Com apenas dez pessoas listadas nos créditos, Boxville 2 é um point and click da desenvolvedora ucraniana Triomatica Games que esbanja carisma. Essa qualidade vem do visual totalmente pintado à mão, da ambientação em uma cidade de papelão em que a população é composta de latinhas humanoides e de toda a narrativa se desenrolar sob a completa ausência de palavras.
Maquete de papelão, arame e cola
Desde o século XX, as metrópoles ficaram cada vez mais verticais e parecidas com um amontoado de caixas empilhadas. Não sei se a Triomatica pensou nesse paralelo quando criou seu tema que deu nome ao primeiro Boxville (literalmente, “cidade de caixa”). Talvez tenha sido apenas uma questão de reproduzir em um jogo o interesse criativo das maquetes artesanais.
O visual é feito digitalmente, como podemos ver no canal da desenvolvedora no YouTube, mas passa uma forte impressão de algo concreto. A sensação é de algo que foi primeiro pintado em papel com lápis de cor ou pastel, com uma gostosa texturização que combina muito com o próprio enfoque voltado a uma miniatura manufaturada.
Já as animações simples combinam com a falta de pressa que está na essência do gênero point and click. O design de som sutil adiciona uma camada a mais de imersiva tranquilidade, completando o pacote de uma obra relaxante, agradável de olhar e com enigmas desafiadores que respeitam o ritmo de cada pessoa.
A propósito, não é necessário ter jogado o primeiro título, uma vez que eles são completamente independentes entre si e trazem diferentes protagonistas, mesmo que aconteçam na mesma cidade, como mostra uma certa referência.
Não espere muito da história, é só o básico: duas latinhas alinhavam um grande foguete para o show de pirotecnia, quando ele foi acionado e acabou levando consigo uma das trabalhadoras, indo parar em uma ilha no horizonte. A campanha de três horas consiste em perambular pela cidade até encontrar uma maneira de chegar à ilha para resgatar a coitada da lata.
Quebrando a cabeça de lata
Como uma aventura de quebra-cabeças, Boxville 2 segue as convenções: para progredir, é preciso interagir com elementos do cenário, pegar itens e usá-los nos lugares corretos. Um destaque é a variedade de enigmas entremeados aos puzzles de objetos, os quais incluem batalha naval, Torre de Hanói, cálculos ilustrados, formar figuras e vários outros.
Algo comum no gênero é que haja momentos de tentativa e erro, quando a pessoa que joga se vê clicando em vários lugares em busca de mais pontos de interação, indo e vindo pelos ambientes e testando cada item carregado no inventário. Aqui não é diferente, mas sempre há um foco que nos deixa coçando a cabeça com apenas alguns locais e itens por vez, sem acumulá-los muito.
A maioria dos quebra-cabeças são bastante intuitivos, porém, topei com uns dois ou três que foram solucionados mais na base da persistência do que do raciocínio, devido à falta de clareza na lógica pretendida. Nesses instantes, senti falta de um sistema de dicas, por mais simples que fosse.
Joguei junto com meus filhos, que conseguiram dar opiniões e chegar a algumas conclusões corretas antes de mim. No terço final, minha esposa se uniu a nós, mais uma vez confirmando meu pensamento de que esse tipo de jogo de puzzle/raciocínio lógico/investigação são ótimos para curtir em família.
Rachaduras no acabamento
Tive dois problemas com Boxville 2. O primeiro foi o glitch de não receber nenhum troféu no PS5. Dá para ver que outras pessoas conseguiram, então o erro deve ser pontual. Ok, para mim, troféus são um ponto externo ao jogo em si, no entanto, a questão ainda evidencia uma falha.
O outro foi, de certa forma, paradoxalmente mais banal e mais importante: ao finalizar o jogo, fiquei preso na tela de créditos e não consegui fechá-la para voltar ao menu principal. Tive que fechar o jogo e abri-lo outra vez, o que me levou direto ao início de uma nova campanha.
É claro que carregar o último salvamento, já no fim de tudo, seria fútil. O peso disto é que evidencia a falta de dois elementos de qualidade de vida: seleção de capítulos ou diferentes arquivos de salvamento manual. Qualquer desses recursos seria suficiente para podermos revisitar partes diferentes da aventura; para se divertir em um puzzle específico novamente ou deixar outra pessoa tentar decifrá-lo também. A única opção é refazer tudo do começo.
Uma adorável maquete para decifrar
Boxville 2 é uma carismática, curta e relaxante aventura de point and click para ativar os neurônios e se divertir por uma tarde. O belo visual com estilo artesanal e a variedade de quebra-cabeças são os pontos altos da experiência, mas senti falta de aspectos de qualidade de vida, especialmente de seleção de capítulos e sistema de dicas.
Prós
- Visual artesanal adorável com estilo de lápis de cor e o charme de uma cidade de maquete de papelão povoada por latinhas;
- Comunicação eficientemente estabelecida sem palavras;
- Em sua maioria, os enigmas são intuitivos, inteligentes e variados, contando com muitos minigames.
Contras
- Não consegue escapar à armadilha dos point and clicks de ter momentos contraintuitivos e até obtusos, mesmo que sejam a exceção;
- Não há sistema de dicas;
- Não há seleção de capítulos após o fim da campanha;
- Tive bug de troféus no PS5.
Boxville 2 — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch/Android/iOS — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Thomaz Farias
Análise produzida com cópia digital cedida pela Triomatica Games










