Análise: Scar-Lead Salvation — mais um exemplo de potencial desperdiçado

Uma garota sem memória precisa escapar de uma instalação militar repleta de robôs e, se não der certo, é só morrer e tentar de novo.

Para quem gosta de escapar de uma sala apertada cheia de inimigos utilizando recursos escassos e que podem ser perdidos a qualquer momento, Scar-Lead Salvation parece ser uma boa pedida. Infelizmente, essa mistura de bullet hell e roguelike traz uma ideia interessante, mas que acabou derrapando na hora de entrar em ação.

Um looping realmente exaustivo

Em Scar-Lead Salvation, controlamos Willow Martin. A garota acorda em uma espécie de complexo militar, composto por vários pisos. Seu corpo foi modificado com uma armadura de combate e possui um número de série tatuado em seu rosto. Ao longo de sua jornada, ela conversa com uma inteligência artificial, que dá dicas pontuais, mas não tão claras, do que está acontecendo.

A jogabilidade é simples e fácil de assimilar. Nossa heroína com problemas de memória pode carregar até duas armas de longo alcance e usar um ataque curto para abater inimigos próximos e até repelir ondas de projéteis. Além disso, ela conta com um tipo de esquiva, que a deixa invulnerável e pode ser utilizada no ar.

Pelo caminho, encontramos itens em caixas que podem trazer melhorias, como aumento na barra de vida, força, velocidade de disparo ou recarga da arma, entre outras. No começo, só podemos equipar um, porém, ao evoluirmos, a capacidade aumenta para até quatro. Se encontramos algum chip repetido, ele sobe de nível, tornando-se mais eficaz, na teoria.

Na prática, parece que não há uma melhora efetiva nos equipamentos e força de Willow. Ficou a sensação de que o estrago que estamos causando ficou maior, mais destrutivo. Faltou impacto, e isso pode ser resultado de uma série de coisas.

A primeira é que as armas, por mais que tenham diferentes tipos de feixes de disparos, parecem iguais. Não importa se algumas delas funcionam com uma proximidade menor ou não, todas aparentam ter o mesmíssimo poder destrutivo. Passa até a impressão de não valer a pena ficar procurando por uma melhor que a atual.

Outro ponto é a repetitividade de salas e inimigos. Com exceção das batalhas contra os chefes, que trazem um pouco mais de empolgação, o resto do jogo se baseia em explodir diferentes variações de robôs em salas conectadas por corredores. 

Cada setor tem cinco pisos, com cômodos gerados proceduralmente, porém não há tanta criatividade, pois é fácil identificar padrões de inimigos e paredes que não tardam a aparecer mais de uma vez em um curto espaço de tempo. Encontrar as mesmas formações e hordas acaba aumentando a sensação de repetitividade e diminuindo a complexidade do desafio encontrado.

Entretanto, a câmera vem para dar uma complicada nas coisas, mas pelos motivos errados. O controle dela é livre e, por estarmos em um shooter tridimensional, é necessário ajustá-la a todo momento, seja para focar nos inimigos ou para explorar o espaço. Com a progressão, as hordas se tornam mais numerosas e há robôs que só aparecem após eliminarmos a primeira leva. Dependendo de onde estamos, eles acabam surgindo na nossa retaguarda e, assim, levamos dano à toa. 

Isso poderia ser facilmente resolvido com a adição de uma função para centralizar a câmera de acordo com a posição de Willow na tela. Dessa forma evitaria o desconforto de ter que ficar rotacionando e procurando o ângulo frontal na raça a todo momento.


Se morremos em combate, nós automaticamente voltamos ao início do primeiro piso, de bate-pronto. Por mais que esse looping faça parte da narrativa para que Willow tente entender como chegou ali, também vale ressaltar que ela, vez ou outra, solta frases sobre estar cansada daquilo e que poderia descansar um pouco. É exatamente assim que os jogadores podem acabar se sentindo depois de algumas partidas em Scar-Lead Salvation.

Bonitinho, mas ordinário

Por mais que a estética evoque a arte japonesa dos animes, o estilo visual do jogo também carece de apelo, pois parece que só houve algum esforço no modelo da protagonista. As cenas animadas dão bastante destaque para Willow, inclusive há o sutil detalhe dela perder partes da armadura ao receber dano.

Entretanto, o resto do complexo que ela se encontra, mais uma vez, sofre com a falta de criatividade. A primeira área é a mais crítica, com suas intermináveis paredes brancas e robôs esféricos e cilíndricos. Apenas ao nos aproximarmos do quinto, e último, andar que há uma tímida variação na iluminação. Os locais seguintes até trazem uma modificação ambiental, como paredes congeladas, porém, ainda assim, é sempre mais do mesmo.

Outro aspecto que pode causar estranheza é o quanto a protagonista fica “borrada” enquanto se movimenta. Não é aquele motion blur comumente usado para mostrar uma velocidade fora do comum, e sim algo um pouco menos cuidadoso e feio.

O quesito sonoro também falha em tentar dar algum tipo de apoio à ação. Apesar da dublagem até que bacana dos personagens, as músicas de fundo falham grotescamente em tentar trazer algum tipo de emoção e adrenalina para um jogo que prima pelas trocas de tiro constantes.

Mais uma vez, o que se salva são as batalhas contra os chefes. Além delas trazerem criaturas diferenciadas, quebrando o ritmo de ameaças robóticas, apresentam padrões de cores diferenciados e trilhas sonoras mais elaboradas. Por mais que isso já seja algo de praxe em uma infinidade de outros jogos, aqui, por questão da falta de personalidade como um todo, acaba virando uma qualidade a ser salientada.

Uma missão enfadonha

Scar-Lead Salvation vacila com algo que poderia ser grandioso e entrega uma experiência bem fraca. Por mais que seja um jogo com controles até bastante competentes, todo o conjunto é comprometido pela falta de criatividade com inimigos, história e fases, que se baseiam em um looping eterno que deixa até a protagonista cansada.

Prós

  • A jogabilidade não compromete e cumpre bem seu papel;
  • O modelo da protagonista é visualmente caprichado;
  • As lutas contra os chefes são o ponto alto do jogo.

Contras

  • As fases sempre replicam os mesmos padrões de inimigos e salas, criando uma repetitividade enorme;
  • Falta de variedade de e capricho visual com os cenários;
  • A música não causa nenhum impacto durante o jogo;
  • O looping de morrer e começar de novo é cansativo, mesmo para um roguelike;
  • A câmera livre cria diversos pontos cegos.
Scar-Lead Salvation — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International
OpenCritic
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Carlos França Jr.
é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no @carlos_duskman
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