Análise: Dune: Awakening é um multiplayer competente, mas falta o brilho da obra original

O novo jogo da Funcom apresenta uma versão impressionante de Arrakis, mas peca no contexto narrativo.


Apesar de ter adaptações em jogo desde a década de 1990, o universo de Duna criado por Frank Herbert nunca recebeu algo do mesmo escopo de Dune: Awakening. O jogo é um imenso survival multiplayer que explora a mística da especiaria e os desertos de Arrakis. Apesar da escala e mecânicas bem aplicadas a lore do mundo de Duna, o projeto parece tropeçar no momento de entender o que torna essa obra tão única.

Explorar, coletar, expandir



Antes de explorar as montanhas e dunas, o jogador deve criar o seu personagem, definindo sua origem e seu estilo de combate, dentro das possibilidades, que variam entre um mestre espadachim, um acólito das Bene Gesserit ou um Mentat. Esses estilos podem ser aprendidos durante o jogo, então a escolha não é definitiva, ela só influencia no seu combate e habilidades iniciais.

Quando o mundo se abre para o jogador, Arrakis é apresentado como este grande sandbox recheado de perigos, materiais a serem coletados, inimigos à espreita e os temidos Shai-Hulud: os vermes da areia. 

A parte de construção e coleta é até bem satisfatória já que existem recursos que podem ser obtidos no mundo, minerando pedras, encontrando acampamentos, abrindo destroços, dentre outros. A quantidade necessária para fazer boa parte dos equipamentos é bem amigável também, em poucas horas você já tem sua base e entende como funciona os aspectos básicos do jogo.




É interessante como a Funcom conseguiu atribuir elementos do universo de Duna à mecânicas básicas do jogo. Explorar no sol por exemplo pode causar danos severos aos personagens, enquanto andar na areia pode atrair vermes. Além disso, existe um medidor de sede que deve ser preenchido constantemente, o que leva o player a ter um dos sugadores de sangue que recicla os fluidos dos mortos e transforma em água.

O combate era uma das minhas maiores preocupações ao iniciar Awakening, mas ao experimentar o tiro em terceira pessoa e o combate corpo-a-corpo, tive uma experiência até que satisfatória. As animações travadas ainda estão presentes, mas a sensação de usar habilidades, avançar até os inimigos com dashes rápidos e sair vivo de uma luta de espadas é extremamente satisfatória. 

Uma pena que a I.A. dos inimigos é tão limitada e sua variedade tão escassa. Você passa boas horas entrando no mesmo tipo de acampamento, lutando contra os mesmos inimigos que agem exatamente da mesma maneira e têm visuais precisamente similares, o que pra mim diminui a motivação para sair explorando cavernas e equipamentos.

Um universo sem Muad'Dib



Dune Awkening parte de uma premissa que mais parece uma fanfic. No universo do jogo, que é uma realidade paralela da dos livros, Lady Jessica nunca deu a luz à Paul Atreides, e sim a uma menina. Ela também previu a traição dos Harkonnen, o que fez com que a casa Atreides nunca se envolvesse na guerra de Arrakeen. A partir desse ponto, um efeito borboleta gigantesco age no universo, causando a extinção dos Fremen, além de outras mudanças estruturais.

Compreendo que jogos survival e MMOs não têm em sua base uma narrativa muito forte. Entretanto, no momento em que a Funcom se propôs a adaptar uma obra tão enigmática, que causa medo até em grandes diretores de cinema quando se trata de adaptação, eles sabiam os desafios que tinham.




Fica claro que eles têm a experiência necessária para criar um multiplayer competente, e Conan Exiles é um exemplo da evolução deles. Entretanto, existem contradições estruturais em tom e nas ações, que quando analisadas sob a luz do que essa obra representa, fazem com que Awakening pareça o tipo mais barato e fútil de fanfiction.

Desde pequenos detalhes (como carros e motos rodando pelo deserto como se isso não fosse nada) até a diluição da mensagem da obra e o esvaziamento do discurso político em prol de uma narrativa já batida do escolhido trilhando seus passos, fazendo testes e resolvendo o grande mistério da localização dos Fremen restantes.

O caminho do deserto



Apesar de jogar sozinho, a todo momento eu encontrava grupos de outros jogadores fazendo as mais diversas atividades, portanto acredito que é um ótimo jogo para quem quer construir seu império com os amigos. A sensação de ser um nada até conseguir formar seu próprio império é algo que poucos jogos conseguem oferecer. 

Para o endgame abre-se também um universo de oportunidades, rotas e postos comerciais, guildas, veículos como os famosos Ornitóptero, os helicópteros do universo de Duna. Tudo que torna a trajetória de cada jogador uma jornada única.

A versão que a Funcom conseguiu criar de Arrakis é de tirar o fôlego, sendo possível viajar pelas montanhas, ver o pôr-do-sol, as naves gigantescas passando pelo céu e os imponentes vermes surgindo da areia. Tudo isso constrói uma atmosfera imersiva que te faz acreditar que realmente está vivendo como Atreides viveu nos seus anos iniciais no planeta.

Despertar


Dune: Awakening traz a experiência de uma equipe que tem conforto em produzir multiplayers survival neste estilo. A Funcom conseguiu criar uma versão imersiva e belíssima de Arrakis, ao mesmo tempo em que criou mecânicas que conversam com esse mundo e suas leis, mesmo que isso nem sempre consiga ser ajustado. 

No fim, sinto que Awakening é muito mais voltado para os fãs de MMOs e jogos como Conan Exiles, do que necessariamente os fãs mais ávidos por uma experiência que se pareça com a obra de Frank Herbert.

Prós:

  • Uma versão incrível de Arrakis que parece viva e perigosa;
  • Construção e coleta que não cai no buraco de se tornar uma tarefa árdua e cansativa;
  • Mecânicas que conversam com a lore de Duna enquanto apresentam desafios significativos para o jogador;
  • Combate simples, mas eficaz em trazer um pouco de ação entre a parte mais sobrevivencialista do jogo.

Contras:

  • Pouca variedade de inimigos;
  • I.A. dos inimigos é limitada e previsível;
  • A narrativa carece dos temas fundamentais sobre religião e política que são tão predominantes na obra de Frank Hebert;
Dune: Awakening  –  PC – Nota: 7.0
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Funcom
OpenCritic
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Luan Gabriel de Paula
Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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