Comece pequeno
O objetivo central de Blacksmith Master é criar a maior forja da cidade. Para isso, começamos com uma pequena loja com tudo que precisamos para começar: um banquinho para os funcionários sentarem, uma fornalha, uma bigorna para dar o formato e uma bacia com água para esfriar. Depois de contratar o ferreiro inicial, é só começar os trabalhos para ganharmos alguma renda.
O primeiro modo de ganhar dinheiro são os contratos com o mercador, que pode pedir, por exemplo, “cinco canecas de metal”. Ao entregá-las, recebemos um montante em ouro. De início, não é exigido que tomemos muito cuidado financeiro. Começamos com uma boa quantia de moedas, que ajuda a contratar novos funcionários e a pagar seus salários, caso tenha gastado muito logo de cara.
Ao final do dia (à meia-noite), o jogo mostra nosso balanço, de quanto gastamos e de quanto ganhamos. Isso se torna bem útil para organizarmos nossos objetivos. Caso tenhamos renda o suficiente e com a construção desbloqueada, podemos avançar a forja adicionando paredes para abrigar mais ferreiros, forjas, bigornas, e assim por diante. Essa evolução é bem clara e ganhamos a possibilidade de crescer bem cedo no jogo. A mecânica de construção não é The Sims, mas é funcional, permitindo adicionar ou remover paredes, além de decorá-las e também mudar como o chão se parece.
Até agora, tudo parece bem simples, mas logo você vai notar que não dá para fazer as coisas sem pensar nas consequências. Para os funcionários produzirem uma faca, ou uma colher de pau, cada passo desse processo é desenvolvido e animado: pegar o lingote no estoque, levar pra fornalha, depois pra bigorna, esfriá-lo na água e então levá-lo ao mercador. Tudo isso leva tempo e, se seu layout da sala não for muito bom, ou se tiver muitos funcionários para poucas ferramentas, vai ter gargalo, e as coisas podem demorar ainda mais para serem feitas.
Uma curiosidade é a possibilidade de controlar um ferreiro manualmente, em terceira pessoa. No começo, é divertido participar diretamente dos minigames de cada etapa (martelar, moldar, etc.), mas a mecânica perde o brilho com o tempo — especialmente quando percebemos que um NPC poderia estar fazendo esse trabalho sozinho, até de forma mais eficiente que você. Além disso, essa opção não existe para outras profissões (como mineiros ou lenhadores), o que a torna completamente ignorável.
Mesmo com esse problema, assistir todo esse processo sendo executado como você planejou é uma das partes mais divertidas de Blacksmith Master. Essas mecânicas iniciais funcionam muito bem e o jogo vai te ganhar a partir daqui. Claro, nem tudo é perfeito. Eu sinto que a progressão é boa, mas peca em alguns pontos, principalmente ao avançarmos os dias ainda mais.
Alcance o topo
A progressão do jogo é guiada por suas moedas, e há várias delas: as de ouro, usadas para pagar salários, comprar e evoluir elementos na forja; as de projeto, que permitem adquirir melhorias na qualidade dos itens produzidos (variando de comum, incomum, rara, épica a lendária); e, ao produzir um item de determinada qualidade, você ganha moedas específicas dessa categoria, necessárias para desbloquear novos avanços na árvore de habilidades.
As moedas de ouro são adquiridas cumprindo os contratos dos mercadores, que se tornam mais desafiadores conforme o jogo avança (como pedir 150 machados). No final, essas missões demandam muito tempo, apesar das recompensas generosas — especialmente as que incluem novos diagramas para fabricar itens inéditos.
A forma mais divertida de ganhar essa moeda, porém, é montando uma loja. É preciso organizar as prateleiras, definir os produtos em exposição e contratar um caixa para finalizar as vendas. Todo o processo pode ser observado: o assistente reposicionando itens; o cliente entrando, escolhendo e, por fim, comprando. No início, as vendas geram pouco lucro, mas, à medida que novos itens são adquiridos, essa se torna a melhor estratégia.
Para fazer a loja funcionar, são necessários funcionários especializados: ferreiros (produzem os itens das prateleiras), assistentes (transportam os produtos da produção para a loja) e caixas (realizam as vendas). Com o tempo, a complexidade aumenta: dezenas de funcionários são alocados em funções específicas — como assistentes dedicados a mover itens de depósitos externos para a loja, ferreiros especializados em carpintaria ou metalurgia, entre outros.
O jogo também exige matéria-prima para a produção (metal, madeira de carvalho, cobre, etc.), o que leva ao desbloqueio de minas e bosques para adquirir esses recursos. Cada local funciona como um mapa independente, com funcionários próprios (como mineiros e lenhadores) e upgrades específicos (camas, fogueiras, ferramentas). Esses espaços, porém, não demandam organização complexa depois da inicial — bastando apenas evoluir os trabalhadores.
Todos os NPCs que trabalham na forja possuem sistemas de nível: a cada avanço, dois pontos podem ser distribuídos em atributos específicos. Ferreiros melhoram em metalurgia, carpintaria ou projetos; assistentes ganham velocidade ou capacidade de carga; caixas evoluem carisma, comunicação ou eficiência; mineiros e lenhadores também possuem atributos próprios.
Na minha experiência, focar no ponto forte de cada NPC foi a melhor estratégia. Um ferreiro com aptidão em metalurgia, por exemplo, foi especializado exclusivamente nessa área e aprimorado ao máximo. Com isso, ele produz uma caneca de metal em questão de segundos. A mesma lógica se aplica às outras profissões. Um ponto a se criticar é que podemos ter uma lista enorme de funcionários, e procurar qual passou de nível pode ser irritante.
Novos desafios, alguns tardios
A moeda de projeto é conquistada com um ferreiro dedicado e uma ferramenta de trabalho própria. Então é fácil imaginar um jogador com uma sala cheia desses NPCs a gerando. Com ela evoluímos a qualidade dos itens que produzimos, encarecendo seu valor de venda, tanto na loja, quanto para os mercadores. Então essa é uma mecânica essencial para termos mais ouro e também novas habilidades.
Como já mencionado, a produção de itens gera moedas de qualidade, que permitem progredir na árvore de habilidades — desbloqueando, por exemplo, novos andares ou opções de produção (como cerâmica ou joias), cada uma exigindo um custo (como 100 moedas comuns). O problema surge em um ponto do jogo no qual dificilmente fabricamos itens comuns, e então acumular essa quantidade é inviável. Porém, se tivermos moedas incomuns equivalentes, é possível adquirir novas habilidades mesmo assim. A questão é que o sistema de conversão é reservado só para o jogo, o que impede planejamentos precisos.
Quando mais avançados, fica cada vez mais difícil produzir certos itens — as joias são as mais complicadas, pois exigem materiais obtidos apenas através de acordos com outras cidades. Esse sistema, inclusive, é liberado tardiamente (incluindo a produção de joias), o que desencoraja uma exploração mais profunda. Quando eu as liberei, já estava bem organizado e autossuficiente.
Esse é um problema que também afeta os andares. Após desbloquear o porão e centralizar toda a produção lá, percebi que não havia muito o que fazer com os outros espaços — afinal, evitar que funcionários subam e desçam escadas (atrasando a produção) era prioridade. Acabei usando apenas até o segundo andar e deixei os outros vazios durante toda minha jogatina.
Chegar ao ponto desejado, com finanças estáveis e estratégias funcionando perfeitamente, é muito gratificante. Mas chega um ponto em que a falta de uma narrativa, ou mesmo de outras raças para contratar, é sentida no geral. Fiquei boa parte da minha jogatina querendo contratar um ferreiro anão, ou mesmo um elfo carpinteiro, mas não é possível — mesmo que existam clientes elfos. Parece que o jogo quer ser fantástico, mas ainda falta magia (tanto nos NPCs quanto nos itens produzidos). Quem me dera fabricar uma espada flamejante!
Esteticamente carismático
Visualmente, Blacksmith Master é muito carismático. Os gráficos cartunizados reforçam a proposta fantástica do jogo, com animações bem executadas para cada ação e função. Os cenários da cidade, mesmo com problemas de proporção (como portas minúsculas em algumas casas), funcionam bem, e o vaivém dos NPCs cria a impressão de um ambiente vivo.
A forja em si é um caso à parte. Graças à mecânica de construção — funcional e versátil —, é possível criar estruturas variadas, desde lojas modestas até quase castelos medievais. O jogo mantém um bom desempenho técnico: mesmo com dezenas de itens, clientes e funcionários em movimento, não há bugs ou travamentos.
Infelizmente, a câmera livre é um problema. Ela permite invadir casas do cenário ou causar bugs visuais (especialmente no porão), revelando falta de polimento. Senti falta de opções como travar a câmera em um NPC, para observar detalhes de perto e ter um pouco mais de noção se minha estratégia está funcionando ou travando em algum ponto.
Outra decepção é o design sonoro. O jogo tem poucas trilhas musicais, que se repetem em intervalos — algo que não chega a incomodar, mas demonstra descuido. Dentro da loja, a ausência de sons ambientais (como murmúrios de clientes) quebra a imersão. Já que não há diálogos ou narrativa, nosso foco fica todo no bater dos martelos.
Vale a pena?
Blacksmith Master tem muito potencial e, para um jogo em acesso antecipado, conteúdo e qualidade suficientes para ser recomendado. Após horas de jogo, espero que adições como magia, raças diversas e até uma narrativa mínima sejam implementadas. Quanto às mecânicas, ajustes são necessários — como um rebalanceamento das moedas de qualidade ou revisão na progressão.
No geral, o núcleo funciona muito bem, e acredito que, com refinamento, o jogo pode se tornar um diamante bem polido no futuro.
Revisão: Ives Boitano
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Hooded Horse