Análise: Herdling aposta na atmosfera e nas sensações, mas não passa de uma jornada pouco emotiva

Este título indie tem seus momentos de deslumbre, porém a superficialidade compromete a experiência.

em 21/08/2025

Em Herdling, um garoto guia um rebanho de criaturas em uma viagem repleta de perigos. O novo trabalho do estúdio Okomotive, conhecido pela série FAR, concentra-se na atmosfera sem diálogos para criar uma jornada focada em emoções. No entanto, apesar de alguns trechos deslumbrantes e envolventes, o título decepciona com jogabilidade rasa e um universo que falha em nos envolver.

Pastoreando criaturas por um mundo desolado

Em Herdling, acompanhamos um jovem que parte de uma cidade sombria e em ruínas para guiar um rebanho de criaturas chamadas Calicorns por vastas paisagens alpinas. Ao longo do caminho, o protagonista precisa proteger, cuidar e conduzir os animais por florestas enevoadas, planícies nevadas e caminhos perigosos, em uma travessia que mistura contemplação, desafio e vínculo emocional.

A jogabilidade reproduz o ato de pastorear: segurar um botão faz os Calicorns se moverem na direção contrária à do protagonista, com a possibilidade de fazê-los andar devagar ou parar completamente. Fora isso, há a debandada, um movimento no qual o bando corre em alta velocidade para atravessar obstáculos e longas distâncias. O rebanho cresce aos poucos com criaturas de diferentes formatos e personalidades.


Após trechos de viagem, o grupo descansa à beira da fogueira e se prepara para o próximo dia. Nestes momentos, alimentamos, limpamos e brincamos com os Calicorns, sendo possível também enfeitá-los com diferentes adornos. Não há combate; o foco está na exploração, nos puzzles ambientais suaves e no cuidado constante com o rebanho, em uma experiência intuitiva e emocional. 

Guiar o rebanho por cenários amplos é uma experiência realmente encantadora. Em certos trechos, caminhar por pradarias cheias de flores ou atravessar montanhas cobertas de neve transmite uma sensação de calma e grandiosidade difícil de encontrar em outros jogos. Há um cuidado especial na forma como a ambientação é montada, e isso dá força à travessia, mesmo quando o caminho é simples.


Esses momentos ficam ainda mais marcantes durante as sequências de debandada. Quando a câmera se afasta e a trilha sonora se intensifica, a impressão é de estar conduzindo algo poderoso, veloz e livre. É um contraste interessante com o ritmo mais contemplativo da exploração, e que ajuda a dar variedade à experiência. No geral, a ambientação é um dos maiores méritos do título: a diversidade de cenários, somada à música discreta, cria climas únicos. É verdade que de perto os modelos e animações parecem datados, mas funcionam bem o suficiente para sustentar a atmosfera.



Um conceito que não se sustenta

Herdling chama a atenção com sua ambientação; como jogo, porém, a experiência deixa bastante a desejar. As mecânicas são muito limitadas e raramente exigem algo do jogador além de seguir em frente. Existe até uma opção para o protagonista andar sozinho, o que já diz bastante sobre a simplicidade do que se tem a fazer. Quando surgem obstáculos, como espinhos ou buracos, eles são tão fáceis de evitar que parecem mais pausas ocasionais do que desafios reais. Até mesmo os poucos puzzles, como abrir portões com a ajuda dos Calicorns, não passam de tarefas triviais que acabam interrompendo o ritmo ao invés de trazer algo novo.

A escolha de contar a história sem falas ou textos poderia ser um ponto forte, mas aqui se mostra um problema. Não há pistas suficientes para despertar a curiosidade sobre o mundo ou sobre o protagonista. As perguntas ficam todas em aberto: quem é esse personagem, qual é a sua motivação, o que são essas criaturas, o que levou esse mundo a se tornar tão desolado? A sensação é de que o jogo escondeu demais, a ponto de deixar pouco para o jogador se envolver.


Outro aspecto frustrante é a relação com os Calicorns. Em teoria, eles deveriam ser a base de um vínculo emocional, mas isso nunca acontece de forma convincente. O rebanho é limitado a dez criaturas e, quando encontramos uma nova, ela simplesmente substitui outra. As interações — como limpar ou brincar com elas — soam superficiais, sem impacto real. Mesmo os raros momentos em que há risco para a vida delas carecem de peso, já que é fácil demais evitar qualquer perda.

No fim das contas, esses problemas comprometeram minha conexão com o universo de Herdling. A promessa de uma jornada emocional se perdeu no excesso de simplicidade e falta de profundidade. Quando cheguei ao final, após cerca de três horas de jornada, percebi que pouco me importava com o destino dos Calicorns ou do protagonista, e isso deixou a experiência menos significativa do que poderia ter sido.



Uma viagem de poucos momentos

Herdling encanta quando ambientação e música se combinam para transmitir calma e liberdade em uma jornada única sobre pastorear criaturas, mas esses acertos não sustentam a experiência. A jogabilidade é rasa e pouco variada, com obstáculos e puzzles simplistas que mais atrapalham do que acrescentam. 

A intenção é o foco na ambientação e nas emoções, porém a falta de elementos narrativos significativos e a fraca conexão com os Calicorns dificultam o envolvimento. No fim, o jogo entrega belas paisagens e instantes memoráveis, mas sem a profundidade necessária para tornar a jornada memorável.

Prós

  • Os cenários são variados e transmitem sensações de calma e grandiosidade;
  • As sequências de debandada criam momentos de liberdade e velocidade marcantes.

Contras

  • A jogabilidade é muito limitada e pouco desafiadora;
  • A narrativa é vaga e não fornece elementos suficientes para envolver o jogador;
  • As interações com os Calicorns são superficiais e sem impacto emocional.
Herdling — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Panic
OpenCritic
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Farley Santos
é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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