Análise: Rage of the Dragons NEO — A continuação que virou título solo e cult

Projetado para fazer parte da franquia Double Dragon, NEO resgata um ótimo jogo de luta que ficou preso aos arcades por mais de 20 anos.

em 27/11/2024
Beat ‘em ups e jogos de luta andam de mãos dadas, graças aos laços criados pela porrada, então é normal ver um spin-off aqui ou ali que flerte com os gêneros, ou até mesmo personagens de uma franquia aparecendo em outra, como é o caso da galera de Final Fight que se tornou parte da lore de Street Fighter.

Double Dragon é um dos beat ‘em ups mais tradicionais que existem, e quase ganhou um jogo de luta oficial, mas alguns problemas de licenciamento fizeram com que recebesse o nome de Rage of the Dragons, lançado em 2002 exclusivamente para Arcade e NeoGeo MVS. Agora, temos a oportunidade de jogá-lo nos consoles atuais em uma nova versão, batizada de Rage of the Dragons NEO.

Os primos dos dragões gêmeos

A título de curiosidade, o plano inicial era lançar este jogo como uma continuação do Double Dragon de 1995, que por si só já era um jogo de luta spin-off da franquia. Com a não concessão dos direitos, muitos nomes foram mudados, mas a abertura manteve a frase “THEY ARE COMIN’ BACK” (Eles estão de volta).

A história dos irmãos dos irmãos Billy e Jimmy Lee já é famosa, então seria natural colocar a dupla de heróis em combates diretos contra seus rivais. Entretanto, a Evoga Entertainment, produtora mexicana que produziu a versão original de Rage of the Dragons, não conseguiu adquirir os direitos da marca, que foram comprados na época pela Million.

Então a ideia foi seguir com o título Rage of the Dragons, mais como uma homenagem à Double Dragon, e trazer junto algumas referências. Produzido em conjunto com a Noise Factory, o título manteve os dois personagens principais com os nomes Billy e Jimmy, mas com o sobrenome Lewis. O sub-chefe Abubo é uma clara reinterpretação do icônico inimigo gigantesco Abobo, que aparece em mais de um jogo da franquia Double Dragon, assim como Kang é inspirado em Burnov, de DD2. Isso só para citar alguns.

Te apresento meu amigo

O aspecto principal da mecânica de Rage of the Dragons NEO está na luta em duplas. O jogador sempre poderá selecionar dois personagens para compor seu duo, podendo escolher os lutadores que já tem sua sinergia ou compor um novo de maneira livre. Nisso a jogabilidade em si ajuda bastante, pois a única diferença de fato está nos especiais em conjunto, que possuem uma animação padrão para combinações variadas e uma específica para os pares determinados pela história.

Além da possibilidade de revezar personagens durante as lutas - ao custo de esperar a barra do parceiro carregar para que esse recurso não se torne abusivo -, bem como os super combos em duplas, há mais um recurso bastante útil: o Impact Combo. Ao custo de apenas uma barra de especial, esse movimento nos tira do sufoco quando acionado na hora certa. O inimigo é interrompido e nós temos a chance de fazer uma sequência de cinco botões que causarão um dano considerável.

O fato do jogo original ter envolvimento da SNK, na época apenas Playmore, traz uma grande familiaridade com diversos títulos do estúdio japonês, principalmente a série Fatal Fury. Isso facilita bastante na hora de assimilar os comandos, sem contar que a sensação ao aplicar cada combo é fluida. Não por acaso, Rage of the Dragons foi bastante elogiado à época do seu lançamento por conta desses elementos, além do design de personagens e suas trilhas sonoras.

Vale citar que as músicas foram compostas por Toshikazu Tanaka, que trabalhou na SNK e foi o responsável pelas trilhas de inúmeros títulos  de franquias consagradas, como Fatal Fury, Ikari Warriors, Metal Slug e os jogos The King of Fighters do arco Maximum Impact.

O Neo do Dragão

Claro que eu, como fã de jogos de luta, me empolguei com o port de Rage of the Dragons, pela curiosidade e falta de acesso a esse título, que eu só conheci antigamente por meio de revistas e vídeos sobre o gênero em geral. Mas a questão é: O lançamento de um título de mais de 20 anos como “novidade” é válido atualmente? Bom, para o caso deste aqui, sim.

Assim como aconteceu com Breaker Collection, a QUByte Interactive, responsável por este port, não se conteve apenas em trazer o jogo mas também incrementou o pacote com uma série de melhorias.

Além do modo Arcade, com oito níveis de dificuldade, foi adicionado o Treino, que é básico para quem quer se especializar em qualquer jogo de luta, batalhas versus nas quais podemos combater a CPU ou um amigo em duelos que podem variar de 2v2 até 5v5, lutas online e o Desafio do Dragão. E, diferente da versão arcade, aqui podemos jogar com os chefões Abubo e Johan sem depender de códigos mirabolantes.

O Desafio do Dragão traz quatro missões que nos colocam em situações complicadas contra vários grupos de inimigos aleatórios. O objetivo sempre é derrotar todo mundo usando apenas uma dupla e tomando todo cuidado possível para poupar a energia da sua dupla.

Quanto ao modo online, por mais que o rollback netcode deixe as partidas suaves e sem engasgos, a ausência do crossplay dificultou bastante minha vida na hora de achar oponentes. Nas pouquíssimas batalhas que fiz, houve uma demora considerável para encontrar alguém. Isso poderia ser resolvido com a possibilidade de encontrar rivais em outras plataformas.

Os visuais não deixam a desejar, mesmo que sem nenhum tipo de tratamento HD, resgatando a aura dos jogos de luta da virada dos anos 1990 para 2000. Caso você seja um jogador mais saudosista, pode utilizar filtros de tela para emular a sensação de jogar em um fliperama. Agora, se o seu caso é priorizar a praticidade, também é possível colocar a lista de comandos dos seus escolhidos na lateral da tela.

A única coisa que pode incomodar um pouco quem não é um fã mais hardcore do gênero é a dificuldade da CPU, que foi forjada na base do ódio e não dará paz nem para quem quiser jogar no nível mais baixo. Isso era algo bastante comum em jogos lançados para o arcade naquela época, então é normal que o elemento tenha sido mantido na íntegra no port.

Um dragão que ressurgiu do abismo

Rage of the Dragons NEO realmente é um excelente jogo de luta da sua época, e todo o trabalho de trazê-lo de volta é bem-vindo, seja para os curiosos ou entusiastas do gênero. Infelizmente, a falta do crossplay representa uma grande ausência, o que o torna mais divertido para quem for jogar sozinho ou de maneira local.

Prós

  • A jogabilidade é familiar para quem já jogou outros títulos de luta, o que torna NEO de fácil assimilação;
  • Colocar os comandos de cada personagem na lateral da tela ajuda bastante;
  • A trilha sonora é muito boa e consegue se destacar por si só;
  • A inclusão do Treino, Versus até 5v5 e o Desafio do Dragão dão uma sobrevida bacana ao jogo.

Contras

  • O modo online ficou praticamente deserto sem um crossplay entre as plataformas;
  • A dificuldade básica do jogo pode assustar alguns jogadores menos experientes.
Rage of the Dragons NEO — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela QUByte Interactive

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