Onimusha: o legado do samurai contra os demônios e o que esperar do retorno em 2026

O clássico da Capcom no PS2 marcou seu período com ação, terror e mitologia japonesa e, agora, uma nova geração se prepara para empunhar a espada.



No começo dos anos 2000, a indústria dos games vivia uma das suas fases mais vibrantes. O PlayStation 2 dominava o mercado como o console mais vendido da história, e sua biblioteca de jogos começava a se consolidar com títulos que marcariam a época. Em meio ao sucesso de franquias como Metal Gear Solid, Final Fantasy, Devil May Cry e Resident Evil, a Capcom decidiu apostar em algo novo, mas que trazia consigo o DNA de um de seus maiores sucessos: nascia Onimusha.


Inspirado diretamente pelo sistema de jogabilidade de Resident Evil, com câmeras fixas, puzzles e uma ambientação tensa, Onimusha: Warlords foi pensado inicialmente para o primeiro PlayStation como um "Resident Evil com samurais". No entanto, ao migrar para o PS2, o projeto ganhou uma nova dimensão: gráficos mais detalhados, ambientação histórica do Japão feudal, elementos sobrenaturais e um sistema de combate em tempo real que o tornaram uma das primeiras experiências de ação realmente cinematográficas daquela geração.

Com essa base sólida, a série rapidamente se expandiu em continuações cada vez mais ambiciosas, apresentando novos protagonistas, evoluindo o sistema de combate e até integrando elementos de RPG e captura de movimento com atores de cinema. No auge de sua popularidade, Onimusha era considerada uma das principais franquias da Capcom, ao lado de Resident Evil e Street Fighter.

Hoje, mais de vinte anos depois do primeiro título, e após um longo hiato sem lançamentos inéditos, a franquia se prepara para retornar e pronta para provar que seu legado continua vivo. Em um cenário onde o interesse por cultura japonesa, jogos de samurai e narrativas históricas está mais forte do que nunca, o retorno dessa saga representa não apenas um resgate de nostalgia, mas a chance de reintroduzir ao público uma das experiências mais icônicas da era de ouro dos videogames.


Os lordes da guerra

Lançado em 2001, Onimusha: Warlords foi um dos primeiros grandes sucessos do PlayStation 2, marcando a estreia de uma franquia que unia ação, horror e história japonesa como nenhuma outra. Na pele do samurai Samanosuke Akechi, o jogador se envolvia numa trama misteriosa começada com o sequestro da princesa Yuki, sua prima, e o improvável retorno de Nobunaga Oda, o temido senhor da guerra que Samanosuke havia visto cair em combate.

O enredo, que misturava eventos históricos com elementos sobrenaturais, servia de pano de fundo para uma jornada sombria, no qual demônios ancestrais, os Genma, manipulavam os bastidores do poder feudal. A proposta ousada, somada à ambientação cinematográfica, aos quebra-cabeças e ao combate ágil com espadas e magias elementais, conquistou rapidamente o público e a crítica, garantindo ao título o status de clássico e colocando a Capcom entre os estúdios mais inovadores da época

Onimusha: Warlords trouxe inovações notáveis para o gênero de ação e aventura. O sistema de absorção de almas, que permitia recuperar vida, energia mágica ou evoluir armas, adicionava uma camada estratégica ao combate em tempo real, exigindo posicionamento e atenção mesmo após eliminar inimigos. As espadas elementares, cada uma com combos e magias específicas, incentivavam o jogador a alternar estilos de luta conforme os desafios.

Além disso, a presença de pequenos enigmas ambientais e momentos controlando uma segunda personagem, a ninja Kaede, quebravam o ritmo da ação com doses equilibradas de exploração e lógica. Tudo isso, aliado a uma câmera fixa para enfatizar a atmosfera de tensão, consolidou Warlords como uma experiência intensa e cinematográfica.

O destino do samurai

Já no ano seguinte, 2002, Onimusha 2: Samurai’s Destiny deu passos ousados para além da fórmula estabelecida pelo primeiro jogo. Substituindo Samanosuke por Jubei Yagyu. A sequência se aprofundava no conflito contra os Genma e no renascimento de Nobunaga Oda como uma figura demoníaca. A grande inovação narrativa veio com o sistema de afinidade entre personagens: ao interagir com diferentes aliados e presenteá-los com itens específicos, o jogador moldava o curso da história e determinava quais companheiros lutariam ao seu lado. Isso introduziu uma camada de estratégia e rejogabilidade rara em títulos do gênero na época.

No gameplay, Samurai’s Destiny manteve o combate em tempo real com armas brancas e magias, mas trouxe melhorias notáveis: uma movimentação mais fluida, combos mais variados e um sistema de progressão de armas mais aprofundado. O jogo também alternava o controle entre Jubei e outros personagens em momentos pontuais, oferecendo novas perspectivas de exploração e combate. Os cenários, agora mais amplos e diversificados, permitiam um ritmo menos linear, aproximando a experiência de um RPG de ação com múltiplas ramificações. Com isso, Onimusha 2 não só consolidou a franquia como um dos pilares do PlayStation 2, como também sinalizou o desejo da Capcom de expandir as fronteiras narrativas e mecânicas da série.

O cerco demoníaco

Onimusha 3: Demon Siege, de 2004, marcou uma virada épica na franquia e para muitos, como eu, foi uma verdadeira febre da infância. Era o tipo de jogo que se gravava na memória: pelas batalhas contra hordas demoníacas, pelos enigmas sombrios, e pelo simples prazer de desferir combos com Samanosuke em cenários de época.

Porém, a grande novidade veio com a inesperada viagem no tempo. A história alternava entre o Japão feudal e uma Paris contemporânea assolada por criaturas Genma, com o jogador assumindo também o controle de Jacques Blanc, personagem interpretado pelo ator francês Jean Reno. Era fascinante ver um astro de Hollywood dentro de um jogo japonês e, ainda mais, saber que sua dublagem e captura facial haviam sido feitas de forma autêntica.

No campo do gameplay, Demon Siege abandonou os cenários pré-renderizados dos anteriores em favor de ambientes totalmente tridimensionais, dando mais liberdade e fluidez ao combate. A transição entre os protagonistas não era só estética: Samanosuke usava espadas elementais e habilidades místicas, enquanto Jacques lutava com uma arma em forma de chicote energético e dependia mais de força bruta.

A obra também introduziu puzzles que exigiam a colaboração entre os dois personagens, mesmo em épocas distintas, realizavam-se conexões criativas entre o passado e o presente. Tudo isso com uma trilha sonora destacável e cenas cinematográficas que, para a época, eram absolutamente deslumbrantes. Onimusha 3 foi amplamente considerado o auge da franquia: um espetáculo de ação, emoção e técnica, que deixava a TV da sala com aquele brilho especial das noites de verão e controle na mão.


Nascimento dos sonhos

Em 2006, veio Onimusha: Dawn of Dreams, uma espécie de renascimento silencioso da franquia e, na visão de muitos fãs, um tesouro subestimado. Diferente dos títulos anteriores, que seguiam a narrativa em torno de Nobunaga e Samanosuke, Dawn of Dreams apostou em uma nova história, ambientada alguns anos após a queda do shogun demoníaco. No controle de Soki, o “Oni Azul”, mergulhávamos em uma jornada mais expansiva, épica e fantasiosa, enfrentando uma nova ameaça que tentava mergulhar o Japão em escuridão novamente. Foi um jogo que marcou infância e adolescência: longas madrugadas tentando passar das fases, descobrir segredos e fortalecer os aliados.

O título trouxe mudanças significativas. Pela primeira vez, podíamos controlar diferentes personagens e alternar entre eles em tempo real, cada um com estilos e habilidades únicas, o que tornava o combate mais tático e dinâmico. Também foi introduzido um sistema de evolução mais robusto, que permitia customizar golpes e melhorar atributos específicos.

Os gráficos gráficos apresentavam o melhor do PS2, com cenários amplos, chefes colossais e sequências de ação espetaculares. Além disso, o foco na construção de vínculos entre os personagens trouxe um toque mais emocional à narrativa, algo que se destacava entre os jogos de ação da época.

Apesar de todo esse capricho, Dawn of Dreams não teve o mesmo impacto comercial dos anteriores. Lançado em um momento em que o PS2 já começava a dividir espaço com a nova geração de consoles, o jogo acabou ofuscado pelo avanço tecnológico iminente e por mudanças no mercado. Ainda assim, para quem o jogou, permanece como uma das joias da geração, uma produção que combinava intensidade, emoção e estilo como poucos. Uma obra verdadeiramente épica, que deixou saudades.


Spin Offs

Apesar do foco principal ter sido a saga numerada, Onimusha também recebeu alguns spin-offs que tentaram expandir sua fórmula. Onimusha Blade Warriors trouxe um estilo de luta mais arcade, semelhante a Super Smash Bros., reunindo diversos personagens da franquia em combates multiplayer frenéticos. Já Onimusha Tactics, do Game Boy Advance, adotou o formato de RPG tático, explorando o universo da série com uma jogabilidade totalmente diferente. Embora não tenham alcançado o mesmo sucesso da série principal, esses derivados demonstravam a versatilidade do universo Onimusha e o carinho que a Capcom tinha pela propriedade.


A música por trás da lenda samurai

Além dos duelos contra demônios e da ambientação histórica fantástica, um dos elementos mais memoráveis da franquia sempre foi sua trilha sonora. Composições orquestradas, carregadas de tensão e melancolia, ajudavam a construir o peso emocional da narrativa e o senso constante de urgência. Em Warlords, os temas combinavam instrumentos tradicionais japoneses com harmonias sombrias. A partir do segundo jogo, a trilha sonora passou a explorar ainda mais atmosferas épicas. E em Dawn of Dreams, alcançou um nível cinematográfico, acompanhando batalhas grandiosas e momentos dramáticos com intensidade e beleza raras. A música sempre foi parte essencial da experiência de se perder no mundo de Onimusha.


Uma nova encarnação do legado samurai

Em 2023, Onimusha ganhou uma nova forma com a série animada da Netflix, dirigida por Takashi Miike, conhecido por sua abordagem estilizada e visceral. A adaptação optou por uma narrativa original inspirada no espírito da franquia, mantendo o foco no embate entre humanos e demônios em uma era de guerras e sombras. A animação apostou em um visual que mescla técnicas 2D e 3D, e trouxe uma atmosfera sombria, repleta de ação e contemplação, ainda que com algumas divisões entre fãs quanto ao estilo visual e ritmo narrativo. Mesmo com as críticas, a produção reacendeu a conversa em torno da marca Onimusha e abriu caminho para novos projetos. Agora, com o anúncio de Onimusha: Way of the Sword, os olhos se voltam novamente para o futuro da série, na esperança de que haja um resgate do melhor dos elementos clássicos enquanto forja uma nova trajetória para o lendário legado do samurai.




O futuro caminho da espada

Onimusha: Way of the Sword foi oficialmente confirmado durante os The Game Awards 2024, com lançamento global previsto para 2026, nas plataformas PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC (Steam). O jogo se passa no início do período Edo, em uma sombria versão de Kyoto tomada pela "Malícia", onde o protagonista Miyamoto Musashi, modelado no icônico ator Toshiro Mifune, empunha a lendária Manopla Oni para combater os demônios Genma

A jogabilidade foi aprimorada com o motor gráfico RE Engine, garantindo combates rápidos, brutais e impactantes no aspecto visual: os inimigos podem ser desmembrados, e o protagonista usa o ambiente, como tapetes e mesas, para obter vantagem tática. O sistema inclui absorção de almas, parries que exaurem a stamina dos chefes, e execuções cinematográficas por parte de localizada.

A Capcom garantiu que o título não será um mundo aberto nem um soulslike e se voltará para uma característica/apresentação mais direta, tensa e acessível, com duração estimada em cerca de 20 horas de campanha linear e focada na narrativa. A atmosfera, personagens e combate remetem à essência da série, trazendo tanto fãs antigos quanto novos jogadores à tona com uma experiência de ação samurai refinada.

O legado da espada

Onimusha foi pioneiro ao unir a atmosfera do Japão feudal com ação cinematográfica e elementos de terror sobrenatural, criando uma identidade única que influenciaria diversos títulos nas décadas seguintes. Obras como Sekiro: Shadows Die Twice, Nioh e Ghost of Tsushima carregam ecos dessa proposta original, seja na ambientação, no ritmo dos combates ou na construção de um herói solitário em meio ao caos. O retorno da franquia não representa apenas um aceno nostálgico aos fãs antigos, mas também uma chance de relembrar a relevância de um estilo narrativo e visual que a própria Capcom ajudou a moldar.

Com Way of the Sword, a Capcom resgata uma de suas franquias mais queridas, ao mesmo tempo que reafirma sua importância no panorama dos games. Onimusha sempre esteve à frente do seu tempo, e seu legado pode ser sentido em títulos modernos que exploram o Japão feudal sob uma ótica sombria e estilizada. Agora, mais do que nunca, sua volta simboliza um reencontro entre passado e futuro, uma chance de demonstrar a novos jogadores a força de um clássico que moldou o gênero de ação e deixou marcas profundas na memória de uma geração. Se o futuro realmente pertence aos que conhecem seu passado, Onimusha está pronto para empunhar sua espada mais uma vez.


Revisão: Thomaz Farias
Siga o Blast nas Redes Sociais
Vincenzo Augusto Zandoná
Apaixonado por games desde que nasci, gosto de passar horas tagarelando sobre, principalmente Metal Gear! Ah e também faço café...
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).