Análise: KANADE é uma história de amor conduzida pela música

A nova visual novel da Frontwing mostra que histórias de romance simples ainda merecem espaço.

em 14/08/2025
Desenvolvida pela Frontwing, KANADE é uma visual novel que conta uma história simples de amor. Na pele de um rapaz, em uma comunidade que se esforça para sobreviver em um mundo tomado por plantas, o jogador terá a chance de conhecer uma bela garota que sonha em salvar o mundo com sua música. 

Uma canção de amor em meio a uma civilização em destroços

Um evento misterioso, ocorrido há décadas, transformou completamente o mundo: a vegetação passou a cobrir tudo, tornando a civilização humana majoritariamente inviável. Avanços tecnológicos de outrora tornaram-se recursos escassos, e a sobrevivência passou a exigir mais esforço e um senso de comunidade.

Nunca tendo visto como as coisas eram antes com seus próprios olhos, Yuuto é um jovem rapaz que, desde pequeno, tenta ajudar as pessoas ao seu redor. Curioso e dedicado, ele sempre se empenhou em realizar tarefas para os outros e, mesmo com seus pais querendo viajar pelo mundo para fazer negócios, opta por permanecer na cidadezinha arruinada em que cresceu.

Um dia, um de seus pombos-correio acaba se machucando, e a pessoa que o encontra é uma jovem garota chamada Kanade. Após cuidar dele até que retorne à saúde plena, a mocinha envia uma carta para o dono do pombo, explicando o que aconteceu. A partir daí, os dois começam a trocar correspondências e, aos poucos, a se aproximar.

A história da visual novel começa quando, após poucos meses de conversa entre eles, Kanade decide se encontrar com Yuuto. Viajando até a torre onde o rapaz vive, a garota logo acaba explicando que sua situação é um tanto mais complexa do que parece inicialmente: ela é uma meio-alienígena que precisa se apaixonar para criar uma canção que poderá salvar o mundo.

Os degraus de um relacionamento

Com Yuuto e Kanade decidindo se tornar um casal — mas ambos sendo jovens ingênuos e um tanto românticos —, os personagens começam em um ponto de altas dúvidas e confusões. A ideia da obra envolve colocar os dois para viver juntos e, aos poucos, mostrar como o relacionamento deles evolui para um ponto em que entendem o que significa, de fato, o amor e o que sentem um pelo outro.

Apesar de a ambientação ser um tanto específica, esse conceito de um primeiro amor puro, que vai ganhando forma, é algo bem conhecido e até, pode-se dizer, clichê. Porém, a trama consegue apresentá-los de forma bastante genuína e fazer com que os momentos que passam juntos tragam aquele sabor doce de um romance fofo, em que ambos se dedicam de verdade ao relacionamento.

Uma parte que ajuda nisso é a atuação dos personagens e a forma como eles são carismáticos. A trama é especialmente focada em Kanade, que frequentemente mostra um lado fofo, com sua tendência a cantar com frequência e ser bastante honesta com seus sentimentos.

Yuuto também é um rapaz dedicado, do tipo que quer fazer de tudo para que a garota consiga alcançar seus sonhos. Rapidamente, os dois desenvolvem uma química que torna os momentos em que interagem do tipo que, facilmente, arrancam sorrisos durante a leitura, devido à falta de malícia de ambos.

Uma canção que evita desafinar

Um dos poucos pontos fracos da experiência é a falta de voz para Yuuto. Embora seja uma característica comum em visual novels de romance que os protagonistas não tenham dublagem  — o que, muitas vezes, é atribuído a uma busca por self-insert  —, no caso específico de KANADE, muitos momentos da trama são enfraquecidos por isso. Em particular, em um dos pontos-chave da história, haveria uma canção, mas, sem voz para o personagem, temos apenas uma imagem abstrata de que isso aconteceu.

Outro ponto a se levar em consideração é que o jogo é relativamente curto para o gênero, não sendo necessário mais do que 10 horas para alcançar ambos os finais e ler a prequel, mesmo que o jogador tenha um ritmo mais lento de leitura. Infelizmente, isso faz com que algumas reviravoltas sejam um pouco corridas, especialmente no final, e deixa várias pontas em aberto sobre a ambientação e o futuro da história, que mereciam melhor desenvolvimento. 

Apesar desses pontos, a trama é satisfatória de forma geral e facilmente envolvente, contanto que a pessoa se interesse por romances hétero simples, com protagonista masculino. Vale destacar, ainda, que a história é totalmente linear, e a única escolha só é liberada após alcançar o final — já sendo possível continuar diretamente de lá para alcançar uma resolução melhor —, embora ambas sejam “finais bons”, de certa forma.

Em termos visuais, temos a panelinha já tradicional da Frontwing, com Yusano cuidando das personagens centrais da história, enquanto Akio Watanabe ilustra alguns secundários, como o velhote que é mentor de Yuuto. Há, ainda, artes SD (chibi), com imagens dos personagens ultrafofinhos para algumas situações, como uma espécie de “dança da vitória” feita por Kanade e Yuuto, que conta com uma espécie de “encantamento” verbalizado igualmente bobo e adorável.

A trilha sonora é bem utilizada, de forma geral, com especial destaque para a inserção de canções durante pontos específicos da trama. Temos tanto versões a cappella quanto acompanhadas por violão, sendo isso uma forma interessante de ressignificar os momentos em que elas aparecem na história.

Outro ponto que merece ser valorizado é a alta qualidade da tradução para o inglês. Eu, geralmente, sou bem chato com erros de escrita — até mesmo os de digitação mais simples — e só notei uma única frase, no jogo inteiro, que parece ter trocado o pronome possessivo. Willeke Bloem e a equipe de tradução da Frontwing fizeram um excelente trabalho em garantir que a versão em inglês fluísse bem e não deixasse grandes margens para reclamações.

Por fim, como já é esperado das obras da empresa, as ferramentas de qualidade de vida do jogo cobrem todas as necessidades. Temos skip, auto, um log interativo, boa quantidade de vagas de save, ajustes finos de volume separados por personagem. Há, até mesmo, a possibilidade de colocar uma outra língua como legenda secundária para poder, por exemplo, usar a obra como um auxílio aos estudos de japonês ou mandarim, no caso dos falantes de inglês.

Encontramos o amor em um lugar de desesperança

KANADE é uma visual novel que consegue fazer o que pretende com maestria. Trata-se de uma obra simples de romance, mas que aborda o conceito de primeiro amor com honestidade, em meio a um contexto curioso, que pode ser considerado “pós-apocalíptico”.

Prós

  • Personagens carismáticos, com atuação extremamente fofa;
  • Tradução para o inglês de altíssima qualidade;
  • Trilha sonora bem colocada, com insert songs em momentos oportunos da trama;
  • Boas ferramentas de qualidade de vida e opção de texto secundário.

Contras

  • A ausência de voz para o protagonista acaba enfraquecendo alguns momentos da trama, especialmente um evento-chave que envolve uma canção;
  • Algumas reviravoltas, especialmente no final, mereciam um pouco mais de desenvolvimento.

KANADE — PC — Nota: 8.5

Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela Frontwing

OpenCritic
Siga o Blast nas Redes Sociais
Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 4.0).