Análise: Indiana Jones e o Grande Círculo é uma jornada digna de um grande blockbuster

Acompanhe uma aventura inédita do icônico arqueólogo numa experiência de primeira linha e respeitosa com o legado da franquia.

em 18/12/2024

Indiana Jones é uma daquelas franquias populares que nunca tive oportunidade de assistir, seja pela minha idade ou pela pouca presença na TV, tal qual Star Wars até o Episódio VII. Entretanto, quando Indiana Jones e o Grande Círculo foi anunciado, fiquei imediatamente atraído naquele primeiro trailer, com a sensação de aventura e ação acompanhada por mais uma engenhosidade sonora de John Williams no tema principal.

Desenvolvido pela MachineGames, o pessoal que trouxe os títulos mais recentes de Wolfenstein, a primeira aventura em muito tempo do arqueólogo já veio trazendo uma polêmica: ser em primeira pessoa. Eu me arrisquei a explorar o mundo de Indy sem assistir aos filmes, e a conclusão que tive é certeira: facilmente um dos melhores jogos de 2024, e algo que a Microsoft realmente precisava em seu catálogo de produções. 

A corrida arqueológica

O Grande Círculo situa-se em 1937, dois anos antes de estourar a Segunda Guerra Mundial e entre os eventos dos filmes Caçadores da Arca Perdida e Última Cruzada, com uma história inédita. O Dr. Jones está em sua vida comum em Marshall College, quando o museu da faculdade é invadido por um gigante, que acaba levando um artefato supostamente sem grande valor.

Se indagando sobre o motivo do roubo, Indiana inicia uma investigação que o leva ao Vaticano, onde descobre que o artefato era apenas uma das diversas chaves para o Grande Círculo, um círculo alinhado à Terra que esconde mistérios. O seu prometido poder é de interesse de Emmerich Voss, agente nazista que busca poder para seu Führer.

Nisso, partimos para uma aventura por diversos países do mundo atrás dos misteriosos segredos, sendo praticamente uma corrida entre Indiana Jones e os nazistas. Claro que cada local que ele pisa dá origem a narrativas paralelas, em que acaba descobrindo várias coisas além da lenda principal.

Na jogabilidade, toda essa narrativa é apresentada através da exploração. A maioria das localidades que visitamos são representadas como grandes campos abertos para explorar, realizando objetivos de missão, obtendo informações em bilhetes ou coletando objetos, além de resolver quebra-cabeças e desvendar calabouços antigos. 
 
Cada mapa apresenta um objeto que será utilizado dali em diante para a solução de algumas tarefas. A câmera fotográfica que compramos no Vaticano, por exemplo, é largamente utilizada para obter pontos de aventura, nos dar dicas sobre alguns puzzles e nos imergir em algum ângulo de visão mais contemplativo em algumas situações. Esses pontos são utilizados para adquirir melhorias através de folhetos que encontramos, conferindo mais vida, maior força no combate, mais habilidade furtiva, entre outros.

Para lidar com os inimigos, o domínio da furtividade é essencial. Como se espera de Indiana, podemos usar elementos do cenário como armas improvisadas, empurrar inimigos de beiradas e utilizar o surpreendentemente útil chicote para desarmar ou puxar qualquer um. Além disso, podemos usar algumas armas de fogo ou nossos próprios punhos. A IA dos inimigos é bem lenta, permitindo uma margem de erro considerável para lidar com uma situação inesperada.
 
É nesse ponto que preciso destacar que o jogo estar em primeira pessoa não faz a menor diferença na premissa de ser o próprio Indy, especialmente por não termos um verdadeiro shooter de ação aqui. Como toda a movimentação do aventureiro é cadenciada, cada subida de uma beirada, chicote enganchado e até o combate mano a mano, leva um tempo a mais do que se espera de um protagonista de FPS.

O momento de aventura ocorre majoritariamente em algumas masmorras, sendo os locais que se esperam de um jogo com essa premissa de explorador. São nelas que estão localizados os quebra-cabeças, momentos de plataforma utilizando o chicote para ir de um ponto a outro, e relíquias secretas para procurar. Nada é tão complicado e são desafios intuitivos, e mesmo na falha, o game não é tão punitivo.
 
E, claro, uma aventura de Indiana Jones não seria a mesma se não houvesse momentos catárticos em que precisamos agir rápido para evitar problemas. Gostei que essas situações são breves e mais relacionadas a terminar um mapa, o que as torna não só bem proveitosas, como marcantes para a narrativa — o que acontece nos Himalaias, em especial, me pegou com sorriso no rosto durante todo o ocorrido.

Um filme em uma visão de videogame

Talvez a maior responsabilidade de O Grande Círculo fique para a apresentação visual. Novamente, eu não havia assistido aos filmes de Indiana Jones antes de jogar — mas consegui assistir A Última Cruzada durante meu processo de jogatina —, entretanto, friso que a estética apresentada pela MachineGames de simular um filme antigo, especialmente dos anos 1980, é feita com perfeição.
 
A fotografia, a construção dos locais simulando a arquitetura dos anos 1930 numa visão oitentista, e os cortes de câmera em algumas cenas claramente remetem a filmes da época. E não há exemplo melhor para demonstrar essa perícia logo na primeira cena do jogo, simulando a primeira aparição de Jones na América do Sul, replicada com perfeição e adaptada com maestria tanto ao ângulo de visão em primeira pessoa, quanto nos cortes idênticos ao filme.

O trabalho de som de O Grande Círculo é fantástico em todos os aspectos e também colabora com esse sentimento cinematográfico. A trilha sonora dinâmica se adapta a cada situação, os efeitos sonoros exagerados de um filme antigo, a dublagem de altíssima qualidade tanto em inglês (com destaque claro a Troy Baker, emulando a voz de Harrison Ford) quanto em português, tudo é feito com o devido carinho.

Na parte totalmente técnica, O Grande Círculo é um legítimo jogo de atual geração, especialmente por utilizar a tecnologia de ray tracing para sombras obrigatoriamente. No PC, plataforma em que joguei, o jogo é bastante pesado e assusta pelos seus exigentes requisitos técnicos, mas o título é surpreendentemente bem otimizado e, com sinceridade, os requisitos são exagerados — apesar de não mentirem na exigência de memória VRAM.

É claro, há umas polêmicas em relação a isso. O jogo claramente teve ajuda da Nvidia em suas tecnologias, o que deixa apenas os recursos proprietários da marca de placas gráficas como opções. É necessária uma placa RTX para jogar, e as únicas tecnologias de upscaling e geração de quadros oferecidas são as da própria Nvidia. Usuários de GPUs AMD e Intel terão que se contentar com o desempenho puro, ou usar ferramentas de terceiros como Lossless Scaling.



Nem tudo é perfeito mesmo com toda essa atenção. Durante as cenas, frequentemente ocorrem quedas de fps na animação dos personagens mesmo que, internamente, o jogo esteja rodando em uma taxa estável; sombras em maiores resoluções para objetos menores como janelas renderizam perto demais do personagem; e alguns cortes de cena possuem defeitos de renderização rápidos.

Outro problema geral que, infelizmente, parece comum em produções da Bethesda, é a questão da escolha de idiomas. Se você quiser jogar em português, obrigatoriamente terá que se contentar com a dublagem nacional; já caso queira se aventurar com o áudio original em inglês, o texto também vai junto. Não me importei em jogar dublado, dado que adoro a dublagem brasileira, mas a falta de opção é imperdoável para aqueles que querem a experiência totalmente fiel ao original.
Um momento que passei sorrindo de tão divertido que foi.
E não é bastante, a troca de idiomas não é fácil em plataformas Xbox de forma geral. No Steam, onde joguei, basta uma simples troca no menu do cliente. No console da Microsoft e no aplicativo do Xbox Game Pass, é necessário alterar o idioma inteiro do sistema para isso, tornando revoltante uma coisa tão básica ser tão complicada na (teoricamente) principal plataforma idealizada pela publicadora.

Um grande exemplo de produção licenciada

A MachineGames entendeu muito bem o material base para fazer de Indiana Jones e o Grande Círculo não só um ótimo jogo por si só, como também um capítulo a mais que complementa a história da franquia. Creio ser uma porta de entrada muito bem-vinda para aqueles que não conheciam as peripécias do doutor, que podem entender suas influências enquanto vivenciam uma jogabilidade digna dos melhores Wolfenstein da desenvolvedora.
 


E, claro, uma oportunidade de socar fascistas e nazistas nunca deixa de ser empolgante, especialmente quando somos um aventureiro com socos exageradamente potentes.

Prós:

  • Narrativa empolgante que adiciona mais um capítulo à história de Indiana Jones;
  • Direção de arte que simula uma produção cinematográfica dos anos 1980 com excelência técnica;
  • Jogabilidade livre o suficiente para permitir criatividade nas abordagens do jogador, mas acessível o suficiente para qualquer público;
  • Ambientação imersiva, tanto pelos gráficos quanto pela excelente direção sonora;
  • Dublagem em inglês e português feita com bastante cuidado.

Contras:

  • As exigências proprietárias da Nvidia limitam o uso de recursos de upscaling e desempenho de outras empresas;
  • Problemas de taxa de quadros na animação dos personagens em cenas;
  • Obrigatoriedade de sincronizar o idioma escrito com o áudio, o que exige mudar o idioma do sistema nos consoles e no aplicativo Xbox de PC.
Indiana Jones e o Grande Círculo — PC/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bethesda Softworks
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Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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