Análise: Perennial Dusk -Kinsenka- tenta apelar para o sentimental, mas falha em consistência

Visual novel da Frontwing tem um estilo bonito, mas acaba trazendo uma narrativa mal conduzida.

Perennial Dusk -Kinsenka-
é uma nova visual novel da Frontwing dentro do formato “kinetic”, que são obras do gênero sem escolhas. A história foi concebida e escrita por Yukito Urushibara, mais conhecido por seu trabalho em Irotoridori no Sekai, e as ilustrações de personagens são de Saine em parceria com Akio Watanabe (série Grisaia).

Com uma premissa curiosa de um mundo entre a vida e a morte, Kinsenka reúne um grupo de jovens que passaram por duras condições e agora assumem o papel de exorcistas. Com um foco no apelo emocional, a obra, infelizmente, acaba tendo uma escrita desestimulante de forma geral.

O mundo no crepúsculo da vida

Tachibana Sai é um jovem rapaz que protege sua irmã a qualquer custo e já está acostumado a até mesmo matar as pessoas que fazem mal à garota. Frio e “sem coração”, ele nunca se sentiu mal por suas ações e parece tratar a sua vida com uma atitude bem desmotivada.

Tudo isso muda, porém, quando ele encontra Kanbara Tatsuki, um misterioso rapaz vestido com uma roupa preta um tanto antiquada e uma máscara de raposa. Em uma missão a mando da família Benio, Tatsuki está acompanhado de uma bela garota de cabelos brancos e, ao vê-la, Sai sente, pela primeira vez, uma pontada de emoção.

Considerando que isso pudesse ser amor, Sai então decide largar tudo para acompanhar essa bela garota e Tatsuki para uma espécie de mundo intermediário entre a vida e a morte. Na Twilight Prison (Prisão Crepúsculo), ele terá que entrar para a família Benio e se envolver em uma situação muito mais complexa do que ele esperava.

Como uma recente adição da família, Sai se junta ao grupo de jovens moradores da Maison sans Nom (Mansão sem Nome), que é composta por exorcistas ainda jovens e os mantém dentro da Twilight. Sob o comando de Benio Tsui, esses indivíduos acabam realizando várias tarefas envolvendo encarar criaturas sobrenaturais chamadas de Maledicts.

Drama e flashbacks

Kinsenka é uma história dramática sobre um mundo opressivo no qual dores são uma constante. Conforme Sai passa a dedicar seu tempo a serviço dos Benio, ele começa a ter contato com situações sobrenaturais atípicas que fazem com que ele tenha que encarar emoções negativas e as angústias de outros indivíduos.

Em particular, é importante destacar que a obra pode, de fato, envolver alguns elementos bem sombrios, como mutilações, abuso psicológico e físico, maus-tratos com crianças e ideação de suicídio. O jogo até evita ser excessivamente gráfico, muitas vezes optando apenas por descrições, mas os tópicos podem ser bastante viscerais, assim como o frequente uso de efeitos visuais de sangue.

A história alterna entre perspectivas, dando especial ênfase a Sai e Tatsuki, mas também coloca outros personagens como foco durante vários momentos. Em particular, boa parte da história é contada através de flashbacks, mostrando como os personagens chegam a uma determinada situação.

Infelizmente, um dos pontos mais problemáticos de Kinsenka é o fato de que a obra abusa desse recurso à exaustão. Esse excesso faz a estrutura ficar muito formulaica, o que deixa a leitura enfadonha. Não bastasse isso, o uso também quebra o ritmo de boa parte da história, tirando a urgência dos momentos que deveriam ser de clímax na trama.

Um embate falho de xadrez mental

Outro ponto importante a se ter em mente é que Kinsenka tenta ser uma obra bastante focada em reviravoltas mirabolantes. O início é especialmente marcante nisso, mostrando como Sai pode ser ardiloso na elaboração de seus esquemas, mas, ao longo do tempo, é perceptível como a história força a mão nisso.

A narrativa é verborrágica, as reviravoltas tentam parecer muito mais grandiosas do que são, e as ideias são repetitivas a ponto de deixar boa parte da experiência monótona. Apesar do excesso de explicações, alguns elementos da trama são desnecessariamente obtusos e acabam construindo contradições e ignorando pontas soltas óbvias.

É uma pena que a narrativa seja tão mal conduzida porque o conceito da premissa é interessante e a ambientação é curiosa, embora mal explorada. Além disso, a tradução para o inglês quase não possui erros de digitação ou construção notáveis, o que, em uma condição de enredo menos truncado, ajudaria a deixar a experiência fluida.

Visualmente deslumbrante

Apesar dos pontos que comentei, é impossível negar que o estilo artístico de Perennial Dusk -Kinsenka- é bastante atrativo. A Twilight Prison é um lugar místico que evoca uma sensação de um Japão de época, com suas estruturas rústicas e o grande palácio da família Benio.

Há uma ótima escolha de coloração e direção para as cenas, com alguns efeitos visuais e enquadramentos bem interessantes para dar mais imersão nos momentos emocionalmente carregados. A trilha sonora também é bem selecionada para reforçar esse aspecto, embora não se destaque separadamente.

Tecnicamente, a visual novel também conta com uma ótima navegação rica em opções. Além de contar com o básico (skip, auto e log), temos a possibilidade de revisitar rapidamente as cenas pelo log ou através do registro de cenas liberado após concluir a história, bem como a possibilidade de pular rapidamente um capítulo (um “skip to choice”, mesmo o jogo não tendo escolhas).

Vale destacar ainda que a obra no Steam não está completa, contando apenas com o prólogo. Para acessar o jogo todo, é necessário fazer o download de um patch externo fornecido pela empresa. Ao contrário de várias visual novels que fazem práticas similares, o corte não tem relação com ilustrações sexuais, pois a obra não conta com esse tipo de conteúdo.

Uma experiência fraca

Perennial Dusk -Kinsenka- é uma visual novel esteticamente agradável e com uma premissa interessante. Infelizmente, a condução do enredo deixa muito a desejar em termos de ritmo e qualidade, sendo mais recomendável procurar outras opções dentro do gênero.

Prós

  • A direção visual da obra consegue evocar uma sensação forte de ambientação e deixar algumas cenas-chave emocionantes;
  • Trilha sonora funcional para evocar o aspecto emocional;
  • Funcionalidades confortáveis de navegação para além do básico.

Contras

  • Narrativa verborrágica e repetitiva;
  • O uso excessivo de flashbacks em particular torna o ritmo da história glacial;
  • Tentativa de parecer complexo só torna as contradições e falhas de roteiro mais visíveis.

Perennial Dusk -Kinsenka- — PC — Nota: 6.5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Frontwing USA 

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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