No final dos anos 1980, Ayrton Senna, um ídolo não apenas no Brasil, mas também no Japão, atingiu seu auge pilotando a icônica McLaren MP4/4 nas cores vermelha e branca. O momento vivido pelo automobilista brasileiro inegavelmente serviu de inspiração para a SEGA, através dos olhos de Hisao Oguchi, um dedicado planejador de jogos da gigante japonesa na época, que apresentou o conceito de um jogo arcade baseado no mais prestigiado campeonato de automobilismo do mundo, a Fórmula 1.
Ainda em sua adolescência, Oguchi costumava dedicar algumas horas da sua vida aos arcades e, dentre os que experimentou, um jogo chamado Monaco GP prendeu a sua atenção. O título em questão se tratava de um diferenciado jogo de corridas lançado em 1979 cujo objetivo era ultrapassar o maior número de competidores enquanto lutava contra o relógio tentando ganhar pontos dirigindo por cinco áreas diferentes.
Dez anos se passaram e Oguchi conquistou a oportunidade de tirar aquele título da aposentadoria ao lançá-lo em sua versão Super. Com o aval da SEGA, nova jogabilidade, novos gráficos e com uma linguagem mais ousada, Super Monaco GP fora projetado para ser um verdadeiro simulador da emoção proporcionada pela Fórmula 1.
Jogabilidade
Novamente, o objetivo do jogo seria o mesmo: lutar contra o relógio e ultrapassar o maior número de competidores, mas desta vez pilotando em um traçado mais fiel ao Grande Prêmio de Mônaco.
No menu de seleção, após inserir a ficha na máquina, era possível escolher o tipo de câmbio entre automático ou manual (este em duas opções, com quatro ou sete marchas) antes de partir em uma volta classificatória de 45 segundos, em que era necessário atingir um tempo mínimo para entrar no grid. Durante a corrida o jogador deveria se manter sempre dentro de uma posição-limite, largando da 20ª colocação. A cada checkpoint, o limite diminuía, criando uma sensação sufocante no player que, caso não conseguisse se manter na posição exigida pelo jogo, receberia um Game Over.
Para aumentar ainda mais a imersão, os jogadores controlavam o carro em um verdadeiro cockpit, pintado nas cores vermelho e branca em referência à icônica McLaren de Ayrton Senna, que havia sido campeão mundial da categoria na temporada anterior (1988). O gabinete contava com volante e câmbio para troca de marchas, enquanto a aceleração e a frenagem eram feitas através de pedais.
Super Monaco GP se destacou por ser o primeiro jogo de arcade a incluir feedback tátil para o jogador; enquanto ‘’pilotava’’ era possível sentir resistência ao manusear o volante. A versão de luxo do seu gabinete também contava com o sistema SEGA Air Drive, que soprava ar no cockpit e movimentava o assento do motorista para simular os impactos da corrida. Além disso, era possível conectar até oito gabinetes ao mesmo tempo através do cabo ‘’power link’’ para jogatinas em grupo.
Recepção e polêmicas
Super Monaco GP foi lançado em maio de 1989 no Japão, agradando a público e crítica, tornando-se um sucesso comercial instantâneo. O feito foi repetido três meses mais tarde, em agosto do mesmo ano, após o seu lançamento oficial nos Estados Unidos. Entre os principais elogios recebidos, estavam o seu nível de detalhes gráficos, a sensação de velocidade e o seu realismo, principal fator que o diferenciava dos outros jogos de corrida da época.
Mesmo que tenha conquistado popularidade logo em seu lançamento, o jogo esteve envolvido em algumas polêmicas. A Philip Morris entrou com uma ação judicial contra a SEGA acerca de sua marca de cigarros Marlboro, alegando que a empresa japonesa havia a parodiado no jogo como “Malbobo”. Posteriormente, a polêmica se estendeu à Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos após um professor da Faculdade de Medicina da Geórgia formalizar uma reclamação afirmando que a SEGA estaria “anunciando cigarros para crianças”, público majoritário dos arcades nos EUA na época.
Apesar da controvérsia de destaque com a gigante do ramo tabagista, diversas outras marcas foram referenciadas em Super Monaco GP, já que Ford (Fodo), Mobil 1 (Modil 2) e Canon (Conan) também apareceram no jogo. Segundo a SEGA, as referências eram tentativas dos desenvolvedores de criar um ambiente mais realista no game, já que as empresas eram algumas das patrocinadoras oficiais da Fórmula 1 na época. A justificativa não foi aceita e, após quase três anos de brigas judiciais, em maio de 1992, a Philip Morris entrou em acordo com a desenvolvedora japonesa para a substituição gradativa dos chips do jogo.
Legado
Super Monaco GP foi coroado como um dos grandes lançamentos da indústria no ano de 1989. O sucesso foi tanto que a SEGA decidiu portar o game para seus consoles caseiros, incluindo seu mais recente lançamento, o Mega Drive, principal aposta da empresa na época. Posteriormente, Super Monaco GP ganhou uma sequência exclusiva para os consoles caseiros da SEGA contando com a participação e supervisão especial de Ayrton Senna, amplamente referenciado pela franquia nos títulos anteriores da série. O game foi intitulado “Ayrton Senna’s Super Monaco GP II” e contava com falas, imagens e três pistas exclusivas desenhadas pelo próprio piloto no modo “Senna GP”, sendo uma delas a reprodução fiel do traçado que o ídolo brasileiro tinha em sua chácara no município de Tatuí — SP.
Após 35 anos do seu lançamento, Super Monaco GP segue sendo cultuado como um dos grandes clássicos da SEGA em sua era de ouro nos arcades. Por suas inovações e por buscar o realismo mesmo com as limitações de hardware existentes na época, o título foi capaz de deixar a sua marca nos corações de uma geração de gamers apaixonados por velocidade e automobilismo no final dos anos 1980.
Vinicius Arruda
Viciado em curiosidades nerdísticas, amo consoles antigos, ouvir música e consumir podcasts. Escrevo sobre o que gosto, e eu gosto bastante de videogames! :)
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