Em Monster Train 2, anjos e demônios se unem para enfrentar titãs que invadiram o céu. A sequência do roguelike de construção de baralhos mantém a estrutura de defender um trem com monstros, introduzindo várias novidades que expandem as possibilidades. As adições tornam a experiência mais completa, por mais que as mudanças conservadoras e o conteúdo focado nos veteranos limitem o impacto desta continuação.
A bordo de um trem em uma viagem complicada
Depois dos eventos do episódio anterior, criaturas conhecidas como Titãs tomaram o Céu para si e pretendem destruir o mundo. Para enfrentar essa ameaça, demônios e anjos se aliaram, viajando em trens criados especialmente para enfrentar as intempéries e oponentes que aparecem pelo caminho rumo ao mundo celeste.Monster Train 2 se destaca entre os roguelikes de construção de baralhos ao apresentar uma estrutura de combate e progressão bastante singular. Nos embates, usamos monstros para defender nosso trem de invasores, que têm como objetivo destruir o núcleo localizado no topo. O veículo tem três andares em que posicionamos aliados para tentar impedir o avanço dos oponentes, com o combate em si acontecendo automaticamente no final do turno.
A cada rodada, recebemos cartas com efeitos diversos, como invocar criaturas, lançar feitiços ou adicionar equipamentos às unidades. Como é de praxe, no decorrer da campanha, coletamos cartões e artefatos, além de melhorar as unidades, para fortalecer o baralho e aumentar as possibilidades táticas. Fora dos combates, avançamos pelo mapa, que apresenta eventos e lojas diversas — o caminho conta com bifurcações, então é necessário escolher a rota com cuidado.
Vencer ou ser derrotado significa recomeçar uma nova jornada do zero. No entanto, há motivos para continuar jogando com desbloqueio frequente de conteúdo, como cartas, núcleos de trem, baralhos de clãs e mecânicas. O jogo incentiva o aumento constante da dificuldade, oferecendo modos com modificadores imprevisíveis, desafios diários variados e um sistema de rankings online.
Mesclando poderes e unidades em um combate singular
Assim como outros roguelikes de construção de baralhos, é fácil mergulhar fundo no universo de possibilidades de Monster Train 2. O combate em si é bem único, misturando elementos de administração de mão de cartas, auto battlers e posicionamento para criar embates estratégicos e interessantes. Como sempre, entender as regras básicas é fácil, mas para vencer, é necessário dominar as nuances e as alternativas.Nas primeiras partidas, a vitória tende a ser simples: posicionar as unidades nos andares geralmente é suficiente para conter os invasores. Porém, rapidamente as coisas ficam complicadas com oponentes melindrosos, como criaturas que nos enfraquecem quando lançamos feitiços ou inimigos que evitam dano sob certas condições. Com isso, aparece um aspecto de puzzle em que precisamos pensar as ações com cuidado para dar conta de todos os monstros.
Para sobreviver, é essencial montar combinações poderosas: unidades podem receber habilidades interessantes e feitiços podem ser usados em conjunto para ativar efeitos devastadores. O sistema permite combinações tão poderosas que, em certos casos, é possível eliminar grupos inteiros de inimigos em apenas um turno. Na verdade, dominar isso é necessário, pois os monstros ficam cada vez mais resistentes e complicados de lidar.
A variedade de opções é notável. Em cada partida, escolhemos dois baralhos, um principal (que define o guerreiro principal) e o secundário. Cada clã foca em uma mecânica única, como os Píricos, que aplicam gel enfraquecedor capaz de multiplicar o dano, ou Irmandade Lunar, cujos efeitos especiais mudam após alguns turnos. Com cinco grupos, a combinação de opções é grande, com direito a mais recursos que são desbloqueados aos poucos.
Uma peregrinação por trilhos tortuosos
Apesar de suas qualidades evidentes, Monster Train 2 apresenta alguns obstáculos que comprometem a experiência ao longo do tempo. Apesar da variedade de opções, à medida que o tempo passa, as estratégias se tornam repetitivas, muitas vezes sendo o ideal focar na característica do clã primário. Além disso, há desbalanceamento, com algumas táticas mais viáveis que outras. Desbloqueios constantes ajudam a amenizar esses pontos negativos, porém o processo é lento, o que deixa as coisas meio repetitivas no início.Outro ponto de atrito é o desafio. A curva de dificuldade é acentuada e com grandes saltos, às vezes de uma batalha para outra. É comum uma estratégia forte subitamente ser reduzida a nada com o surgimento de algum inimigo capaz de anular cartas ou unidades. É possível checar quais chefes aparecerão no futuro, mas nem sempre isso é suficiente para permitir montar táticas para lidar com eles.
Particularmente, a sensação que eu tive é que o título é destinado àqueles mais dedicados que conseguem “quebrar” as mecânicas com combinações absurdamente fortes. Um ponto que reforça isso é o sistema de Pactos, que adiciona complicações progressivamente, como inimigos com mais vida ou desvantagens para o jogador. Além disso, grande parte do conteúdo está atrelada ao progresso nos Pactos, o que pode restringir o acesso a quem ainda está se familiarizando com o sistema.
Continuação com cara de expansão
Monster Train 2 é mais uma daquelas sequências que mantém a base intocada, ao mesmo tempo que introduz conteúdos inéditos. Dentre as novidades notáveis, temos as cartas de equipamentos, que permitem adicionar habilidades temporárias às nossas unidades; diferentes andares com vantagens específicas; núcleos de pira com características próprias e técnicas especiais que podem ser ativadas manualmente. Há também novas modalidades, como partidas de Desafio e Modo Infinito, que garantem horas de diversão.As inclusões são bem-vindas, adicionando uma camada interessante de complexidade e possibilidades estratégicas. No meu tempo com o jogo, fui capaz de montar unidades versáteis com a ajuda de equipamentos, acumulei grandes fortunas com uma sala que gerava dinheiro quando alguém morria e fui capaz de fazer mais ações em um único turno com um núcleo que me dava energia extra sob certas condições. Essas modificações ajudam a quebrar a repetição de certos aspectos e há muito o que explorar nelas.
Embora interessantes, as adições e mudanças têm impacto limitado, já que a base das mecânicas permanece praticamente inalterada. Com isso, fica a sensação que estamos jogando uma espécie de expansão em vez de uma continuação propriamente dita. Até mesmo os visuais e a música passaram por poucas alterações, o que o torna ainda mais parecido com o anterior.
Apesar disso, o título ainda continua sendo um sólido roguelike de construção de baralhos e, particularmente, recomendo a sequência no lugar do primeiro jogo. Há um claro foco em veteranos com recursos avançados e muitas opções para aumentar o desafio, mas novatos também conseguem aproveitar a experiência — um pouco de dedicação é necessária para conseguir avançar.
Um deckbuilder familiar e novo ao mesmo tempo
Monster Train 2 é uma continuação sólida que amplia os conceitos do primeiro jogo sem se afastar de sua essência. As novidades, como cartas de equipamento, núcleos de trem e novos modos de jogo, adicionam variedade e expandem as possibilidades táticas, mesmo sem revolucionar a fórmula. O sistema de combate continua envolvente e estratégico, equilibrando bem administração de cartas, posicionamento e criação de sinergias poderosas.Por outro lado, o título aposta alto em seu público mais experiente, o que limita parte do conteúdo aos que se aprofundam nas mecânicas. A dificuldade acentuada e a sensação de repetição de certas estratégias podem afastar quem procura uma experiência mais acessível. Ainda assim, Monster Train 2 oferece uma jornada robusta para quem está disposto a encarar seus trilhos tortuosos e explorar cada uma de suas possibilidades.
Prós
- Sistema de batalha singular que combina cartas, posicionamento e defesa de maneiras criativas;
- Boa variedade estratégica proporcionada pela combinação de recursos e mecânicas;
- Novidades interessantes que aprofundam as possibilidades estratégicas;
- Muitos modos de jogo para explorar.
Contras
- Há um pouco de repetição tática apesar da diversidade de conteúdo;
- Desafio desbalanceado e com picos estranhos de dificuldade;
- O conteúdo é liberado lentamente, e parte dele é atrelado a níveis altos de dificuldade;
- As novidades introduzidas na sequência têm impacto limitado, trazendo a sensação de expansão em vez de continuação de fato.
Monster Train 2 — PC/PlayStation 5/Xbox Series/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Big Fan Games
Análise produzida com cópia digital cedida pela Big Fan Games