Análise: Metal Gear Solid Delta: Snake Eater nos leva de volta a um dos maiores jogos da história

O lendário jogo de Hideo Kojima, que redefiniu o gênero stealth na era PS2, ganha nova vida em um competente remake.

em 22/08/2025
Quando Metal Gear Solid 3: Snake Eater foi lançado, em novembro de 2004, para o PlayStation 2, a indústria dos games foi impactada por uma das obras mais marcantes da história. Hideo Kojima, idealizador e diretor do jogo, consolidou-se como um dos grandes nomes do setor, mostrando que os videogames tinham condições de proporcionar uma experiência cinematográfica, sem abrir mão de uma jogabilidade inovadora e envolvente.

Com o passar dos anos, Snake Eater ganhou notoriedade e novas versões: Subsistence, uma edição expandida com modos adicionais e recursos experimentais — como a câmera livre e a primeira experiência online da franquia —; Snake Eater 3D, lançado para o Nintendo 3DS, que explorava a tecnologia 3D do portátil; e, mais recentemente, a versão remasterizada presente em Metal Gear Solid: Master Collection Vol. 1, ao lado dos dois primeiros títulos da série e de outros da franquia.

Anunciado durante a edição do PlayStation Showcase, em maio de 2023, Metal Gear Solid Delta: Snake Eater chega em 2025 como a versão renovada, refeita e, possivelmente, definitiva de uma das obras mais emblemáticas dos videogames. Nesta análise, vamos conferir o que o título oferece tanto para veteranos que já conhecem a origem de Big Boss quanto para novos jogadores, que terão a oportunidade de vivenciar esta peça essencial do legado de Hideo Kojima.

O nascimento de uma lenda

Ambientado na década de 1960, Snake Eater é uma prequela em que assumimos o papel de Naked Snake, um agente da CIA enviado para resgatar Nikolai Stepanovich Sokolov, cientista responsável por um projeto capaz de mudar os rumos da Guerra Fria. Ao encontrá-lo, Snake descobre que ele trabalha em uma arma devastadora: o Shagohod.

Durante a missão, Snake é traído por sua mentora, The Boss, que deserta para a União Soviética e provoca uma crise capaz de desencadear uma nova guerra mundial. De volta ao território inimigo, Snake recebe a missão de sabotar o Shagohod e eliminar sua antiga mestra, a fim de provar que os Estados Unidos não foram responsáveis pelo incidente causado pelo coronel Yevgeny Borisovitch Volgin — militar que pretende concluir o projeto e usá-lo como ferramenta de dominação global.

A tarefa, no entanto, está longe de ser simples. Com o apoio de alguns aliados, Snake precisa sobreviver aos perigos da selva, utilizando técnicas de camuflagem e sobrevivência, enquanto enfrenta a unidade Cobra — um grupo de elite treinado por The Boss, disposto a tudo para impedir o avanço do herói.

A jornada é marcada por reviravoltas e momentos memoráveis, culminando em um confronto épico entre mestre e aprendiz. Nesse embate, Snake não apenas herda o título de sua mentora, mas também se torna a peça central de um legado destinado a perdurar por décadas — e a redefinir os rumos da história.

Bem-vindo (de volta) à selva

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater chega como uma releitura do icônico jogo do PlayStation 2, trazendo gráficos atualizados, modos renovados e uma série de bônus para os fãs de longa data da franquia da Konami.

Quando chegou ao PlayStation 2, em novembro de 2004, Metal Gear Solid 3: Snake Eater revolucionou não só a série, mas todo o gênero stealth. Em vez dos cenários urbanos e tecnológicos que marcaram os dois primeiros títulos, lançados em 1998 e 2001, a aventura mergulhou o jogador na selva soviética dos anos 1960, colocando-o no controle de Naked Snake em sua missão mais humana até então.

Snake Eater apresentou sistemas inovadores de sobrevivência — como caçar animais, gerenciar estamina, tratar ferimentos manualmente e usar camuflagem. Somados ao CQC (Close Quarters Combat), esses elementos tornaram o stealth mais realista e imersivo, renovando a jogabilidade em relação aos capítulos anteriores.

A trama, centrada no conflito entre Snake e sua mentora, The Boss, entregou uma das narrativas mais emocionantes dos videogames, com um clímax ainda lembrado como um dos momentos mais impactantes da série.

Apesar da inovação, o jogo original não era isento de falhas. O principal problema era a câmera fixa, herdada de MGS2, que limitava a visão na selva e tornava a experiência frustrante para novatos. Mesmo assim, a criatividade das batalhas contra chefes — especialmente The End e The Boss —, somada à icônica trilha sonora de Norihiko Hibino e Harry Gregson-Williams, com destaque para o tema Snake Eater, garantiu ao título o status de obra-prima.

Com o lançamento de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater, a Konami apostou em recriar fielmente o clássico, mas com visual modernizado graças à Unreal Engine 5, dublagens remasterizadas com o elenco original e correções em seu maior problema técnico: a câmera. Agora, o jogador pode escolher entre dois estilos — Original ou Novo. A mudança não apenas atualiza a experiência, mas também altera a forma de jogar: situações que tiravam proveito da perspectiva fixa podem perder eficácia sob a nova ótica, exigindo adaptação e criatividade do jogador.

O remake mantém enredo, diálogos e direção de cena intactos, garantindo autenticidade, mas atualiza a experiência para uma geração acostumada a controles mais responsivos e gráficos fotorrealistas. Para quem jogou a versão de 2004 — como eu —, a sensação é de familiaridade misturada à novidade, especialmente pelo simples fato de experimentar a aventura sob uma nova perspectiva.

Do ponto de vista técnico, melhorias de qualidade de vida tornam a jogabilidade mais fluida. Atalhos para o Survival Viewer e as combinações de camuflagem para uniforme e rosto, além do acesso rápido ao rádio, permitem ajustes em segundos, garantindo praticidade sem comprometer a imersão. O salvamento automático é outro detalhe sutil — e muito bem-vindo. Ainda é possível salvar o jogo da forma tradicional, mantendo a autenticidade dessa dinâmica.

Comparando diretamente as duas versões: o original de 2004 foi um marco do stealth, ousado em mecânicas e inesquecível em narrativa, mesmo com limitações do PS2. O remake preserva a essência, mas finalmente entrega fluidez, gráficos e câmera no padrão que a atual geração exige.

Entre os modos extras, o clássico Snake vs. Macaco, inspirado em Ape Escape, retorna. Nele, Snake deve capturar macacos em cenários da campanha principal, no menor tempo possível, utilizando granadas imobilizadoras e uma pistola adaptada para atordoá-los.

Um modo realmente inédito também foi anunciado: Fox Hunt, experiência online competitiva baseada em camuflagem e sobrevivência. Embora não esteja disponível no lançamento, a Konami prometeu sua chegada ainda em 2025, em data a ser confirmada.

MGS Delta conta ainda com os típicos títulos — prêmios obtidos ao finalizar o jogo sob diversas circunstâncias. São camuflagens exclusivas, itens e conteúdo extra para os aficionados por Metal Gear testarem suas habilidades ao jogar a campanha mais de uma vez. Os fãs de Snake Eater vão ter muito o que aproveitar e descobrir.

O remake também tem como destaque o fato de trazer o jogo com legendas e menus devidamente localizados para o português. Isso não é uma novidade na franquia, visto que Metal Gear Solid V: Ground Zeroes e Metal Gear Solid V: The Phantom Pain já contavam com esse suporte. É a primeira vez que Snake Eater recebe uma tradução oficial para nosso idioma — algo que a Konami ficou devendo no lançamento do jogo na Master Collection Vol.1.

Snake Eater, em 2025, ainda é relevante?

É impressionante como Snake Eater continua atual, especialmente ao reviver seus acontecimentos no remake. A combinação de infiltração e sobrevivência ecoa em jogos modernos, como The Last of Us, Ghost of Tsushima e até Metal Gear Solid V, último título da série, lançado em 2015.

Com o remake, novas gerações terão contato com a aventura que consolidou Hideo Kojima como um dos maiores criadores da indústria — mesmo que, ironicamente, ele não esteja envolvido nesta versão e já tenha declarado que não pretende jogá-la.


Mas a questão permanece: com a versão remasterizada disponível em praticamente todas as plataformas atuais, o remake de Snake Eater ainda é relevante a ponto de merecer tanta atenção? A resposta é um honesto “sim”.

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater chega não apenas como um produto de entretenimento, mas como um capítulo essencial da história dos videogames. Sua importância é tamanha que, nada mais justo do que oferecer a ele o tratamento que merece, reafirmando, para veteranos e novos jogadores, por que é tão cultuado e aclamado.

Snake Eater é um marco nos videogames. Em um cenário marcado por uma crise criativa — especialmente entre os estúdios de jogos AAA —, ter de volta um título desse porte, oriundo de um período em que produções desse nível realmente justificavam o tempo e investimento,  é um lembrete do que torna um jogo verdadeiramente memorável.

“Kept you waiting, huh?”

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é mais do que um simples remake: é uma celebração de um dos capítulos mais marcantes da história dos videogames. Ao preservar fielmente a narrativa original e, ao mesmo tempo, atualizar gráficos, câmera e jogabilidade para os padrões atuais, a Konami entrega uma experiência que respeita o legado e o apresenta de forma acessível nesta nova geração.

Para os veteranos, revisitar a jornada de Naked Snake com um visual moderno é uma experiência nostálgica e, ao mesmo tempo, renovadora. Para quem nunca jogou, trata-se de uma oportunidade rara de conhecer uma obra que ajudou a redefinir o gênero stealth e que continua influente até hoje.

Apesar da ausência de Hideo Kojima no projeto e da falta de novidades realmente ousadas em termos de conteúdo, o remake cumpre seu papel: relembrar por que Snake Eater é considerado um clássico absoluto. Em meio a uma indústria cada vez mais dependente de fórmulas seguras, ter acesso a uma obra-prima recriada com o cuidado que merece é motivo de celebração.

No fim, Metal Gear Solid Delta: Snake Eater não apenas vale o tempo investido — ele reafirma por que, duas décadas depois, ainda falamos sobre essa épica história de espionagem, sacrifício e legado.

Prós

  • Fidelidade ao material original respeitada, mantendo enredo, diálogos e direção de cena intactos;
  • Visual moderno, recriado na Unreal Engine 5, com gráficos fotorrealistas;
  • Liberdade entre os estilos Original e Novo, corrigindo a maior limitação do jogo de PS2: a câmera;
  • Jogabilidade mais fluida, graças a melhorias de qualidade de vida, como atalhos de menu, camuflagem rápida, acesso fácil ao rádio e salvamento automático;
  • Trilha sonora e ambientação preservadas, mantendo a identidade emocional do jogo;
  • Oportunidade de apresentar um clássico para quem nunca jogou a versão original;
  • Retorno de modos extras, como Snake vs. Macaco e outros conteúdos complementares.

Contras

  • Modo online adiado: Fox Hunt indisponível no lançamento;
  • Algumas situações pensadas para a câmera fixa perdem intensidade ou demandam novas abordagens com a visão livre;
  • Para jogadores que esperam algo totalmente novo, pode soar mais como atualização do que reinvenção.
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater — PC/PS5/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami
OpenCritic
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Alexandre Galvão
Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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