A filha pródiga retorna
Antes conhecida como retalhadora, Tomoe retorna à região de Bakugawa como uma ronin que jurou nunca mais tirar vidas. Nesse lugar ainda marcado pela violência frequente, ela terá que encarar vários desafios enquanto se mantém fiel ao seu novo caminho.
Em termos da trama, vamos descobrindo pouco a pouco sobre as condições em que Bakugawa se encontra. Tomoe é mal vista por muitos cidadãos e temos claros indícios de uso truculento de força e opressão por parte do atual Shogun. Conforme conhecemos mais dos vários indivíduos e grupos da região, vemos um panorama realmente instigante de disputas de poder.
Porém, o ponto que mais chama a atenção é que a escolha de não matar mais impacta consideravelmente a gameplay e isso é feito de uma forma bem elegante: nosso formato de ataque é, primariamente, reativo. Em vez de partir para cima dos inimigos de qualquer jeito, o fundamental é avaliar o timing das suas ações para poder defletir suas lâminas, executando um desarmamento ao mesmo tempo que se defende.
Padrões e variações
Os padrões dos inimigos podem ser divididos em ataques brancos e vermelhos. Os primeiros podem ser defletidos, porém os outros não. A ideia então é usar isso como base para entender como reagir aos padrões dos oponentes, cujos ataques possuem sinais visuais na animação antes de serem executados.
Essa ideia simples é um dos pilares do combate, mas há um esforço significativo de design para fazer com que as batalhas sejam muito mais do que isso. Até mesmo em termos de um inimigo só, já temos detalhes como ataques que demoram mais para serem usados. Tentar defletir antes da hora fará o inimigo empurrar Tomoe, deixando o jogador vulnerável por um pequeno espaço de tempo.
Alguns golpes dos oponentes são executados em sequências específicas que podem, inclusive, alternar entre ataques brancos e vermelhos. Um mesmo “combo” pode ter variações, exigindo que o jogador tenha um pouco de maleabilidade para ajustar sua movimentação.
Porém, o que realmente torna os combates mais complexos é que encaramos ondas com inimigos com padrões diferentes e, possivelmente, elementos do cenário. Um bom exemplo disso é o bambu, pois se trata de um objeto que empurra o jogador caso ele o atinja em um movimento de defletir golpes. Alguns oponentes também podem criar armadilhas para causar dano se o player se distrair ao ir em sua direção.
Evolução e recursos
Além da deflexão, temos uma forma de “ataque” usando ki, mas esse recurso, na verdade, é uma forma de atordoar o inimigo. Nem todos os adversários possuem brechas para serem desarmados, e a ideia é justamente usar esses golpes para deixá-los vulneráveis.
Em geral, os oponentes possuem barras longas de energia que precisam ser destruídas para que esses golpes possam deixá-los atordoados. Por conta disso, os inimigos muitas vezes conseguirão reagir aos ataques e poderão recuperar sua energia se atingirem o jogador nesse período.
Além do golpe básico de ki, podemos usar “técnicas secretas” para reduzir ainda mais a energia dos oponentes. Porém, é necessário ter uma energia especial com símbolo de pétalas de cerejeira para poder usá-la. Enquanto isso, a corrida e as investidas de deflexão consomem “vigor”, um valor separado que retorna automaticamente quando não está sendo gasto.
Embora seja possível avançar com a forma inicial de Tomoe, o jogo conta com alguns modos de melhorar suas condições de combate. Primeiramente, temos as habilidades, que aprimoram as condições de Tomoe em combate, seja valorizando ainda mais o uso de seus “golpes” com timing preciso, adicionar versões longas da investida defletora ou do ataque de ki, entre outras coisas. Para desbloquear habilidades, é necessário eliminar chefes e obter pontos especiais.
Há também talismãs com efeitos passivos variados e chás que podemos preparar nos pontos de salvamento e recuperação de vida espalhados pelos mapas. A ideia é pegar plantas variadas nos cenários e usá-las como ingredientes para ter benefícios, como restauração de vida ou um boost temporário de vigor ilimitado.
Além disso, podemos encontrar “ídolos” de alguns inimigos, o que permite lutar contra eles novamente em arenas especiais. Ao vencê-los, podemos conseguir dinheiro para usar nas lojas do jogo para obter vários tipos de itens.
Estilo e questões técnicas
Um detalhe que precisa ser dito sobre Bloodless é seu estilo notável. Visualmente, temos uma estética de pixel art bem interessante, que combina elementos em preto e branco com outros em cores fortes. A técnica do jogo é bem peculiar também na iluminação, brincando com os pequenos focos de luz espalhados pelos mapas e as animações dos pixels coloridos da vegetação, da água e de outros elementos.
No campo sonoro, há um esforço em construir uma atmosfera adequada a um contexto de samurais. Os sons contemplativos remetem a instrumentos de sopro e corda tradicionais japoneses, utilizando ritmos compassados que ajudam a evocar uma perspectiva de época.
Apesar da alta competência audiovisual, é importante notar que há algumas dificuldades quanto à visibilidade e diferenciação do que é interativo e do que não é. Isso pode dificultar a exploração e deixar alguns combates confusos, especialmente no início.
O jogo também não conta com opções internas de remapeamento. Curiosamente, joguei com o mesmo controle em dois computadores distintos e acabei tendo esquemas diferentes de mapeamento associados a ele por padrão. Sem uma forma nativa de ajustar isso, só poderia jogar do mesmo modo nos dois utilizando as configurações do próprio Steam para forçar a mudança.
Ação e ousadia
Bloodless é um jogo ousado de ação que exige que o jogador tenha bastante atenção aos padrões dos inimigos e domine suas possibilidades de reação. Dentro de um contexto oriental apresentado em uma estética especial, o game é uma fácil recomendação para qualquer jogador que gosta de um bom desafio.
Prós
- Sistema de combate baseado em parry e dominação de padrões muito bem construído;
- Ambientação japonesa de época bem explorada em sua pixel art e trilha sonora;
- Trama instigante sobre opressão, disputas de poder e encarar um caminho diferente em meio à violência;
- Boa variedade de recursos para melhorar a personagem e adequá-la ao combate.
Contras
- A visibilidade dos elementos do mapa às vezes pode ser complicada por conta do estilo artístico;
- Ausência de opção de remapeamento dentro do jogo.
Bloodless — PC/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Point ‘N Sheep