Análise: Masquerade: Hell Academy: um mundo traumático em que abuso e injustiças se perpetuam

Visual novel deve chegar em breve ao PC, mas tivemos a oportunidade de avaliá-la antecipadamente.

em 22/11/2024
Originalmente lançada em 2007 no Japão, Masquerade: Hell Academy foi a primeira visual novel BL desenvolvida pela PIL/SLASH (Paradise). Agora, a JAST Blue traz a obra ao Ocidente em uma edição traduzida para o inglês. Embora ainda não tenha uma data precisa para o lançamento, a empresa nos enviou uma cópia antecipada do jogo, que utilizamos para escrever esta análise.

Uma situação criminosa

Masquerade conta a história de um grupo de pessoas sequestradas por um criminoso que escapou da cadeia. Esse crime bárbaro é marcado em especial por uma estranha fixação em fazer com que os homens sejam forçados a praticar atos obscenos variados, com uma tendência sádica do criminoso à tortura.

Nesse contexto, assumimos o controle do jovem Numata Hiroshi, um estudante do ensino médio que vive sob o constante terror de um colega de classe. Por conta de certos eventos do passado, o rapaz precisa fazer tudo que Himehara Yoritake lhe “pede”, favores estes que incluem serviços sexuais.

Incapaz de dizer não e se posicionar de forma firme, Hiroshi acaba entrando em uma espiral de problemas ainda maior no dia em que Yoritake exige que ele roube o gabarito da próxima prova. Por conta disso, o protagonista acaba ficando até tarde na escola… justamente no dia em que o criminoso se esconde lá.

O resultado é uma noite profundamente traumatizante que ficará para sempre marcada na psique do protagonista e dos outros envolvidos. Sobreviver aos abusos é uma oportunidade de crescimento pessoal para Hiroshi ao mesmo tempo que certas cenas mostram como isso pesa para o envolvimento romântico do rapaz futuramente também.

A complexa linha entre fetiche e discussão

Quando se trata da abordagem de assuntos complexos com carga erótica, temos muitas vezes situações de difícil aferição. Tópicos sensíveis podem ser abordados de forma rasa e o enquadramento de certas questões pode ser mais voltado para um fetiche do que para de fato discutir o seu peso para os indivíduos envolvidos.

No caso de Masquerade, parte do apelo da obra gira justamente em torno da condição de vulnerabilidade dos personagens principais. Eles são forçados a praticar atos obscenos variados contra a sua vontade, às vezes usando objetos e criando condições que se parecem com o BDSM, mas não são consensuais.

Apesar disso, a escrita tende a destacar o desconforto dos personagens e há uma discussão genuinamente interessante sobre os traumas gerados por esses abusos. Em particular, há um certo mistério em relação ao criminoso por trás de tudo e finalmente descobrir as barbaridades pelas quais ele passou gera os pontos mais interessantes do jogo como um todo.

O problema é que os personagens são explorados de forma rápida demais. Com isso, a maior parte da experiência é justamente as cenas explícitas de abuso, o que infelizmente não dá muita margem para um bom desenvolvimento. O resultado é que é bem difícil se envolver emocionalmente com a situação desses indivíduos.

Condições do passado

Em questões técnicas, há outros pontos que precisam ser destacados sobre a visual novel. Primeiramente, é importante ter em mente que o jogo é relativamente curto para os padrões do gênero, sendo possível alcançar um dos finais mais relevantes em poucas horas.

Dentro desse quesito, a obra tem até uma alta quantidade de escolhas que rendem cenas especiais (CGs), sendo a maioria delas de conteúdo explícito. Se, por um lado, isso significa muitas opções do que fazer, por outro, isso deixa a exploração mais confusa, já que pequenas mudanças podem levar a diferenças significativas, dificultando o processo de liberar tudo.

Além disso, o jogo não indica quando novas opções de história são liberadas nem quais escolhas já foram feitas. Por conta disso, o jogador acaba precisando tatear no escuro as possibilidades em busca de outras resoluções para a trama.

Quanto ao aspecto audiovisual, também temos algumas questões que podem impactar bastante a experiência. Além do jogo rodar na resolução 800x600 devido à idade, as vozes dos personagens (todas em japonês) são um pouco abafadas por uma gravação de baixa qualidade.

Além disso, as ilustrações dos personagens feitas por Suzuken têm um traço mundano que pouco chama a atenção. Embora não chegue a ser um traço ofensivo, os indivíduos acabam tendo uma aparência genérica e há algumas inconsistências visuais entre algumas cenas.

A versão ocidental remove também os mosaicos que cobrem a genitália do lançamento original, mas os órgãos são todos desenhados de formas bem feias e até um pouco risíveis. Também chega a ser difícil de acreditar em certas transformações visuais que o jogo realiza para criar uma reviravolta dramática.

De volta à vida comum

Masquerade: Hell Academy é uma visual novel BL interessante e descobrir mais sobre o vilão da história é particularmente recompensador. Infelizmente, como um todo, a obra acaba tendo dificuldade em oferecer uma experiência que realmente tenha grande apelo para além do público à procura de cenas explícitas de sexo gay não-consensual.

Prós

  • O mistério por trás do criminoso é bem envolvente e é bem discutido em rotas extras desbloqueáveis;
  • Para a curta extensão do jogo, há uma grande quantidade de escolhas e cenas com ilustrações especiais.

Contras

  • O desenvolvimento rápido demais e o foco demasiado no fetiche com abuso acabam atrapalhando o envolvimento do jogador com os personagens;
  • O desbloqueio de rotas adicionais e mais elementos para a trama não é bem indicado;
  • O estilo de arte é rudimentar, com personagens de aparência genérica, inconsistências visuais e transformações pouco críveis;
  • Mixagem de áudio ruim, com gravação de baixa qualidade para o áudio dos personagens.

Masquerade: Hell Academy — PC — Nota: 6.5

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela JAST Blue

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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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