Resident Evil: The Umbrella Chronicles — um interessante (mas não necessário) capítulo da franquia.

Recontar os acontecimentos dos primeiros jogos é uma ideia interessante, mas não o suficiente para escrever seu nome na história da franquia.

em 29/11/2024

Lançado originalmente para o Nintendo Wii em 2007 e, mais tarde, adaptado para outras plataformas, Resident Evil: The Umbrella Chronicles é um dos esforços da Capcom para explorar a rica mitologia da franquia por meio de um formato diferenciado: o rail shooter. Em vez do survival horror tradicional que definiu a série, este título se aproxima de experiências arcade como House of the Dead, colocando os jogadores em trilhas lineares enquanto enfrentam hordas de inimigos.


A proposta era clara: recontar eventos-chave da saga Umbrella ao mesmo tempo que preenchia lacunas na narrativa. No entanto, a execução, embora competente em certos aspectos, nem sempre atinge o impacto que poderia ter dentro do universo da franquia.

Uma narrativa para veteranos

A ideia central de The Umbrella Chronicles é servir como uma retrospectiva dos eventos de Resident Evil 0, 1 e 3, intercalados com algumas histórias originais que detalham a queda da Umbrella. Para fãs de longa data, o jogo funciona quase como um grande "flashback interativo", permitindo revisitar momentos icônicos sob uma perspectiva nunca antes vista. Isso inclui reencontros com personagens clássicos como Rebecca Chambers, Billy Coen, Chris Redfield e Jill Valentine.

Contudo, apesar de ser uma carta de amor aos fãs, o título peca pela superficialidade na forma como explora os eventos que reconta. A narrativa é apressada, cortando detalhes importantes dos jogos originais e oferecendo explicações rasas em prol de manter o ritmo frenético. Por exemplo, a atmosfera cuidadosamente construída na mansão Spencer é praticamente obliterada em favor de uma progressão mais linear e orientada à ação.


Por um lado, a decisão de adotar essa narrativa mais rápida é compreensível, já que o jogo é extremamente frenético e não dá muito espaço para respirar enquanto lê algum documento meticulosamente deixado ali por alguém que estava à beira da morte, mas teve tempo de parar e redigir um texto extremamente bem escrito (lógica de Resident Evil👍).

Por outro, as missões inéditas que focam em Albert Wesker e na destruição final da Umbrella são interessantes e ajudam a conectar pontos soltos da narrativa geral da série. Para os mais aficionados com os pormenores da história da franquia, isso pode ser o suficiente para despertar o interesse pelo título. Essas adições, mesmo que não sejam incrivelmente profundas, fornecem um contexto interessante para o complemento do enredo.

Uma jogabilidade simples, mas eficiente

Como rail shooter, The Umbrella Chronicles é funcional e, em muitos momentos, divertido. A mecânica principal envolve mirar e atirar nos inimigos enquanto o jogo controla o movimento da câmera automaticamente. No Nintendo Wii, o uso do Wii Remote oferece uma experiência imersiva, com uma mira precisa e intuitiva, sendo essa, provavelmente, a experiência definitiva. No entanto, ao migrar para outras plataformas, como o PlayStation 3 (com suporte ao PlayStation Move), essa imersão perde um pouco de seu impacto, especialmente para quem joga com um controle tradicional.

Em minha experiência pessoal jogando no PS3 há alguns anos, senti que o jogo perde completamente seu propósito, uma vez que mirar usando o analógico do controle não é tão preciso ou divertido quanto no controle de movimento. Uma adaptação para o PC com suporte nativo para mouse e teclado faria muito bem a ele.



O design dos níveis segue o padrão de um shooter arcade: cenários cheios de zumbis, Lickers, Hunters e chefes clássicos da série. A estrutura de "trilhos" limita a exploração, mas há momentos em que o jogador pode escolher caminhos alternativos, o que adiciona alguma variedade e incentiva a rejogabilidade. Além disso, há itens colecionáveis escondidos nos cenários, como arquivos e upgrades de armas, que recompensam a atenção aos detalhes.

Entretanto, a repetitividade da jogabilidade se torna um problema à medida que o jogador avança. Embora as missões sejam variadas em termos de ambientação, a mecânica básica de "atirar e recarregar" permanece inalterada durante toda a experiência. Os encontros com chefes oferecem alguma mudança de ritmo, mas muitos deles dependem de esquivas rápidas e padrões previsíveis, o que pode tornar esses momentos menos emocionantes após algumas tentativas.

Para um jogo de Wii, The Umbrella Chronicles apresenta visuais impressionantes, especialmente considerando que muitos conceitos foram adaptados dos jogos principais da série. Os modelos de personagens e inimigos são detalhados, e os cenários capturam a essência dos locais icônicos da franquia, mesmo que sejam menos atmosféricos devido à falta de liberdade de movimento e ação desenfreada.

No entanto, a limitação técnica do Wii é evidente em alguns aspectos, como animações rígidas e texturas de baixa resolução. Na versão em HD do PS3, esses problemas são atenuados, mas também acabam destacando a simplicidade do design original.


De dois é sempre melhor!

The Umbrella Chronicles é uma experiência feita para ser aproveitada em dupla. O modo cooperativo local é onde o jogo realmente brilha, permitindo que dois jogadores enfrentem as hordas de inimigos juntos. Isso aumenta a diversão e reduz um pouco a frustração em níveis mais difíceis — e, acredite, aqui a dificuldade é severa — e até faz com que a repetitividade não seja mais um problema tão aparente.

Mas nem tudo são flores. Infelizmente, o jogo carece de funcionalidades online até mesmo no PS3, restringindo o multiplayer apenas ao coop local.

Um dos fatores que enriquecem a rejogabilidade é a presença de múltiplos caminhos e a possibilidade de escolher entre diferentes personagens a cada nível, vendo a perspectiva e os pensamentos de cada um deles.

Em um determinado nível, por exemplo, é possível escolher jogar tanto com Leon quanto com Krauser, personagem que eventualmente se tornaria uma peça importante no enredo de Resident Evil 4.



Escolhendo jogar com Krauser, você consegue ouvir todos os pensamentos internos a respeito de Leon e da missão que foram designados a cumprir. Muitos desses pensamentos fazem ligação com seu papel em Resident Evil 4, preenchendo possíveis lacunas que possam ter sido deixadas no jogo de 2005.

Como já dito anteriormente, esses lampejos de lore podem despertar a atenção dos mais atentos na história da franquia, mas, 17 anos depois do seu lançamento, é preciso um pouco mais de força de vontade para conseguir aproveitar essa obra, principalmente jogando sozinho.

O impacto no legado de Resident Evil

Como um spin-off, The Umbrella Chronicles não é um jogo indispensável, mas cumpre bem seu papel como um complemento à franquia principal. Ele permite aos fãs revisitar momentos marcantes da série sob uma nova perspectiva e oferece detalhes extras para quem busca compreender melhor a história da Umbrella. No entanto, sua abordagem arcade limita seu apelo a um público mais casual ou aos aficionados por rail shooters.

Em última análise, The Umbrella Chronicles é um experimento que merece reconhecimento pela tentativa de diversificar a fórmula de Resident Evil. Não é um substituto para os jogos principais, mas funciona como uma homenagem nostálgica que, apesar de suas limitações, consegue entregar uma experiência divertida e acessível.



Revisão: Alessandra Ribeiro

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Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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