Logicamente, com uma história de mais de quatro décadas de sucesso, os games também têm um lugar especial. É o caso, por exemplo, de Warhammer 40,000: Space Marine, título de ação lançado em 2011 para PlayStation 3, Xbox 360 e PC que inovou ao dar aos seus jogadores a chance de controlar um Ultramarine em um confronto sangrento contra a ameaça implacável dos Orks.
Agora, 14 anos e uma sequência direta depois, esse mesmo clássico cult retorna em uma remasterização que, apesar de ser pouco ambiciosa, cumpre a sua missão principal de atualizar o jogo para uma nova geração. Sem mais delongas então, confira a seguir a nossa análise de Warhammer 40,000: Space Marine - Master Crafted Edition.
Todos a postos, Marines!
Assim como a sua sequência, Warhammer 40,000: Space Marine conta a história do capitão Titus, um veterano experiente de inúmeras batalhas. Em sua mais recente missão, milhares de Orks invadiram um mundo-forja do Império — uma das fábricas planetárias onde são criadas as máquinas de guerra usadas na batalha pela sobrevivência da humanidade.
Considerando o conflito que se arrasta e ameaça o próprio futuro da raça humana, perder o planeta (e sua capacidade de fabricação) não é exatamente uma opção. Logo, caberá a Titus e um esquadrão de Ultramarines veteranos proteger locais cruciais até a chegada de mais reforços.
Porém, apesar de ser até interessante e conter diversas referências ao riquíssimo universo de Warhammer, o que também acontece em outros títulos da geração PS360, a narrativa aqui não é o grande foco, já que a história funciona em grande parte como mera justificativa para a ação regada à testosterona que permeia o título.
A boa notícia é que, mesmo mais de uma década depois, essa abordagem ainda funciona e, principalmente, já empolga desde o primeiro minuto em que assumimos o controle do capitão contra as ameaças.
Gears of Warhammer
Warhammer 40,000: Space Marine é um jogo de ação em terceira pessoa cujo desenvolvimento foi bastante influenciado por uma das franquias mais populares da primeira década dos anos 2000: Gears of War. Sendo bastante sincero, a inspiração é tamanha que quem já teve contato com as duas séries certamente há de concordar que a determinação e até o jeito de se portar de Titus lembram bastante os do também soldado Marcus Fenix.
Comparações à parte, o mais importante é que, na prática, a ideia funciona: Titus é capaz de combater hordas de Orks sozinho enquanto percorre as fases, usando seu crescente arsenal (que é desbloqueado conforme se avança na campanha) para isso. Para alegria dos entusiastas há submetralhadoras, pistolas e até uma motosserra para fazer picadinho dos inimigos, reforçando continuamente o foco na violência, e não na conversa fiada.
Aliás, por falar nos inimigos (e, consequentemente, nos confrontos), vale mencionar que eles continuam sendo um dos grandes destaques do título. A questão é que hoje em dia isso pode até ser comum (e esperado), mas lá em 2011 era impressionante ver tantos oponentes na tela se movendo simultaneamente em direção ao jogador.
Em 2025, esse senso de epicidade permanece e surpreendentemente ainda consegue passar a impressão de que estamos de fato em uma grande guerra, e uma na qual, contra todas as probabilidades, podemos fazer a diferença. Desde o aparente peso da gigante armadura Ultramarine — que reflete em uma jogabilidade um pouco travada — até os cenários e a sonoplastia, é perceptível o carinho que os desenvolvedores originais tiveram com o material à disposição, fazendo desta uma aventura bastante recomendada para quem: 1) gosta de jogos em que se atira primeiro e pergunta depois; e 2) é fã ou quer conhecer a saga Warhammer.
Logo, é um ponto positivo o fato de esta remasterização que está atualmente disponível para PC e Xbox Series não comprometer de nenhuma forma a magia do game original. Por outro lado, porém, quanto mais tempo passamos com ela, torna-se mais difícil não pensar que o trabalho de atualização poderia ter ido muito mais além do que foi.
A versão “definitiva”, mas poderia ser melhor
Warhammer 40,000: Space Marine - Master Crafted Edition conta com uma série de upgrades, como texturas e modelos melhorados, áudio remasterizado, interface renovada, crossplay entre PC e Xbox e um esquema de controles modernizado. Todos os DLCs lançados anteriormente também estão incluídos no pacote e, por fim, o console mais potente da Microsoft ganhou suporte à resolução 4K (digo console, porque a versão antiga de PC já contava com essa opção).
Indo direto ao ponto, a quantidade de melhorias neste relançamento é sim suficiente para tornar esta a versão definitiva e mais indicada do game na atualidade, mas é difícil não pensar que a aventura de Titus merecia mais. Isso porque, mesmo com os upgrades gráficos (que nem são tão impressionantes assim, pelo menos quando comparamos as versões de PC), toda a estrutura do jogo permanece exatamente a mesma de 2011 (nada de aprimoramentos no infame filtro visual marrom ou na jogabilidade um pouco truncada, por exemplo).
Prova disso é o menu de opções gráficas no PC, que traz somente três parâmetros ajustáveis (sombras, oclusão de ambiente e “efeitos visuais”), reflexo direto de uma época em que versões para computadores passavam muito longe de ser uma prioridade durante o desenvolvimento. Porém, se no passado esses deslizes eram passáveis, em 2025 eles pesam ao se fazer uma remasterização sem incluir recursos básicos (e desejados por anos pela comunidade) como FOV ajustável e a opção de travar a taxa de quadros por segundo sem o uso de V-Sync.
Outra oportunidade perdida está na ausência completa de localização para português brasileiro (nem mesmo os menus e legendas foram localizados). Logo, se você deseja jogar o primeiro Space Marine no nosso idioma, o caminho continua sendo a tradução feita por fãs em seu tempo livre para o jogo original de 2011 (que, aliás, continua disponível para compra em lojas como GOG e Steam).
Assim, quando inevitavelmente comparamos o serviço realizado aqui com outra remasterização recente de um clássico da sétima geração de consoles — no caso, The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered —, é difícil não pensar que este produto habita o espectro mais inferior da linha das possíveis atualizações. É uma pena, pois, com tudo o que entrega, Warhammer 40,000: Space Marine merecia um trabalho que o aproximasse grafica e mecanicamente de sua sequência e de outras obras da atual geração. Infelizmente, para tristeza do Império e de toda a humanidade, não foi desta vez.
No fim, temos uma remasterização ok, mas só isso
Warhammer 40,000: Space Marine - Master Crafted Edition é bem-sucedido em sua missão de revitalizar o clássico cult de 2011 para uma nova geração. Porém, o caráter simplório do seu trabalho de remasterização impede que seja recomendado com mais firmeza e pode frustrar quem esperava uma experiência mais polida e mais próxima, graficamente falando, da sua elogiada sequência, lançada em 2024.
No fim, a primeira parte da saga de Titus e dos outros Ultramarines ainda merece ser conferida novamente (ou pela primeira vez, caso você esteja conhecendo agora este universo) — só é uma pena que esta versão conquiste sem muito esforço o título de “definitiva”. Afinal, o confronto entre Orks e Marines merecia um pouco mais de carinho quatorze anos depois de sua estreia. Quem sabe na próxima releitura?
Prós
- Apresentando texturas e modelos melhorados, áudio remasterizado e outras pequenas adições como crossplay, sagra-se como a versão definitiva (até o momento) de um clássico cult da sétima geração de consoles;
- Graças ao foco na ação e violência e à boa interpretação do universo Warhammer, continua bastante divertido mesmo mais de uma década após o seu lançamento;
- Inclui todos os DLCs e conteúdos lançados desde 2011;
- Ainda se mantém como uma boa introdução à franquia da Games Workshop.
Contras
- Para uma versão remasterizada, falha em impressionar visual e mecanicamente em 2025;
- Poderia ter adicionado mais opções gráficas e recursos como FOV slider no PC e console;
- A ausência de localização para o nosso idioma é uma triste notícia para os fãs brasileiros;
- Frente a outras remasterizações recentes de jogos da mesma geração, sai como pálida e decepcionante.
Warhammer 40,000: Space Marine - Master Crafted Edition — PC/XSX — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA