Análise: Teenage Mutant Ninja Turtles: Tactical Takedown é um jogo de estratégia com alma de beat ‘em up

Primeira empreitada das cascudas num título tático acerta na jogabilidade, mas peca nos detalhes.

Tartarugas Ninja é uma propriedade intelectual que considero subaproveitada nos videogames. Apesar de haver bons jogos protagonizados pelos quelônios, é raríssimo vê-los em títulos que não envolvam pancadaria desenfreada ou algum platformer perdido em um portátil. 


Com a maior liberdade de grandes franquias caírem nas mãos de estúdios independentes, as tartarugas tiveram a oportunidade de adentrar o gênero tático com Teenage Mutant Ninja Turtles: Tactical Takedown. Desenvolvido pela Strange Scaffold, será que essa experimentação trouxe bons resultados?

Nem sempre unidos

Apesar de ser mais um produto baseado no desenho animado dos anos 1980, Tactical Takedown se assemelha mais à fase final da série clássica. Num período em que Splinter e o Destruidor estão mortos, as tartarugas precisam lidar com o Clã do Pé, liderado por Karai, que se aliou a Baxter Stockman para causar o caos.

Controlamos cada personagem separadamente, e as missões são estruturadas como se estivéssemos em tabuleiros divididos por grids. O objetivo é sobreviver derrotando inimigos e progredindo nas fases, tomando cuidado com possíveis armadilhas e evitando ficar muito para trás no cenário, já que ele vai removendo partes anteriores pouco a pouco.

Tactical Takedown segue uma estrutura de jogo de turnos, e a regra básica é bem simples de entender. Por padrão, contamos com seis pontos de ação no início de cada rodada, que podem ser gastos com movimentação e ataques. Alguns ataques requerem mais de um ponto, mas podemos conseguir mais ações dependendo da passiva de uma habilidade.

Por exemplo, Raphael consegue um ponto extra ao nocautear um inimigo, compensando sua força mais baixa. Para aproveitar esse recurso, é necessário planejar nossas ações para tirar melhor proveito dos recursos disponíveis, derrotando as ameaças certas nas horas corretas e na posição adequada.

Como precisamos ir de um ponto A ao ponto B, há um certo espírito de beat ‘em up em Tactical Takedown. Os inimigos caem em posições aleatórias, e, para progredir, precisamos derrotá-los antes que eles se acumulem demais, o que pode gerar uma bela dor de cabeça se formos descuidados.

Ao perder todo o HP, perdemos uma vida e podemos posicionar o personagem em qualquer canto do tabuleiro. Se perdermos todas, a missão deve ser reiniciada desde o começo.

Cada tartaruga conta com uma entre quatro habilidades ultimate, que precisam ser carregadas conforme nocauteamos os meliantes. Elas não consomem pontos de ação e podem ser usadas como oportunidade de controle de grupos em uma estratégia ofensiva, ou mesmo como uma defesa após uma jogada que não saiu como planejado.

Repetir para aperfeiçoar

A estrutura base do título em si é bastante viciante. É muito satisfatório planejar nossos movimentos para fazer algum inimigo cair numa armadilha no turno dele, jogando-o para fora da borda do mapa ou aproveitando alguma formação inimiga que nos dê alguma vantagem — Michelangelo, por exemplo, anda um quadrado no seu ataque básico, o que é perfeito caso todos os ninjas inimigos estejam numa fileira ou nos cercando.

A narrativa reserva algumas surpresas para quem conhece a franquia, mas o texto remete bastante ao programa de origem. Infelizmente, não há tradução dos textos para português, prejudicando a compreensão da história e de algumas mecânicas.

Para dar uma pequena variada no leque de opções, podemos acessar uma lojinha para adquirir habilidades distintas para cada tartaruga. O problema é que sua existência não é explicada com clareza, e eu só fui descobrir que isso era possível quando vi a opção de customização de loadouts na metade do jogo.

Por outro lado, as missões ficam bem repetitivas, principalmente pela falta de variedade nos próprios cenários. Na maior parte do tempo, cada herói possui seu próprio estilo de fase. Donatello sempre estará nos esgotos com poços venenosos, Mike ficará limpando as ruas dos vilões com ajuda ocasional de civis, Raphael fica em telhados com relevos, e Leonardo em trens e outras localidades mais fechadas.

É justamente por isso que Teenage Mutant Ninja Turtles: Tactical Takedown é excelente para sessões curtas, e eu adoraria jogar esse tipo de jogo num console portátil. Concluir uma ou duas missões e continuar depois ajuda a amenizar a repetitividade, mas em poucos minutos percebemos que não há muita variação no que vemos e podemos fazer.

Detalhes comedidos

Ainda sobre essa simplicidade, a parte visual é um problema em sua tentativa de chamar a atenção. Como mencionado, parece que estamos sempre em tabuleiros, e isso inclui todos os personagens em campo, que se parecem com peças. Em termos funcionais, cumpre o que propõe. Porém, não há muitos floreios de animação ou ceninhas, como num Fire Emblem, e as próprias mesas não são tão elaboradas artisticamente.

É fácil se acostumar com a proposta geral quando começamos a jogar, mas é válida a comparação com outros jogos de Tartarugas Ninja ou mesmo táticos, como Wargroove. Nem os momentos de história — que não vão muito além do que esperamos da franquia — possuem grandes cenas ou artes feitas para ilustrar algum acontecimento importante, como o final da curta campanha.

Entretanto, preciso destacar que as artes que o jogo apresenta são muito bonitas. É muito raro usarem as fases finais do desenho de 1987 como base para algo, em que as tartarugas estão mais sérias e sem pupilas, e vê-las com um estilo de arte mais moderno é bastante interessante.

E também deve-se ressaltar a parte musical de Teenage Mutant Ninja Turtles: Tactical Takedown. Indo para uma direção completamente diferente do esperado, temos batidas eletrônicas que remetem a músicas mais modernas, puxando para o lo-fi, trap e outros estilos mais urbanos. É uma pegada diferente de qualquer outro jogo de Tartarugas Ninja e combinou perfeitamente com a proposta mais cadenciada.

Uma pizza experimental que pode ser ainda melhor

Teenage Mutant Ninja Turtles: Tactical Takedown acerta muito na cadência dentro do gênero tático, ao priorizar um combate mais agressivo, que se assemelha a uma dança quando conseguimos aplicar nossas estratégias rapidamente e explorar as vantagens de cada herói.

Por outro lado, é um título que ganharia muito mais com um refinamento maior nos detalhes. Os cenários e animações são muito simples, não há muitas ilustrações para contar melhor a narrativa, e até algumas mecânicas, como a da loja, são mal explicadas. É uma iniciativa bem experimental que funciona bem em sua base, mas há espaço para melhorias — e espero que não parem aqui.

Prós:

  • Sistema tático dinâmico, brincando com regras de jogo de estratégia e beat ‘em up;
  • Cada tartaruga possui um leque bem distinto de habilidades, oferecendo abordagens diferentes para as situações;
  • Apesar de ser baseado no desenho clássico, pega uma parte pouco explorada em outras mídias;
  • Trilha sonora excelente e bem diferente do que é associado aos jogos da franquia Tartarugas Ninja.

Contras:

  • Pouca variedade de mapas deixa o jogo repetitivo em longas sessões;
  • Visuais pouco chamativos e pouco detalhados;
  • Ausência de tradução dos textos para português.
Teenage Mutant Ninja Turtles: Tactical Takedown — PC — Nota: 7.5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Strange Scaffold
OpenCritic
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Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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