O início da jornada de Alice
Enquanto estava regando as plantinhas no seu quarto, uma jovem garota encontra um coelho e corre atrás dele. A perseguição termina com a garota caindo em um abismo e engolindo uma semente falante misteriosa.
Sem uma forma de voltar para casa, a garota chamada Alice e sua nova parceira (a semente) decidem explorar essa região. Na sua mão, ela porta uma tesoura, que encontra após a sua queda, mas, fora isso, ela não parece ter nada em suas posses que possa ajudar nessa jornada.
De forma geral, a obra traça paralelos com elementos conhecidos do mundo de Lewis Carroll. Não apenas temos aqui uma Alice que persegue um coelho (que aqui é verde), como também podemos encontrar o chapeleiro maluco, a lebre, o gato risonho, entre outras figuras clássicas. Porém, há também uma forte ênfase nas plantas para a construção do mundo, que acaba gerando algumas reviravoltas curiosas.
Uma história parcialmente randomizada
Slay the Alice é uma obra de aventura textual que funciona na maior parte do tempo como uma visual novel, mas também possui alguns trechos de point-and-click. O principal diferencial da obra é que os eventos da trama seguem uma estrutura aleatorizada.Após a introdução (que pode ser pulada ao começar novamente o jogo), entramos em uma espécie de caminho feito por vários nós interconectados. Cada um desses pontos que podemos selecionar dá início a um evento para avançar a trama, sendo boa parte deles aleatório.
É necessário que esses pontos estejam diretamente ligados por uma linha para se tornarem opções viáveis. Além disso, vale destacar que não é possível voltar atrás, apenas seguir em frente rumo ao Castelo de Corações na área mais ao norte do reino.O mapa tem nós diferentes a cada nova tentativa e o jogador pode usar o mouse para conferir as opções e planejar seu caminho desde o início se quiser. Embora não seja possível saber quais eventos serão vistos na maior parte do caminho graças à aleatoriedade, há certos pontos de efeito fixo, fazendo com que essa capacidade de conferir o mapa seja de grande ajuda no planejamento.
De forma geral, o jogador deve tentar conseguir cinco flores antes de chegar ao castelo. Sem entrar em muitos detalhes, com elas, será possível obter finais alternativos no encontro com a rainha. Por conta disso, há uma dose interessante de planejamento e sorte envolvida nessa progressão, embora a experiência seja bem fácil de forma geral.
Outros elementos importantes para se ter em mente são a vida e as “bolotas”, fruto seco que é tipicamente associado a esquilos. Começamos o jogo com oito pontos de vida e perder todos no caminho implica em Game Over. Já as bolotas servem como moeda de troca para um evento com uma árvore, então é um risco adicional que o jogador pode assumir para conseguir as flores.
As variações dos nós
Cada nó pode ser categorizado em quatro estilos diferentes, cada um com suas peculiaridades. Há três pontos de Main Story no mapa, sendo eles regiões em que os eventos são fixos para que todos os jogadores passem por eles.Do lado contrário, os pontos de Random Story (a maior parte do mapa) trazem eventos aleatórios que demandam decisões do jogador. Dependendo da escolha, é possível ter resultados variados.
Há ainda os pontos de Safe Garden, áreas seguras em que é possível escolher entre restaurar vida ou conseguir uma flor. Por fim, o Dangerous Plain é um outro ponto que pode ser usado como uma espécie de aposta: um monstro persegue Alice e devemos escolher entre três esconderijos.
Cada ponto para se esconder tem a sua própria porcentagem de chance de acerto, sendo o armário um local em que Alice nunca será encontrada, mas não ganhará nada em troca. Enquanto isso, a chance de Alice ser encontrada nos outros locais é alta, mas ela poderá ganhar uma flor e bolotas. Se falhar, porém, terá que escolher entre perder quatro pontos de vida ou uma flor.
Um país de maravilhas
No lado técnico, Slay the Alice tem uma arte em pixel muito fofa e colorida para os personagens e eventos. Porém, há um contraste disso com elementos de terror, que são bem frequentes na trama. Isso se reflete não apenas na escrita de alguns eventos macabros, como também visualmente, sendo especialmente interessante os raros momentos em que o jogo brinca com glitches visuais como se o jogo estivesse falhando.Vale destacar que o mapa é como uma página de um livro antigo e os trechos de história são apresentados com um pequeno quadro em meio a uma tela majoritariamente preta dando igual destaque ao texto na lateral. Com o tamanho reduzido, essas cenas destacam exclusivamente elementos importantes e são animadas. Ao redor delas, é possível ver elementos retangulares que emulam os filmes físicos do cinema antigo.
Infelizmente, de forma geral, a experiência é curta demais para desenvolver a fundo as suas ideias. Tanto em termos de gameplay quanto em termos dos elementos mais inusitados da trama, fica a sensação de que o jogo poderia ser ainda mais interessante com um pouco mais de desenvolvimento.
Mesmo para fazer todos os eventos, o jogador não precisa de mais do que uma hora. Pessoalmente, o único que acabei demorando a ver foi um que só podia ser encontrado realizando uma decisão em outro evento que envolve receber dano.
Como há pouca variedade de eventos, no fim das contas, a estrutura de roguelike não traz grandes mudanças entre as tentativas. Isso não significa que o jogo seja ruim de fato, mas que ele acaba tendo um desenvolvimento mais superficial. Por conta disso, não há grandes atrativos para jogar novamente além de obter os finais e conseguir todas as conquistas do Steam.
Após terminar, também liberamos uma espécie de tamagotchi. Podemos gerar efeitos específicos selecionando imagens de personagens do jogo. A ideia do jogo é que o jogador vá testando os efeitos de cada um para tentar alterar as condições da árvore e liberar uma espécie de imagem completa com todos os elementos desbloqueados.
Uma experiência narrativa curiosa
Slay the Alice é uma aventura textual simples e curiosa que brinca com os elementos de Alice no País das Maravilhas. Por conta de seu tamanho, do pouco conteúdo e de alguns elementos mal explicados da trama, o conceito de roguelike narrativo acaba dando a sensação de que havia mais para se explorar. Porém, para quem gosta do estilo e quiser uma experiência rápida e curiosa, esta é uma obra que pode valer a pena mesmo assim.
Prós
- Ambientação curiosa que consegue trazer uma mescla de elementos fofos e sombrios;
- Tentar alcançar os finais alternativos envolve uma dose de planejamento e sorte;
- Poder conferir todo o mapa é um ótimo auxílio para planejar o progresso de forma mais segura;
- O “tamagotchi” liberado após concluir a trama é um extra divertido de explorar.
Contras
- Curto demais para explorar mais a fundo os conceitos de gameplay e a trama;
- A pouca variedade de eventos faz com que não haja tanto fator replay quanto se espera de um roguelike;
Slay the Alice — PC — Nota: 6.5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela WSS playground