Análise: Copycat toca em temas sensíveis para cativar e emocionar de forma impactante

Conheça a história de uma gata que tinha o sonho de ser livre, mas aprendeu o real significado de lar.

em 01/10/2024

Desenvolvido pela australiana Spoonful Of Wonder, Copycat é uma experiência marcante, cujo maior destaque é sua narrativa poderosa e tocante sobre uma gata que desejava ser livre, mas acabou descobrindo, de forma dolorosa, o verdadeiro significado de ter um lar. Na análise de hoje, vamos explorar um jogo que promete lágrimas e angústia no coração de qualquer pessoa que entenda o que é ter amor por um bichinho de estimação.

Um lar para Dawn

Copycat conta a história de Dawn, uma gata adotada em circunstâncias peculiares. Olive, uma senhora de idade avançada e com a saúde frágil, visita um abrigo em busca de um animal para preencher o vazio deixado por sua gata desaparecida. Ao ver Dawn, Olive se apaixona imediatamente, pois a gata é idêntica à sua anterior, que fugiu dias antes.


Dawn é arisca e desconfiada. Devido a experiências negativas com tutores anteriores, ela não confia em pessoas, e com Olive não é diferente, apesar de a idosa fazer de tudo para conquistar sua confiança.

O sonho de Dawn é ser livre, como um gato selvagem. Suas peripécias frequentemente remetem a uma vida de liberdade na selva, moldando sua personalidade ativa e causando diversos problemas na casa de Olive, como roubar comida, derrubar objetos, arranhar móveis e outras “gatices”.


Na primeira semana, Dawn e Olive começam a desenvolver uma relação de confiança. No entanto, devido à saúde debilitada de Olive, a gata acaba sendo maltratada por Mae, a filha da idosa, que desaprova a adoção de um animal, dadas as condições de saúde da mãe.

Certo dia, ao não poder permanecer dentro de casa, Dawn sai e uma gata idêntica a ela — possivelmente a gata perdida do início da história — toma seu lugar. Olive, sem perceber a diferença, passa a cuidar da "impostora".


Mesmo fazendo grandes esforços para retomar seu lugar, Dawn acaba sendo abandonada. Cabe ao jogador guiar a gata em um turbilhão de sentimentos e desafios para definir seu destino em uma narrativa que tem como tema central o verdadeiro significado de um lar.

Sentimentos à flor da pele

O maior destaque de Copycat é sua narrativa. A princípio, parece ser mais um “simulador de gato”, mas o enredo traz momentos intensos, especialmente para quem é sensível ou ama animais.

No início do jogo, o jogador apenas experimenta comportamentos típicos de um gato, como derrubar objetos, caçar insetos e arranhar móveis. Com o tempo, a relação entre Dawn e Olive se aprofunda, preparando o terreno para eventos futuros. Por fim, o jogador é confrontado com cenas que despertam sentimentos intensos, como revolta e angústia.

A tela inicial do jogo já alerta sobre os temas delicados abordados, como traumas familiares e abandono. Há, inclusive, uma recomendação para que, caso o jogador esteja passando por um momento difícil, procure apoio de amigos, familiares ou profissionais caso o jogo desperte sentimentos muito fortes. Esse aviso é bem-vindo e importante.

Durante minha experiência com Copycat, houve momentos, especialmente quando Dawn foi abandonada por Olive, em que foi difícil conter a revolta pela decisão da idosa, seguida por uma grande angústia ao ver a gata deixada em um local ermo. Jogar essas cenas foi emocionalmente pesado, e me vi mais de uma vez com lágrimas nos olhos ao viver algo que acontece todos os dias no mundo.

A trilha sonora minimalista e precisa amplifica o impacto emocional de cada cena, ajudando a transmitir a mensagem do roteiro de forma profunda. Apesar de curto, podendo ser concluído em cerca de três horas, este foi o tempo de jogo mais emocionante que vivi este ano, e dificilmente esquecerei as sensações proporcionadas por essa experiência.

Uma história impressionante em um jogo medíocre

Embora o roteiro de Copycat seja impressionante, o jogo em si deixa a desejar em muitos aspectos, prejudicando a experiência geral. Se não fosse por sua história emocionante, Copycat dificilmente se destacaria, sendo apenas mais um “cat simulator” no mercado, e um dos ruins. A movimentação de Dawn é estranha, lenta e desajeitada. A impressão é que, ao saltar, estamos em uma gravidade diferente da Terra, já que ela parece “flutuar” no ar.

A câmera também é problemática. Mesmo tendo controle sobre ela, é difícil encontrar um ângulo confortável para jogar. Isso melhora um pouco em algumas cenas fixas, mas não o suficiente para compensar esse problema.

Os modelos dos personagens humanos são aceitáveis, mas apresentam limitações nas animações, como nos movimentos labiais e em alguns gestos. Já o modelo de Dawn é convincente, embora sofra com as limitações já mencionadas relacionadas à movimentação.


Alguns minigames e o ritmo linear da campanha toda em si também não favorecem Copycat como um jogo, visto que o forte mesmo é seu roteiro. Algumas atividades são bem repetitivas e pouco inspiradas, apesar de terem um contexto baseado nas ações do momento, como tentar pegar uma vareta, empurrar um objeto, caçar insetos ou enfrentar outros gatos.

Um ponto positivo, entretanto, vai para as cenas dos sonhos de Dawn, que contam com uma direção de arte única, transmitindo de forma clara que aquele momento não é real. Destaque para os segmentos em que ela se sente angustiada, afogada em pensamentos sobre abandono e aceitação, trazendo uma metalinguagem poderosa sobre os sentimentos da gata nesse ponto da narrativa.

“Lar não é onde você mora, mas sim onde mais precisam de você”

Copycat se destaca pela profundidade emocional de sua narrativa, tocando em temas sensíveis e universais, como abandono e o verdadeiro significado de um lar. A história de Dawn, uma gata que enfrenta inúmeras adversidades, é capaz de gerar empatia e reflexões profundas sobre a conexão entre humanos e seus animais de estimação. Uma recomendação certeira para quem valoriza histórias envolventes e tocantes.

No entanto, apesar de seu roteiro cativante, o jogo sofre com problemas técnicos que comprometem a jogabilidade. Movimentação travada, câmeras problemáticas e animações limitadas fazem com que a experiência como um todo seja prejudicada, o que é lamentável, considerando o potencial emocional da trama.

Prós

  • A história de Dawn é profundamente emocional, abordando temas sensíveis de uma forma tocante;
  • A música minimalista é eficaz em amplificar as emoções e intensificar a narrativa.

Contras

  • A curta duração, apesar de suficiente para a proposta do jogo, pode ser um fator determinante para alguns jogadores;
  • A jogabilidade de Dawn é lenta e desajeitada, com saltos que parecem desafiar a gravidade;
  • A câmera não oferece ângulos confortáveis na maior parte do jogo, tornando a experiência geral um pouco desagradável;
  • O ritmo linear e as atividades como minigames que reciclam sua dinâmica durante o jogo deixam a experiência de gameplay limitada e fraca;
  • Os modelos humanos têm animações rígidas, especialmente no movimento labial e gestual.
Copycat — PC — Nota: 7.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spoonful of Wonder

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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