Anunciado há exatamente um ano, durante a abertura da gamescom de 2024, Mafia: The Old Country é o mais novo episódio da aclamada série inspirada no crime organizado e em suas influências ao longo das décadas. Nesta nova entrada, viajamos para a antiga região da Sicília, no sul da Itália, para conhecer as origens de uma organização que valoriza a lealdade, a honestidade e a honra à família, em troca de favores e dinheiro.
Enzo, um homem com um sonho
Estamos em 1904 para acompanhar a história de Enzo Favara, um jovem que trabalha exaustivamente em uma mina de enxofre desde a infância, quando foi vendido e condenado a pagar uma dívida interminável. Por anos, enfrentou turnos pesados de trabalho forçado, alimentando o sonho de se libertar e recomeçar a vida na América.
Esse sonho, porém, é abalado por um tremor de terra que provoca um acidente mortal nas minas, tirando a vida de vários trabalhadores, incluindo a de seu único amigo. Enzo se rebela e foge, sendo caçado pelos homens de Ruggero Spadaro, dono do empreendimento. Inesperadamente, é salvo pelos capangas de Don Bernardo Torrisi, um dos homens mais respeitados — e temidos — da região.
A pedido do próprio Don, Enzo é levado à propriedade da família e tem sua segurança garantida em troca de serviços variados: limpar estábulos, consertar estruturas e realizar entregas. Sob a supervisão de Luca Trapani, homem de confiança de Torrisi, ele começa a se envolver nos negócios da família, conquistando a confiança do patriarca. Com o passar dos anos, Enzo consegue adentrar os círculos mais íntimos do clã Torrisi.
A trama de The Old Country percorre diferentes momentos da vida do protagonista, mostrando sua ascensão no crime organizado e sua gradual aceitação de que os negócios da família também passam a ser seus. É uma narrativa dramática e envolvente sobre ambição, amores, perdas e o verdadeiro valor da lealdade, comprovando que a Hangar 13 mantém sua força ao contar boas histórias.
Narrativamente, Mafia: The Old Country é um dos pontos altos da experiência. Arrisco dizer que se equipara ao primeiro Mafia, que ganhou uma nova versão em 2020, nesse aspecto.
No entanto, em termos de jogabilidade, o jogo não impressiona. Assim como seus antecessores, o foco maior está no roteiro e na apresentação, o que deixa o gameplay pouco inovador tanto para a franquia quanto para o gênero.
Controlando Enzo, a proposta inicial é mergulhar na narrativa e seguir o roteiro. As missões variam entre tarefas simples, como entregar objetos ou encontrar personagens, e ações mais intensas, como infiltrar-se sem ser detectado ou perseguir alvos.
O combate é básico. Enzo pode usar pistolas, revólveres, fuzis, espingardas e participar de duelos de facas contra personagens específicos. Essa segunda dinâmica até acrescenta variedade, mas não se torna memorável — chegando, em certos momentos, a soar repetitiva.
Ao final de cada um dos 14 capítulos, é possível rejogá-los para buscar colecionáveis e explorar mais do mapa. O ideal, no entanto, é concluir a campanha principal antes de se dedicar a atividades secundárias, como as relacionadas ao sistema de conquistas e troféus. A Hangar 13 já anunciou a inclusão futura de um modo livre, que deve facilitar a vida de quem gosta de caçar troféus. Até lá, a melhor experiência vem da progressão natural da história.
Com uma apresentação digna de cinema, Mafia: The Old Country conquista quem busca uma boa narrativa. O roteiro é primoroso, a ambientação é convincente e as atuações são excelentes, com destaque para a possibilidade de jogar em siciliano, o que adiciona autenticidade.
O nível de detalhe dos cenários e personagens impressiona, resultado do uso da Unreal Engine 5. Embora exija um hardware robusto no PC, no PS5 — onde testei — o jogo entrega ótima performance, seja em modo desempenho ou qualidade.
Como um bom vinho, Mafia: The Old Country deve ser apreciado por quem valoriza uma boa história. Já aqueles que priorizam a jogabilidade podem achar o sabor menos marcante, mas ainda agradável, graças ao ritmo bem conduzido que mantém a experiência longe do tédio. A proposta é simples, mas suficiente para sustentar o que o jogo tem de melhor: sua narrativa.
É sobre família e uma boa história
Mafia: The Old Country é uma experiência que se destaca mais pelo que conta do que pelo que oferece em termos de jogabilidade. A Hangar 13 entrega uma narrativa envolvente, rica em detalhes e carregada de emoção, que mantém viva a essência da franquia. O jogo pode não revolucionar o gênero nem oferecer mecânicas inovadoras, mas seu roteiro, ambientação e qualidade de produção compensam essas limitações. Para quem busca uma boa história neste longevo universo do crime organizado, esta é uma obra que vale a pena ser apreciada.
Prós
- Roteiro envolvente e bem escrito, comparável ao do primeiro Mafia;
- Ambientação autêntica e rica em detalhes históricos;
- Atuações marcantes, com opção de dublagem em siciliano;
- Apresentação cinematográfica que eleva a narrativa.
Contras
- Jogabilidade pouco inovadora, sem novidades relevantes;
- Sistema de combate básico e repetitivo em alguns momentos;
- Missões secundárias escassas e pouco criativas;
- Ausência inicial de modo livre, prometido apenas em atualização futura.
Mafia: The Old Country — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela 2K










