Além da vida
Tudo começa quando Kulebra acorda após sua morte. Sem memórias sobre si mesmo, o personagem é um esqueleto de cobra com um fogo azul vívido que arde e brilha em seus olhos. Pouco após acordar, o personagem encontra uma senhorinha no pontapé inicial de sua jornada.Para poder avançar na região em que se encontra, Kulebra logo encontra algumas adversidades e descobre que o Limbo tem algumas peculiaridades. Em particular, todos vivem em uma espécie de loop, não sendo capazes de se lembrar do que fizeram no dia anterior e repetindo suas ações.
Apenas eventos significativos podem marcar as almas desses indivíduos e fazer com que eles se lembrem do que aconteceu. Além da questão das memórias, essas pessoas acabam vivendo uma espécie de eterna busca por resolver suas pendências. Conforme Kulebra interage com eles, poderá alterar suas rotinas e ajudá-los a resolver seus problemas.Um detalhe que me chamou bastante a atenção é que boa parte dos contextos de arrependimento da trama principal estão ligados à família. Expectativas demasiadas, sonhos frustrados de felicidade e a busca por aprovação se tornam feridas abertas nos relacionamentos entre os personagens.
Uma cobra de talentos
Kulebra começa já tendo uma curiosa habilidade de rolar. Além de se locomover mais rapidamente, esse poder também permite que o personagem bata nos objetos com força. Com isso, por exemplo, um item que está escondido ou em uma área superior pode ser derrubado no chão.Além do rolamento e da possibilidade de empurrar alguns objetos, teremos acesso a outras habilidades após conseguir novos artefatos. Já no início, encontramos uma tesoura que pode ser usada para cortar vinhas e depois podemos fazer algumas outras coisas como acender um fósforo.
De forma geral, a resolução dos desafios da obra é simples e intuitiva. Boa parte da experiência gira em torno de chegar em uma nova área e conversar com as pessoas que estão lá para descobrir os seus problemas. Temos então tarefas específicas, envolvendo ir a determinadas localidades e interagir com certas pessoas e objetos específicos.Há alguns puzzles mais elaborados, especialmente dentro de ruínas espalhadas pelas áreas do jogo. Porém, exceto pela parte final do jogo, que pode ser um pouco mais complexa pela estrutura labiríntica de corredores e portas não incluir um mapa, o jogo sempre se esforça em garantir que as resoluções sejam simples e claras.
Um mundo que requer atenção
Em meio a todas as questões do jogo, temos um mundo marcado pela rotina. No Limbo, as almas repetem o mesmo dia, agindo da mesma forma infinitamente a menos que um indivíduo como Kulebra interfira.No jogo, temos três momentos para ficar de olho na rotina dos personagens: o dia, a tarde e a noite. Em geral, para resolver os problemas, vai ser necessário estar em um desses períodos. Embora haja uma progressão automática, o jogador também pode manipular o tempo à vontade utilizando bancos e outros locais de descanso para avançar para um outro período do dia.
Se o jogador avançar direto para o próximo dia, é importante ter em mente que a natureza do mundo evoca o esquecimento, sendo possível perder parte do progresso de uma quest. Entendendo bem isso, o ideal é conseguir itens e “marcas de alma” que evitarão essa desvantagem.
Um detalhe que chama a atenção na resolução dos desafios é o foco da experiência na narrativa. Boa parte da experiência envolve dialogar com os personagens e conhecer seus problemas, o que o jogo também utiliza como desafio.Em certos pontos-chave da história, Kulebra terá que encarar almas tomadas pelas trevas. Desafiá-las envolve geralmente utilizar todos os artifícios daquele capítulo e também responder perguntas relacionadas ao drama daqueles personagens. Com isso, a atenção do jogador aos detalhes se torna uma arma poderosa que será necessária para avançar.
Honestamente falando, os detalhes sobre os personagens são profundamente cativantes e um dos pontos altos da obra, então a escolha é muito acertada para valorizar o que o jogo tem de melhor. Nesse contexto, é uma pena que o jogo não conte com tradução para o português, tendo em vista a alta importância do engajamento com o texto para a experiência.Também não temos um log para reler os textos se acabarmos passando rapidamente pelas falas. Apesar disso, temos um caderno com anotações sobre todos os pontos-chave de cada personagem e missão já assumida. A resolução de alguns casos também nos rende cartas especiais com mensagens variadas, servindo como um elemento colecionável, assim como a busca pelas pérolas escondidas nos cenários.
É hora de partir
Kulebra and the Souls of Limbo é uma jornada instigante por um mundo pós-morte no qual as pessoas estão presas em um ciclo causado por suas pendências psicológicas. Carismática e vibrante, a obra da Galla é uma experiência que vale a pena conhecer.
Prós
- Personagens carismáticos com dramas pessoais, muitos dos quais estão ligados a seus relacionamentos complexos com família e amigos;
- Desafios intuitivos de resolução de puzzles;
- A dinâmica do roteiro é explorada ainda mais com os questionamentos ao enfrentar os chefões;
- Kulebra tem habilidades bem curiosas para explorar os ambientes;
- O sistema de loop diário é bem aproveitado e confortável graças à opção de avançar quando quiser;
- O caderno mantém um registro de informações relevantes e das curiosas cartas obtidas na jornada.
Contras
- A área final do jogo pode ser um pouco confusa pela estrutura labiríntica e ausência de um mapa;
- Ausência de log para reler os textos.
Kulebra and the Souls of Limbo — PC/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fellow Traveller