Análise: Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é uma exótica e imperfeita jornada de ação estratégica

O título mistura conceitos de forma criativa, mas o baixo desafio compromete a experiência.

em 23/07/2024

Para purificar uma montanha tomada pela maculação em Kunitsu-Gami: Path of the Goddess, uma sacerdotisa precisa fazer uma peregrinação por regiões repletas de monstros. O jogo é uma interpretação curiosa do gênero tower defense, trazendo ação e flexibilidade a um estilo tático conhecido por ser estático. A ambientação inspirada na mitologia japonesa, ritmo ágil e ideias criativas tornam a aventura cativante, por mais que tenha faltado explorar melhor o aspecto tático de suas mecânicas.

Em uma jornada para afastar a escuridão

A montanha Kafuku foi completamente corrompida pela maculação e por monstros conhecidos como Coléricos, e a única capaz de reverter a situação é a sacerdotisa Yoshiro. Para ajudá-la na tarefa, ela invoca Soh, um guerreiro que empunha uma espada capaz de purificar a energia maligna.

Isso não é suficiente: as criaturas são muito poderosas e quase acabam com a garota e seus aliados em um combate feroz. Depois de fugir por pouco, Yoshiro e Soh partem em uma jornada montanha abaixo para purificar a maculação e, no processo, adquirir poderes para enfrentar as criaturas mais fortes.


A aventura é estruturada em estágios cujo objetivo é livrar portões Torii da corrupção de maculação. Yoshiro é responsável por caminhar lentamente enquanto faz uma dança purificadora, então controlamos diretamente o guerreiro Soh em fases divididas em dois momentos: preparação de dia e combate de noite. Quando o sol está raiando, recrutamos aldeões, criamos estruturas defensivas, coletamos itens e exploramos a área em busca de cristais, que podem ser utilizados para criar um caminho para a sacerdotisa e para transformar os aliados em diferentes tipos de guerreiros.

No horário noturno, monstros surgem dos portões corrompidos e vão em direção à Yoshiro, que precisa ser protegida a todo custo. Soh é um guerreiro habilidoso, sendo capaz de desferir sequências amplas e poderosas, mas ele sozinho não consegue acabar com a grande quantidade de inimigos. Então, para sobreviver, é necessário contar com a ajuda dos aldeões, que atacam automaticamente os monstros próximos. Podemos indicar o posto de cada aliado por meio de um menu, o que possibilita adaptar a estratégia conforme a necessidade.


Depois de purificar a região, é hora de reconstruir o local. O processo é simples, bastando alocar a quantidade de aldeões necessária para realizar o reparo das estruturas. O trabalho é concluído após avançar algumas fases na campanha e as recompensas são diversas, como itens, equipamentos e colecionáveis. Nessas vilas também é possível customizar o equipamento de Soh e melhorar características das classes de guerreiros.



Alternando entre luta e estratégia em rituais intensos 

Em seu cerne, Kunitsu-Gami é um tower defense, ou seja, ondas de monstros atravessam rotas definidas e posicionamos guerreiros para interceptá-los. No entanto, há um forte aspecto de ação ao controlar diretamente um herói capaz de batalhar e organizar as tropas em tempo real. A mistura funciona e gostei de alternar entre papéis para dar conta dos obstáculos. Parte do desafio, inclusive, é saber colocar a atenção no local correto, fazendo adaptações conforme surgem imprevistos — é como controlar um general ativo no meio do campo de batalha.

Particularmente, gostei muito de controlar Soh nos combates. O guerreiro é muito versátil, atacando com facilidade todo tipo de inimigo. Além disso, esses momentos têm um tom meio hack ‘n’ slash com combos simples que destroem hordas com facilidade. Há também movimentos avançados, como contra-ataques, bloqueios perfeitos, sequências que lembram uma dança e técnicas especiais, o que traz variedade aos embates.


O jogo desafia nosso pensamento tático com a introdução constante de elementos. Cada estágio apresenta novos tipos de monstros que exigem estratégias distintas para serem derrotados — as coisas ficam bem complicadas quando tipos diferentes aparecem e trabalham em conjunto. Para compensar, há uma grande gama de classes de aldeões, como arqueiros, lutadores de sumô, lanceiros, um feiticeiro capaz de paralisar inimigos e mais. Saber gerenciar essas variáveis é essencial para sair vitorioso.

Além desses detalhes, há boa variedade de situações espalhadas pelas fases. Em uma caverna, precisamos acender lanternas para que os aliados consigam atacar os monstros; em outro momento, o grupo usa barcos para atravessar um lago enquanto monstros tentam afundá-los; em uma vila na floresta, Soh é transformado em um espírito e não consegue lutar, exigindo utilizar os aldeões com sabedoria para conseguir avançar. Os chefes contribuem com batalhas de ritmo intenso que exigem pensamento rápido e perícia.



Mergulhando em um intrincado universo oriental

Kunitsu-Gami usa a cultura tradicional japonesa para criar um mundo exótico, interessante e envolvente. A grande inspiração é o teatro Kagura: o ritual de purificação é uma elaborada dança, os aldeões usam máscaras extravagantes, as roupas são feitas de padrões e tecidos vibrantes, os menus remetem a pinturas do período imperial e até mesmo os ataques de Soh lembram coreografias teatrais.

Já os monstros são interpretações grotescas dos tradicionais onis e são visualmente impressionantes. O cuidado desses detalhes, em conjunto à música repleta de instrumentos tradicionais, cria um universo elaborado e impressionante. O jogo inclui um modo foto robusto e gostei de registrar alguns dos momentos mais impactantes.



Em um mundo de boas ideias desperdiçadas

A mescla de estilos funciona, alternando entre momentos de ação repletos de combos e ataques estilosos e partes mais lentas e estratégicas, resultando em uma experiência única. No entanto, Kunitsu-Gami falha em aproveitar seu potencial e deixa a desejar em alguns aspectos importantes.

O problema mais grave está no baixo desafio. Na maior parte das vezes, Soh dá conta de derrotar sozinho as ondas de inimigos com os combos básicos. Nos estágios mais avançados, a quantidade e complexidade de monstros aumenta; no entanto, basta colocar todos os aldeões em volta da sacerdotisa para protegê-la sem grandes contratempos. No meu tempo com o jogo, houve um ou outro momento complicado, mas majoritariamente não precisei de estratégias ou grupos elaborados para vencer.


Há muitas opções de customização, como inúmeras classes, diferentes habilidades e ataques para Soh, golpes especiais, equipamentos com efeitos passivos e melhorias para os diferentes guerreiros. Na teoria, são opções interessantes para tornar as partidas mais ricas, porém, no fim, há pouco impacto por causa da baixa dificuldade. De qualquer maneira, há objetivos opcionais e um modo New Game+ que exigem maior preparação, apesar de não serem suficientes para resolver a questão do desafio simplificado.

Por fim, o jogo sofre com problemas de ritmo. O trecho noturno de alguns estágios é longo e lento, com direito a momentos em que ficamos ociosos. Particularmente, senti falta de um recurso para acelerar a ação durante as batalhas.

Já a parte de reconstrução das vilas é desnecessariamente trabalhosa, pois precisamos andar pelas áreas para alocar os aldeões. É necessário executar essas tarefas manualmente em todas as fases e com frequência, o que torna essa atividade enfadonha — escolher isso em um menu seria muito mais ágil. A sensação que fica é que essas escolhas foram feitas para estender o tempo de jogo artificialmente.



Uma peregrinação notável e imperfeita

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess destaca-se pela sua combinação única de elementos de tower defense e ação. A ambientação rica, inspirada na mitologia japonesa, e o ritmo ágil da jogabilidade são pontos altos que mantêm a experiência envolvente. Controlar Soh traz um dinamismo diferenciado às batalhas, mesclando combates intensos com uma camada tática, especialmente na gestão dos aldeões e na preparação para as batalhas noturnas.

No entanto, o jogo não consegue aproveitar plenamente seu potencial. A baixa dificuldade e a repetitividade de algumas tarefas acabam por comprometer a profundidade da experiência. A falta de um verdadeiro desafio estratégico e os problemas de ritmo nas fases noturnas e na reconstrução das vilas limitam o impacto das opções disponíveis. Ao menos, há boa variedade de situações e de customizações, o que ameniza um pouco os problemas.

No fim, Kunitsu-Gami e sua mescla de estilos é uma experiência singular e criativa. Os elementos estratégicos são um pouco subutilizados, mas, no geral, o resultado é razoável e cativante.

Prós

  • Conceito principal único que combina tower defense com ação;
  • Boa variedade de situações espalhada pelos estágios;
  • Muitas opções de customização;
  • Ambientação ímpar inspirada na mitologia japonesa.

Contras

  • Baixo desafio, o que acaba tornando muitas das opções táticas irrelevantes;
  • Muitas das customizações e melhorias têm impacto reduzido;
  • Problemas de ritmo com momentos de ociosidade e repetição.
Kunitsu-Gami: Path of the Goddess — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom
Siga o Blast nas Redes Sociais

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).