Conferindo o Canal 3 Expo 2024, um evento criado por e para fãs de retrogaming

Veja o que o evento ofereceu e, de quebra, uma entrevista com Ricardo Wilmers, um dos organizadores do Canal 3.

em 03/11/2024

Realizado nos dias 2 e 3 de novembro deste ano, o Canal 3 Expo é um evento voltado a entusiastas de videogames retrô. A convenção, que se tornou referência do assunto no Brasil e na América Latina, começou mesmo em 2022, com a edição de 2024 sendo a terceira realizada em um espaço físico de grande porte.


Apesar de eu ter descoberto o Canal 3 Expo por acidente, por meio de um anúncio no Facebook, tive a oportunidade de conhecer mais sobre o evento para fazer uma cobertura exclusiva para o GameBlast. É até um caso curioso, porque, se formos levar em consideração que nasci no finzinho de 1991, muitos dos consoles e jogos expostos na convenção não fizeram parte da minha infância; ao mesmo tempo, cada minuto que passei no State Innovation Center me fez sentir como se eu estivesse em casa.

Além da sensação de nostalgia, pude conhecer Ricardo Wilmers, que é não apenas um dos organizadores do evento, mas também um dos idealizadores do Canal 3 como um todo. Confira a seguir as impressões que tive durante a feira e também o bate-papo que tive com Ricardo.

Uma viagem pelo túnel do tempo

Assim que cheguei ao local, fui recepcionada por uma exposição interativa chamada Meu Primeiro Videogame, com consoles, controles e jogos que fazem parte do acervo pessoal de David Rayel, possivelmente o maior colecionador de videogames da História. Muitos dos consoles expostos também puderam ser experimentados pelo público, mas o que me encantou mesmo foi a possibilidade de conhecer mais sobre o contexto e a história de cada um daqueles aparelhos por meio de QR codes colados no vidro dos expositores.

Outra área que também achei muito bacana visitar foi uma sala que imitava as antigas locadoras de vídeos. Esse ambiente trazia prateleiras com jogos, filmes em VHS, DVDs e até discos Blu-ray, além de um espaço no qual os visitantes podiam simplesmente chegar, sentar-se e jogar; este espaço me fez lembrar de quando eu ia à (finada) Blockbuster para alugar filmes para o fim de semana, mas sempre acabava me perdendo na seção de jogos — à época, o auge era o Nintendo 64.


Visitei também uma enorme sala que simulava os antigos arcades, com fliperamas, máquinas de pinball e até mesmo uma mesa de air hockey. Acho que foi aqui que mais me senti em casa: quando eu ia ao shopping com minha família, era comum passarmos na Playland para brincar um pouco antes de voltar para casa.

Qual não foi minha surpresa ao ver uma simulação de lan house, com computadores rodando Counter-Strike 1.6, e também máquinas mais antigas — quem viveu a era dos computadores brancos vai me entender — com as versões originais de Prince of Persia e Doom rodando diretamente do MS-DOS. No entanto, acho que o que eu mais curti dessa experiência nostálgica foi ver diversas gerações reunidas em um só local; eram pais com seus filhos, pessoas mais velhas e mais novas que eu, todos aproveitando uma conexão que só eventos assim podem proporcionar.

Para além da exposição de videogames

Não dá para falar de retrogaming sem entrar no mérito do colecionismo. Boa parte do State Innovation Center estava ocupada por estandes de lojas focadas nesse segmento. Eram jogos, consoles, controles e acessórios, alguns dos quais eu nem nunca tinha ouvido falar (como o Panasonic Q) em todo lugar; curiosamente, foi mais difícil andar nesse "miolo" do que no restante do lugar.

Mas não foi só de videogames que vi à venda: tinha vendedores com LPs em vinil, CDs antigos, cartas colecionáveis (Pokémon e Magic: The Gathering eram só algumas) e até mesmo Fofoletes. E por falar em coisas inusitadas, tinha até uma torradeira no formato de Xbox Series S!


De verdade, o que realmente me saltou aos olhos no "centro comercial" da convenção foi a possibilidade de ver edições tanto limitadas quanto japonesas de jogos e consoles. Uma verdadeira mina de ouro para quem gosta de videogames. 

Passeando pelo Canal 3 Expo, visitei ainda uma área dedicada ao desenvolvimento de jogos independentes. No horário em que eu passei por lá, havia um rapaz apresentando seu projeto de game, que consistia na mescla de beat 'em up e outros gêneros — com direito a menção a Battletoads.
 
Eram desenvolvedores focados em diferentes consoles e estilos, mas muitos desenvolvedores lá também tinham projetos para plataformas retrô, como o Master System. Eu realmente queria ter visto algumas palestras, mas, infelizmente, no horário em que estive no evento, não consegui participar de nenhuma; ao menos, pude aproveitar um pouco de som ao vivo: Leandro Almeida (Dos 8 ao 128 bits) tocou vários covers bacanas de músicas que atravessam gerações. 

Depoimento de Ricardo Wilmers

Para uma entusiasta de jogos de quase 33 anos, mas que nunca tinha participado de uma convenção de jogos antigos (sempre fiquei no "só ouço falar" a respeito deste assunto), conversar com Ricardo foi bastante esclarecedor. Confira a seguir o depoimento do criador do Canal 3:
O nosso desafio, como Canal 3, é que nós somos o evento que deu origem a tudo: à BGS, ao Museu do Videogame. Só que, por exemplo, nós somos os dinossauros que não estão na época da internet, na época do TikTok, do Instagram. Então, a gente mudou a chave do ano passado pra este, e aí começamos a aparecer. Fizemos o Anime Friends e a Campus Party.

O nosso maior desafio é fazer com que a molecada nova, que via a gente na Campus Party, soubesse quem somos. E aí você fala: "putz, nós temos 25 anos de estrada", mas eu e mais alguns amigos fazíamos reuniões em salão de prédio [antes disso]. A partir da pandemia, daí sim, começamos a fazer eventos maiores. Neste ano, provavelmente metade do público está vindo [à Expo] pela primeira vez, com essa nossa entrada agora, profissionalizando, com assessoria de imprensa e marketing melhor. A galera fala: "cara, que legal!", mas a gente já faz isso há muito tempo. 

O evento, no formato de Expo, é o terceiro, mas nós já fazíamos eventos maiores na PUC. Só que era aquela coisa, né? Eram eventos para 500, 700 pessoas, porque no nosso nicho todo mundo já se conhecia, já eram todos amigos. Eram 500, 600 amigos que se reuniam e tinham a feira.

A partir da pandemia, retomamos a ideia de fazer algo maior, para um público aberto. E aí, já em 2022, recém-pandemia, tivemos um público de 1.200 pessoas. Mas todos que já conheciam o Canal 3 vieram, no ano passado foram 2.500. E eu sempre brinco, falo que o público retrogamer é 2.000, 3.000 pessoas no máximo.

É o nicho do nicho, que já nos conhece. O nosso desafio é ter a molecada nova, o pessoal que fala: "putz, que legal!" O nosso evento é diferente dos outros; é um evento de mesa, onde a pessoa pode trazer o videogame, o cartucho, trocar e vender. 

Então, são eventos complementares. A maioria das pessoas hoje fala: "cara, também é a minha primeira vez, é muito legal!", porque conhece uma BGS, que é um formato, ou um Museu do Videogame, ou uma Retrocom, e agora está vendo que o evento do Canal 3 é diferente. Uma das coisas principais é que todo mundo se conhece ou passa a se conhecer.

A pessoa vai vir ano que vem, vai encontrar os lojistas, os desenvolvedores. Então, o nosso maior desafio é abrir o Canal 3, mostrar que nós existimos. Somos os anciões dos eventos e agora temos, sim, uma imagem que atinge o público novo. Temos os campeonatos, a área de videogame antigo, os museus. Uma das nossas premissas é a cultura do videogame, é a educação. Por isso, somos um evento que tem mais palestras e mais exposições. 

Eu sempre fui colecionador e tinha muita coisa. O que tem ali [exposição Meu Primeiro Videogame, do acervo de David Rayel], por exemplo, de cultura e história do videogame no Brasil, é um tipo de coleção que ninguém mais tem. Nenhum evento consegue colocar, porque é um colecionador que está há 30 anos garimpando e trazendo.

Tem consoles que não têm nem valor monetário, é o valor histórico. Então, uma das nossas premissas é trazer a cultura, a educação, mostrar para a molecada mais nova. Por exemplo, agora [esta edição] é o primeiro evento que está trazendo uma Lan House, com computadores antigos de época, rodando Counter-Strike. 

Eu, por exemplo, na época de Lan House, a usava para e-mail, mas a molecada fazia corujão, rodando Counter-Strike 1.6. Isso não é na época do Doom, anos 1990 e pouco, não. E a molecada fala: "putz, Counter-Strike!" Hoje em dia, já estou acostumado com isso.

Eu falo que a molecada já nasce mexendo, no tablet, no smartphone, [que são] videogame para eles. O Canal 3, com essa mudança de chave, busca atingir o novo e o antigo, e eles se complementam. Só existe o novo porque existe o antigo. Só existe o campeonato de Street Fighter 6 agora porque ali em cima tem o Game Boy, o Microvision, que foi o primeiro portátil, em 1977, tem o Atari. Então, não existe o novo sem o antigo, e a gente procura sempre conciliar as duas coisas.

A união do antigo e do novo

Visitar o Canal 3 Expo 2024 foi uma experiência única que tive e pude, com certeza, vivenciar o que Ricardo Wilmers disse sobre unir o novo e o antigo. Espero que, no ano que vem, eu possa visitar a convenção de novo, participar das palestras e aprender mais sobre o universo do retrogaming — e, quem sabe, conhecer mais pessoas fascinadas pelo retrô.


Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru
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