Análise: RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army revive um clássico com novo corpo, mas ainda carregando a mesma alma

O JRPG cult retorna em uma versão que consegue ser nostálgica e moderna ao mesmo tempo.

em 18/06/2025
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RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army resgata e moderniza um RPG obscuro do PS2, com destaque para o cuidado em preservar seu legado. Situado no mesmo universo da série Shin Megami Tensei, o jogo mistura investigação sobrenatural, batalhas em tempo real e elementos clássicos da franquia, como a captura de demônios. Apesar de o nome sugerir apenas um relançamento, o título entrega algo mais próximo de um remake com diversas mudanças visuais e ajustes nas mecânicas. Esse respeito, no entanto, traz certa rigidez: apesar das novidades, a estrutura ainda pulsa no ritmo de um jogo antigo.

Mistérios e demônios em investigações sobrenaturais

O tom investigativo está no cerne da narrativa. Acompanhamos Raidou, jovem detetive e invocador de demônios, em um Japão retrô onde ameaças sobrenaturais se escondem nas sombras. Durante uma investigação, ele e seu chefe, Narumi, encontram Kaya Daidōji, uma jovem que faz um pedido desconcertante: deseja ser morta. Antes que possam entender o motivo, soldados misteriosos sequestram Kaya e fogem, deixando os dois perplexos. Agora, os detetives devem resolver o mistério do desaparecimento de Kaya, sua estranha solicitação e a correlação com outros casos.


Embora Raidou seja o típico protagonista silencioso, a narrativa se destaca pelos personagens coadjuvantes carismáticos e bem construídos, cujo design visual icônico de Kazuma Kaneko fica ainda mais marcante com a dublagem adicional. A trama episódica às vezes parece sem foco, mas cativa com eventos e desenvolvimento curiosos. 

Esse universo místico se articula bem com a proposta central do jogo: combinar poderes sobrenaturais e raciocínio investigativo em casos aparentemente mundanos. Neste ponto, o jogo se destaca, especialmente ao exigir que demônios sejam usados não só para batalhas, mas para investigar, infiltrar, ler mentes e superar obstáculos. Cada um dos aliados sobrenaturais tem habilidades específicas, então é importante ter um grupo diverso para conseguir avançar.


Ainda assim, a progressão se mantém bastante linear, com objetivos bem definidos e mapas compactos. Há boa diversidade de demônios e habilidades, porém normalmente o uso é óbvio e sem espaço para experimentação. O conceito de investigação em si é pouco explorado, resultando em um JRPG tradicional — faltou um pouco de ousadia nesse aspecto. Mesmo assim, a jornada é agradável, com muitas missões secundárias e conteúdo opcional, como batalhas extras e caça a itens escondidos.

Uma das novidades da remasterização é o visual: as localidades agora são completamente 3D em vez de imagens pré-renderizadas. Apesar da modernização, os cenários ainda contam com câmeras fixas, cujos ângulos mudam de forma imprevisível quando vamos de uma área para outra, o que deixa as andanças de Raidou um pouco desorientadas. Além disso, a locomoção é desnecessariamente complicada, exigindo acessar mapas e pontos específicos para chegar a certas regiões. Um menu de viagem rápida ajuda, mas não é suficiente.

Arriscando-se em batalhas táticas repletas de ação

É no combate que as mudanças mais visíveis acontecem, em uma tentativa de aproximar o jogo dos padrões atuais. Nas batalhas em tempo real em arenas 3D, controlamos Raidou, que pode usar espadas, armas de fogo e invocar dois demônios simultaneamente. Os aliados agem por conta própria e a intenção é explorar as fraquezas elementais dos oponentes para derrotá-los com maior facilidade. Como de praxe, é possível recrutar novos demônios ou fundi-los em criaturas mais poderosas.

Em relação ao original, o sistema foi ajustado para ser mais ágil e com novas possibilidades estratégicas: ataques básicos recuperam pontos de magia, golpes especiais podem ser ativados em momentos críticos e técnicas elementais estão à disposição de Raidou. Há também novas opções de customização, como diferentes armas e habilidades passivas para o protagonista.


As alterações são muito bem-vindas, em especial o ritmo mais ágil: é empolgante desferir combos rápidos enquanto escapamos de perigos. A parte tática se concentra em escolher os demônios certos para explorar fraquezas ou obter suporte, e muitas vezes é necessário fazer ajustes em tempo real para se adaptar a inimigos que surgem durante o embate. 

Ainda assim, a simplicidade do sistema original permanece: muitas batalhas se limitam a ataques repetitivos, com pouca variação tática, deixando a ação meio repetitiva e pouco estratégica. As lutas contra chefes, por sua vez, representam o ponto alto, exigindo domínio das mecânicas e adaptação constante, principalmente para escapar de golpes extremamente poderosos. Os níveis maiores de dificuldade são mais exigentes, mas ainda não fazem total uso das possibilidades das novidades.

No geral, o resultado é positivo. Ainda há um pouco da rigidez e das limitações do original, porém as mudanças melhoram significativamente o ritmo das batalhas.


Forma nova, espírito antigo

Visualmente, RAIDOU Remastered tem alma retrô e corpo retrabalhado. O abandono dos cenários estáticos do PS2 em favor de ambientes 3D dá nova vida ao mundo sem descaracterizá-lo. As melhorias na interface, a dublagem adicional e a música retrabalhada reforçam esse cuidado técnico, mas a trama segue intocada — é como se o jogo tivesse sido reencenado, sem mudar de roteiro.


Essas alterações melhoram a imersão, mas não escondem a estrutura linear e a cadência própria dos RPGs de 20 anos atrás. Ao jogar, sentimos o esforço de modernização, mas também a limitação de uma base que, por mais sólida que seja, não foi reconstruída. Isso não compromete a proposta, que é justamente reviver um clássico cult e apresentá-lo a um novo público, basta estar disposto a aproveitar a experiência.

Fora isso, RAIDOU Remastered inclui conteúdo inédito notável. A grande novidade é um calabouço que traz demônios e combates exclusivos. Algumas das batalhas, inclusive, contam com regras únicas que exigem preparação e muito domínio das mecânicas do jogo. Já sistemas adicionais, como lealdade de demônios e armas alternativas para o protagonista, enriquecem as possibilidades, apesar de terem impacto limitado.



Um retorno auspicioso

RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army entrega uma experiência que respeita profundamente suas raízes, ao mesmo tempo em que implementa melhorias pontuais para torná-la mais acessível hoje. A ambientação envolvente, os personagens estilizados e o combate ágil com toques estratégicos reforçam o charme do título, enquanto a história sobrenatural mantém o interesse do início ao fim. A adição de conteúdo inédito e elementos de personalização também ampliam a duração e o apelo da jornada.

Por outro lado, algumas limitações do original ainda pesam. A estrutura linear, a exploração pouco intuitiva e o uso raso da investigação mostram que o jogo poderia ter ousado mais em certos aspectos. Mesmo assim, o equilíbrio entre nostalgia e renovação funciona: RAIDOU Remastered é uma boa oportunidade para revisitar — ou conhecer pela primeira vez — um capítulo curioso e singular do universo Shin Megami Tensei.

Prós

  • Atmosfera única que combina mistério, folclore japonês e elementos sobrenaturais;
  • Sistema de combate reformulado, mais ágil e com novas possibilidades estratégicas;
  • Visual renovado com ambientes 3D, dublagem adicional e melhorias na interface;
  • Boa variedade de demônios com habilidades específicas que enriquecem a jogabilidade.

Contras

  • Estrutura linear e investigações pouco desenvolvidas limitam a sensação de descoberta;
  • Exploração pode ser confusa devido às câmeras fixas e navegação truncada;
  • Parte das batalhas se torna repetitiva por falta de profundidade tática.
RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
OpenCritic
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Farley Santos
é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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