertos, esses sistemas funcionam quase como recompensas, transformando o que parecia árduo em uma experiência mais fluida e recompensadora.

Kirschtorte e a jornada de sua classe

Como o próprio título sugere, a turma de heróis é a espinha dorsal da narrativa. A party chega como um grupo de alunos transferidos e, aos poucos, vai aceitando missões de professores e colegas, subindo de importância até se ver envolvida em uma luta contra o apocalipse e as forças do mal. É um arco clássico de bem contra o mal, com pitadas de conspiração e política escolar, que cresce em escala conforme a aventura avança.

A trama começa leve e se torna cada vez mais séria, com personagens de diferentes escolas cruzando caminhos. Ver essas interações se costurando é parte da diversão, ainda que o último ato perca fôlego. A repetição de temas e dungeons prolongadas arrastam a experiência, transformando as quase 50 horas da primeira campanha em um teste de resistência antes do desfecho.

Se a história segue convenções, os personagens são o verdadeiro diferencial. Cada um tem personalidade distinta, com diálogos bem trabalhados que quebram a rigidez típica do gênero. Entre eles, o destaque fica para Kirschtorte, aluna da Academia Drakken, que se tornou facilmente uma das personagens mais carismáticas do gênero. Engraçada e peculiar, sempre parece viver em um mundo próprio. Felizmente, ela não carrega o jogo sozinha; outros membros da turma e seus conflitos também rendem bons momentos.
O problema é a própria abundância. O elenco é vasto e, na reta final, o jogo precisa equilibrar tempo de tela e falas para todos, o que leva a cenas estáticas longas e, em alguns casos, repetitivas. Ainda assim, quase sempre há ao menos um diálogo fora da curva para salvar o momento, normalmente protagonizado por Kirschtorte ou orbitando ao redor dela.

Combate

O sistema de batalha é a essência do dungeon crawler em sua forma mais clássica: turnos, escolhas diretas e resultados imediatos. Nada de animações elaboradas ou efeitos demorados. Cada turno consiste em definir a ação dos seis membros da party e aguardar o desenrolar, com o combate resolvido em caixas de texto e números. A simplicidade não é um defeito, é justamente o que coloca a estratégia no centro.

Esse caráter reforça a importância do preparo. O que foi decidido na escola ou nas cidades antes de adentrar uma dungeon permeia cada confronto. E, conforme as classes e habilidades vão sendo desbloqueadas, o leque de opções cresce de forma agressiva, empurrando o jogador a experimentar novas sinergias e soluções táticas para sobreviver.

Exploração de masmorras

A variedade de dungeons impressiona, alternando florestas iluminadas, desertos, ruínas cobertas de gelo e uma série de ambientes temáticos que nunca deixam a jornada visualmente repetitiva. A complexidade também varia, com labirintos curtos que funcionam como respiro e outros enormes, que exigem atenção constante para não perder o rumo.
A recompensa é sempre palpável. Encontros aleatórios garantem XP e ouro, e os baús espalhados pelos cenários escondem armas e equipamentos que podem redefinir sua estratégia. Mas o excesso vem com um custo: à medida que a trama avança, as sequências de dungeons longas se tornam mais comuns, testando não apenas a resiliência da party, mas também a paciência do jogador.

Dificuldade escolar

O balanço de dificuldade é curioso. O início apresenta picos claros, principalmente quando o jogador ainda está aprendendo a lidar com recursos escassos e um elenco frágil. No entanto, com o tempo, a curva se estabiliza demais. Bons equipamentos, magias úteis e a familiaridade com o sistema transformam batalhas em tarefas rotineiras, com poucas oportunidades reais de ameaça.

De fato, a dificuldade só volta a ser sentida de maneira consistente no conteúdo do endgame. É ali que os combates recuperam a tensão e exigem mais preparo, justificando parte da longevidade. O problema é que, para muitos, esse desafio chega tarde demais.

Endgame e rejogabilidade

Class of Heroes 3 Remaster não termina quando os créditos sobem. Na prática, ele se estende em um endgame robusto, com cenários adicionais que ampliam a campanha para cada uma das três escolas. Somando tudo, passa facilmente das 100 horas de conteúdo.

Essa estrutura garante rejogabilidade natural. Recomeçar em outra escola muda não só o elenco que guia a jornada, mas também o ritmo inicial, já que cada introdução tem sua própria curva de aprendizado e desafio. É um incentivo legítimo para explorar de novo, sem parecer apenas reciclagem.

Apresentação técnica

A trilha sonora cumpre bem seu papel. Não é memorável a ponto de marcar, mas consegue reforçar o clima de aventura escolar e os contrastes entre momentos leves e batalhas mais tensas. É música de fundo funcional, que acompanha sem roubar a cena.

Visualmente, o jogo também entrega um trabalho sólido, mas limitado. Os cenários cumprem a função de ambientar a exploração, enquanto os personagens carregam o maior apelo artístico, sendo bem desenhados, com traços distintos que reforçam suas personalidades. O problema é a repetição, pois os modelos não mudam ao longo da campanha, e a sensação de estaticidade cresce conforme as horas passam. Personagens importantes como Kirschtorte, que carregam muito do carisma do elenco, mereciam ao menos alguns retratos adicionais ou expressões alternativas para dar mais vida aos diálogos. A falta desses detalhes pesa quando se encara uma aventura tão longa.

No fim, é uma apresentação que faz jus à sua época. Não decepciona, mas tampouco surpreende. É um retrato fiel de 2010 que chega intacto em 2025.

Primeira vez no Ocidente

Depois de 15 anos restrito ao Japão, Class of Heroes 3 finalmente chega ao Ocidente. Esse simples fato já é uma vitória, tratando-se da entrada mais querida da série, disponível agora em plataformas modernas e acessível a quem sempre quis experimentar o clássico. O porém é a barreira linguística.
A localização foi feita apenas para o inglês, sem suporte a outros idiomas. Isso significa que a experiência completa está reservada a quem domina a língua, algo que pode afastar parte do público. Não é uma falha grave do remaster em si, mas um sinal de como o lançamento mira mais no nicho dedicado do gênero do que em ampliar de fato sua base de jogadores.

Ainda assim, a chegada ao Ocidente é significativa. Mesmo com a limitação, o jogo finalmente se abre para um público que, até então, só podia acompanhar a série à distância.

Se formando como herói

Class of Heroes 3 Remaster é, ao mesmo tempo, uma cápsula do tempo e uma oportunidade inédita. Pela primeira vez no Ocidente, temos acesso ao capítulo mais robusto da série, traduzido e disponível em plataformas modernas. O pacote preserva quase tudo do original, o que significa tanto seus acertos quanto suas limitações.
Ele brilha naquilo que sempre foi sua marca: opções quase infinitas de classes, raças e combinações para formar a party. O excesso, aqui, é virtude, garante variedade, experimentação e uma rejogabilidade difícil de ignorar. As dungeons seguem o mesmo espírito: desafiadoras e cheias de surpresas, exigindo planejamento e estratégia em cada passo. Porém, esse mesmo excesso se torna o ponto frágil da jornada. A campanha principal é longa a ponto de perder fôlego, especialmente quando o elenco inchado precisa dividir tempo de tela em diálogos repetitivos. O combate é sólido e estratégico, mas carece de desafio; depois de um começo difícil, a curva de aprendizado se estabiliza rápido demais e só volta a testar o jogador de verdade no endgame.

Na parte técnica, o remaster entrega o essencial, com uma trilha sonora que embala, mas não encanta; os visuais consistentes, mas estáticos, presos às limitações de uma produção de 2010. A ausência de localização em outros idiomas reforça o caráter de produto de nicho, pensado para fãs do gênero que já têm disposição para atravessar suas mais de 100 horas.
No fim, Class of Heroes 3 Remaster é um RPG de outra era; um jogo generoso em conteúdo, mas exigente em paciência. Uma aventura que recompensa os fãs de dungeon crawlers com profundidade e personalidade, e serve como uma porta de entrada carismática para novatos.

Prós

  • Elenco carismático;
  • Variedade de cenários;
  • Quantidade de conteúdo e sua qualidade;
  • A personalização da party é extensa.

Contras

  • Sem localização para o português brasileiro;
  • Sistemas obtusos que podem afastar jogadores;
  • Exige paciência demasiada em sua reta final.
Class of Heroes 3 Remaster — PC/PS5/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela PQube
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Matheus Oliveira
Entusiasta de games e cinema, sempre explorando novos gêneros e estilos enquanto acumula um backlog infinito. X e Instagram
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