Em tempos em que mesmo o mercado indie é altamente competitivo, cada novo lançamento precisa inovar o suficiente para conquistar seu espaço. Lançado anteriormente para Switch,
Star Overdrive chega agora no PC, PlayStation 5 e Xbox Series com uma proposta refrescante e divertida. Prepare-se para viagem espacial, pois esta análise vai começar!
Em uma galáxia tão, tão distante…
O jogo começa com o protagonista, Bios, voando em pleno espaço sideral com sua nave espacial. Ele é surpreendido por um pedido de socorro de sua amada, Nous, e acaba caindo no planeta Cebete. Caberá ao jovem explorar esse mundo repleto de surpresa para, assim, descobrir o paradeiro da sua companheira e resolver o mistério do seu desaparecimento.
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Espaço, a fronteira final |
Star Overdrive proporciona duas ferramentas principais para Bios encarar essa aventura: sua Hoverboard, espécie de prancha flutuante que lhe permite surfar pelo mundo alienígena – com direito a manobras radicais –, e sua Keytar, que conta com habilidades especiais diversas e capacidade de combate. O jovem também conta com uma mochila à jato para saltos maiores.
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Depois do acidente, o jogo finalmente começa |
A jogabilidade alterna entre momentos de exploração pelas grandes planícies e construções de Cebete, combates contra alienígenas, saltos entre plataformas e resolução de quebra-cabeças. Vou falar de cada um deles em mais detalhes, mas preciso comentar uma coisa antes de mais nada: de maneira geral, temos aqui um título que se inspira fortemente em The Legend of Zelda: Breath of the Wild.
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Surfar por vastos campos coloridos é uma experiência interessante |
Coisas como as grandes pradarias, a sensação de liberdade, certas habilidades da Keytar e o formato de algumas dungeons claramente vieram desse gigante da Nintendo. Felizmente, isso não torna Star Overdrive uma mera cópia: pelo contrário, temos aqui uma experiência que usa boas ideias de forma divertida e inovadora. Pena que, por vezes, um pouco inovador demais, quase comprometendo suas qualidades.
Viajando pelo desconhecido
Vamos começar falando das mecânicas da Hoverboard: Bios pode surfar por Cebete com relativa facilidade e boa velocidade, podendo executar manobras ao pular de declives. Ao fazer isso, há um acréscimo na velocidade, que permite saltos maiores com mais manobras, num ciclo divertido. É uma pena que os movimentos não sejam nomeados a lá Tony Hawk, mas eu entendo que seria estranho dado o contexto do jogo.
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No melhor estilo Tony Hawk! |
A prancha pode ser melhorada em oficinas, usando materiais coletados ao longo da aventura. Ela conta com atributos como velocidade, controle e gravidade, permitindo ao jogador customizar sua experiência. O processo de coleta de itens é lento e o jogo não deixa claro quais as melhorias mais importantes, então é preciso pensar bastante antes de investir.
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É possível customizar as pranchas em vários níveis diferentes |
Aliás, não explicar as coisas em maiores detalhes é uma recorrência de Star Overdrive. Isso não chega a trancar o progresso na aventura, pois o game conta com um mapa suficientemente detalhado e bastante material textual. Cabe ao jogador se interessar e tentar aprender mais lendo, ou então focar somente nas missões e na jogabilidade.
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Conforme avançamos na história, novos territórios (e segredos) podem ser acessados |
Inclusive, nosso protagonista é um tanto silencioso (como um certo Link da série Zelda), sem pronunciar frases e gritos, seja de alegria ou tristeza. Confesso que isso é um tanto estranho em meio a situações de sucesso ao conquistar novas habilidades ou derrotas um tanto doloridas. Aliás, no geral, temos um jogo que tenta inovar ao prezar mais pelas canções do que pelos efeitos sonoros.
Os ruídos dos combates, por exemplo, são menos interessantes (ou mesmo inexistentes) do que a música que toca ao fundo. A única voz efetiva durante a aventura vem de Nous, por meio de fitas cassetes (no formato clássico dos Walkman) com gravações feitas por ela. Mais um elemento que ajuda a entender o universo do jogo, mas que, como antes, exige alguma atenção.
Indo além do surfe
Admito que essa questão de como contar a história é relativa, pois Star Overdrive tem uma pegada mais contemplativa nesse quesito. Portanto, muitas informações poderiam quebrar o processo de imersão do jogador. Já os combates não têm muita defesa: os inimigos, em geral, são pouco inspirados, além dos embates não terem maior impacto ou emoção.
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O combate até tem boas ideias, mas é lento e com pouco impacto |
Mesmo as lutas contra os monstros gigantes que vivem sobre a terra, combinando as habilidades do Hoverboard e do Keytar, são legais no início, mas cansam com o tempo. Na minha opinião, o game brilha mais nas explorações realizadas surfando pelo planeta e nos quebra-cabeças com plataforma. Vamos falar um pouco desses últimos, que são muito divertidos e relativamente inovadores.
Conforme Bios avança na história, ele adquire habilidades bem legais para a sua Keytar. Sem maiores detalhes para não estragar a surpresa do jogador, elas permitem que o personagem se mova e interaja com objetos de formas únicas. Por meio desses poderes, além do seu pulo com mochila a jato e dash (que também serve para desviar de inimigos), o jogador precisa resolver algumas seções que exigem raciocínio e agilidade nos comandos.
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Esses desafios estão entre os mais legais do game |
Gostei bastante dessas dungeons fechadas e seus desafios, sejam mais pensativos ou de habilidade. Assim como nas mecânicas de surfe, é possível notar o esmero dos produtores nessas partes, oferecendo diversão de alto nível, mesmo para um indie. Considerando o grande escopo de mecânicas diferentes, aqui a originalidade do game é ainda mais refrescante, mesmo com algumas ideias “copiadas”.
Uma produção de respeito
Em termos de produção, Star Overdrive faz muito bonito, lembrando que temos um game indie. Os visuais são caprichados, repletos de cor e designs arrojados, tal como esperado de uma aventura espacial alienígena. A ambientação encantadora merece destaque – ainda que algumas regiões sejam um pouco vazias –, fazendo jus a pegada contemplativa e inovadora do game.
Como eu comentei antes, o trabalho de som, em particular as músicas, é muito bom, encaixando com a divertida jogabilidade da prancha. Além disso, o desempenho do jogo é suave e funciona bem. É importante frisar isso, visto que mesmo sendo um título indie, ele é bastante ousado com sua produção relativamente grandiosa em grandes construções e cenários.
Imersão e ousadia
Talvez o leitor tenha notado que, apesar dos vários elogios ao longo desta análise, quase sempre eu faço alguma ressalva. Os produtores correram riscos com várias das escolhas inovadoras e, embora a maioria delas tenha tido sucesso, algumas ficaram devendo. Combinar vários tipos de jogabilidade diferentes, como exploração, combate, quebra-cabeça e corrida, é arrojado e torna mais difícil manter tudo no mesmo nível.
Logo, temos um grande e bonito mapa, mas por vezes vazio, bem como combates frequentes, mas um tanto sem sal (melhoram ao usar as habilidades). Já surfar, explorar cenários (pulando ou surfando) e resolver puzzles são duas atividades quase sempre divertidas e que dão uma sensação de liberdade agradável. A própria proposta desbravadora do game, que busca uma imersão do jogador neste novo mundo, é também um problema.
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Os cenários são originais e bem imersivos |
É fácil “se perder” no jogo, sem saber exatamente o que estamos fazendo, se devemos avançar nas missões principais, coletar itens para melhorar a Hoverboard, tentar ganhar as corridas disponíveis pelo mapa, etc. Um pouco mais de linearidade poderia ter feito mais pelo título, ou mesmo algum tipo de guia opcional para os indecisos sobre o próximo passo.
Uma estrela longe de esgotar
Se por um lado
Star Overdrive colhe frutos da sua proposta repleta de ousadia, por outro pena em alguns pontos. O saldo é mais do que positivo, com uma aventura envolvente repleta de exploração via um surfe divertido, bem como habilidades especiais legais, ótimas para resolver quebra-cabeças e desbravar esse mundo encantador. Outros elementos ficaram num nível abaixo e limitaram a experiência geral, mas ela ainda vale muito a pena de ser conhecida, sobretudo para quem curte um jogo original e refrescante.