Quando um jogo simples e popular como Paciência ganha toques de misticismo, surge Occlude. Desenvolvido pela Tributary Games, o título promete intrigar e desafiar até os jogadores de cartas mais experientes em uma experiência que pode ser descrita como, no mínimo, curiosa.
Cartas e ocultismo
Occlude coloca o jogador diante de uma mesa para disputar uma partida de cartas que é familiar, mas que carrega nuances distintas. Na tentativa de corrigir erros do passado, mergulhamos em uma narrativa mística que nos faz acreditar que um peculiar jogo de Paciência pode alterar o rumo de histórias que são, no mínimo, estranhas.
O objetivo é vencer partidas definidas por cartas de ritual. Cada uma delas traz regras específicas sobre como jogar e como concluir a rodada, revelando aos poucos os mistérios que envolvem o enigmático baralho.
Fundamentalmente, Occlude é uma variação de Paciência, com regras adaptadas para se alinhar à sua proposta. Diferente da versão tradicional, na qual empilhamos cartas em ordem crescente, aqui também é possível organizá-las em ordem decrescente. As pilhas por naipe aceitam ambas as ordens.
A principal mecânica que diferencia a experiência está nas regras de vitória, determinadas por cada carta de ritual. O jogador não sabe, de início, quais cartas deve mover para as pilhas de naipes para poder concluir o ritual com sucesso.
Para descobrir, é preciso observar atentamente os acontecimentos na mesa a cada jogada. Quatro moedas que representam os quatro naipes do baralho devem ser coletadas para se alcançar o final completo da partida. No entanto, é possível concluir o jogo sem coletar todas — ou mesmo nenhuma —, desbloqueando finais alternativos para cada ritual.
As ações realizadas movimentam as moedas, oferecendo pistas sobre quais cartas devem ser as últimas a subir para as pilhas. Por exemplo, no primeiro ritual, ao mover uma carta-chave na mesa, a moeda correspondente se mexe, sinalizando que aquela carta deve ser empilhada por último. Nos rituais seguintes, essas condições variam, e cabe ao jogador desvendar, por meio da observação e tentativa, os requisitos para vencer.
Alguns rituais são simples e intuitivos, como é o caso do primeiro. Outros, no entanto, são abstratos e desafiadores, e exigem atenção e raciocínio apurado para compreender suas regras ocultas.
Haja Paciência
A proposta de Occlude, ao mesmo tempo em que é curiosa e interessante, também pode se tornar frustrante e cansativa. Para amenizar a dificuldade em decifrar os rituais e completar o jogo, há duas opções de jogabilidade: clássica e história.
A modalidade clássica é descrita como a forma padrão de jogar Occlude. Nela, há apenas um espaço livre para auxiliar na movimentação das cartas, e a opção de desfazer jogadas é limitada. Já a modalidade história funciona como um modo facilitado, oferecendo mais espaços vazios para movimentar cartas e permitindo desfazer jogadas livremente. É a melhor escolha para aprender as mecânicas do jogo antes de se dedicar ao modo clássico de forma mais desafiadora.
À medida em que os rituais são concluídos e as moedas coletadas, novas cartas de ritual são desbloqueadas. São sete ao todo, cada uma com regras únicas para completar as partidas e avançar no jogo.
A narrativa por trás de Occlude, em minha opinião, é um pouco superficial. Ao cumprir determinados objetivos, desbloqueamos documentos que revelam a origem de alguns objetos coletados e ajudam, de certa forma, a compreender a lore do jogo.
Por outro lado, a ambientação é mais envolvente do que a história em si. A trilha sonora dinâmica, que muda conforme o progresso da partida, e os detalhes visuais da mesa — que guiam o jogador com pistas sutis sobre o que fazer ou evitar — despertam a curiosidade para explorar esse mundo peculiar enquanto tentamos montar o baralho e decifrar os enigmáticos rituais.
Para os que gostam de um carteado enigmático
Occlude se destaca por transformar um jogo de cartas tradicional em uma experiência envolta em mistério e baseada em constante experimentação. Ao propor enigmas que exigem raciocínio e observação, o título foge do comum e convida o jogador a repensar suas estratégias a cada ritual.
No entanto, essa proposta ousada pode não agradar a todos, especialmente àqueles que preferem mecânicas mais diretas ou narrativas mais robustas que ajudam a nos deixar envolvidos na experiência. Occlude cativa com uma atmosfera instigante, trilha sonora imersiva e mecânicas que, embora desafiadoras, recompensam a persistência. É uma boa pedida para quem busca algo diferente dentro do universo dos jogos de cartas — desde que haja disposição para encarar seus mistérios com paciência.
Prós
- Mecânica inovadora baseada em rituais secretos;
- Ambientação envolvente e estética cativante;
- Trilha sonora dinâmica que reforça a imersão;
- Opção de modo história facilita o aprendizado inicial.
Contras
- A narrativa superficial causa pouco impacto na experiência;
- Dificuldade elevada devido a proposta de descobrir o que se deve fazer;
- Progressão lenta ou quase nula para quem não domina rapidamente as regras.
Occlude — PC — Nota: 7.0
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Pantaloon









