Análise: Moroi é uma fábula de fantasia sombria de tirar o fôlego

É hora de embarcar em uma aventura gótica e sombria em busca das suas memórias.

em 03/05/2025
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Em meio à avalanche de jogos que nos soterram todos os dias, com grandes lançamentos multimilionários, é comum que algumas joias brutas acabem passando despercebidas pelos olhos mais desatentos. Vindo do estúdio estreante Violet Saint e lançado exclusivamente para PC, Moroi é uma obra que se encaixa nesse perfil — mas que tem o potencial de furar a bolha e se tornar um nome lembrado quando falarem de 2025.

“Não sei meu nome, quem sou ou o que estou fazendo aqui.”

Mistério é a palavra que melhor define o sentimento transmitido por Moroi. Entender o motivo de as coisas estarem acontecendo — ou por que o mundo parece tão distorcido — faz parte da experiência.

Aqui, assumimos o papel de um prisioneiro sem nome que perdeu a memória. Confuso e sem entender como foi parar naquela situação, ele começa a explorar o ambiente ao seu redor e logo percebe que este mundo não é normal. Nas celas vizinhas, encontra bruxas, magos, monstros e máquinas falantes. Ao conversar com eles, o protagonista rapidamente compreende que precisa escapar dali o quanto antes e parte em uma jornada em busca da verdade — de quem ele é e que lugar é aquele.


Ao longo do caminho, o sem nome encontrará algumas armas que lhe darão a ilusão de segurança. Mesmo que esteja empunhando um machado, porrete, espada ou canhão, talvez isso não seja suficiente para enfrentar os perigos que o aguardam nas profundezas das masmorras.

Contar mais do que isso seria estragar boa parte das surpresas que o jogo reserva, já que o mistério é um elemento central da narrativa que ele tenta construir. Moroi é aquele tipo de jogo em que, quanto menos você souber, mais irá se surpreender ao longo da aventura.

Muito desse impacto se deve à estética e à construção de mundo adotadas pelo jogo. A atmosfera de fantasia sombria, com toques de terror, gera um sentimento constante de desconforto — como se aquele mundo não o quisesse ali. Independentemente de onde você vá, nunca será bem-vindo, e tudo que se move tentará matá-lo. Mesmo aqueles que aparentam ser confiáveis podem tentar cravar uma faca nas suas costas na primeira oportunidade.

A beleza do mundo, o horror da jogabilidade


A estética sombria e opressora do mundo de Moroi é, sem dúvidas, seu aspecto mais marcante. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da jogabilidade, que se resume ao funcional — e nada além disso.

Durante a jogatina, fica evidente que o principal objetivo dos desenvolvedores era contar uma ótima história, independentemente do orçamento limitado ou da inexperiência do estúdio — mesmo que isso implicasse sacrificar outras partes do jogo.

Assim que o jogador assume o controle do personagem, nota rapidamente o quão simples é tudo: desde a movimentação e a interação com o cenário até, principalmente, o combate — que é desengonçado, impreciso e, em muitos momentos, frustrante, especialmente nas lutas contra chefes.

A perspectiva isométrica fornece uma visão ampla dos ambientes, o que ajuda a lidar com as enormes hordas de inimigos. Entretanto, seja no corpo a corpo ou com armas à distância, o combate carece de peso e impacto. O personagem não reage aos ataques dos inimigos — e vice-versa. Não há uma leitura clara de dano infligido ou recebido, e você só percebe que morreu quando a mensagem “pressione X para recomeçar” surge abruptamente na tela. Agora, imagine tudo isso somado a uma pitada generosa de bugs.


Esta análise foi escrita antes do lançamento oficial do jogo. Alguns dos problemas descritos podem ser corrigidos em atualizações futuras — mas não há garantias. Na minha experiência pessoal, enfrentei os mais variados tipos de bug: save corrompido, travamentos, chefes com vida infinita, inimigos surgindo debaixo do chão, elevadores que nunca chegavam, loadings intermináveis, objetivos que não apareciam, NPCs que não deixavam cair o item necessário para concluir uma missão… sem mencionar a trilha sonora, que, ao longo das minhas nove horas de jogo, simplesmente não tocou uma única vez. Mesmo que você tente relevar todos esses defeitos para aproveitar a história, sua experiência será inevitavelmente comprometida.

Contudo, o jogo não se resume ao combate desengonçado. As seções de luta são menos frequentes do que o esperado para o gênero. Na maior parte do tempo, nosso protagonista sem nome estará andando de um lado para o outro, realizando tarefas para outros personagens em troca de pistas sobre seu passado ou instruções sobre como escapar da prisão.

O fato de o jogo funcionar como um “simulador de caminhada” — ou de fazer favores para desconhecidos — pode afastar jogadores não acostumados com tanto texto ou leitura, especialmente se a trama e seus mistérios não o capturarem logo de início.

Um livro jogável (ou quase isso)


Além dos diálogos com os personagens que cruzam nosso caminho, o protagonista mantém um diário que é constantemente atualizado com seus pensamentos. A leitura desse diário, além de essencial para compreender a história por completo, é interessante por si só, com uma escrita envolvente que eleva o tom épico da aventura em busca da verdade.

Essa é, talvez, a parte mais recompensadora do jogo: toda a jornada gótica e sombria, repleta de desafios que parecem intransponíveis à primeira vista; a busca incessante pela verdade; desvendar os mistérios daquele mundo e entender suas regras… é aí que Moroi brilha.

Infelizmente, alguns desses méritos são ofuscados por limitações técnicas e orçamentárias. Ainda assim, é impossível não perceber o amor dos criadores ao contar essa história — a dedicação e o desejo de fazer muito com tão pouco.

Se todos esses aspectos chamam sua atenção e você está disposto a relevar os eventuais problemas técnicos, Moroi é um prato cheio à sua espera. Ele pode não ser o melhor no que se propõe a fazer, mas é extremamente corajoso na história que se propõe a contar.

Prós

  • Narrativa envolvente e misteriosa;
  • Estética gótica marcante e imersiva;
  • Diálogos e diário bem escritos. 

Contras

  • Jogabilidade desengonçada e frustrante;
  • Bugs e problemas técnicos.

Moroi —  PC — Nota: 7.0

Revisão: Beatriz Castro
Análise feita com cópia digital cedida pela Good Shepherd Entertainment

OpenCritic
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Kevyn Menezes
Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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