Análise: Amelie traz uma ótima ambientação de suspense psicológico e elementos sobrenaturais

Originalmente lançada em 2021, esta breve visual novel não deixa a desejar em termos de história.

em 29/06/2024

Amelie
chegou até mim como recomendação de uma querida amiga. Para ser sincera, nem sempre obras com teor psicológico me atraem, mas resolvi dar uma chance ao jogo da desenvolvedora Two and a Half Studios devido à ambientação remeter ao subgênero gótico da literatura, um dos meus preferidos.


Para minha surpresa, a recomendação não tinha como ser mais certeira. Apesar de o romance servir apenas como pano de fundo para o desenvolvimento da trama — que é bem curta, já deixo avisado —, temos aqui um ótimo exemplar de suspense psicológico em visual novels.

Em uma mansão isolada no meio do nada…

Desde o início, percebemos que há algo muito errado na vida da protagonista que dá nome ao jogo. Amelie vive isolada em uma mansão no meio do nada e sua única companhia é Lilika, uma amiga que também mora no casarão.

A única informação que Amelie tem sobre o mundo lá fora é uma doença letal que tem erradicado a população da Inglaterra. Porém, os dias de confinamento na mansão parecem estar chegando ao fim quando Sofia, uma garota com quem a protagonista se comunica por cartas há cinco anos, decide visitá-la.

A chegada de Sofia não agrada nem um pouco a Lilika, que parece nutrir uma forte e doentia obsessão por Amelie; enquanto isso, a recém-chegada também parece gostar de sua correspondente de meia década. E com o trio completo, mistérios escondidos na mansão finalmente começam a ser revelados.

Para fechar a introdução do jogo sem dar spoilers, quero dizer que toda a ambientação desta breve visual novel (registrei duas horas totais de jogo) reforça o suspense e terror psicológicos, com um quê de sobrenatural. Temos forte predominância de tons escuros e melodias que evocam os elementos do subgênero gótico, e até mesmo a arte das personagens remete a esse estilo.


No entanto, quero também deixar avisado que alguns temas sensíveis são abordados ao longo da leitura, como suicídio, obsessão (stalking) e violência doméstica, entre outros. Por mais que eles não sejam trabalhados em profundidade, algumas cenas chegam a ser bastante gráficas e podem incomodar pessoas mais sensíveis ou que já tenham passado por situações similares.

Por fim, é importante mencionar que o jogo não conta com outra opção de idioma além do inglês e do chinês. Ainda, algumas passagens parecem ter sido incluídas apenas como meras conveniências narrativas para fazer a história andar, então existem, sim, alguns furos de roteiro bem óbvios e pouco convincentes.

Três partes que formam o inteiro

Embora curta, Amelie traz uma grande sacada em sua jogabilidade, na minha opinião. A história completa é dividida em três partes, que trazem o ponto de vista de cada uma das garotas; além disso, para avançar para a porção da próxima garota, é necessário primeiro obter todos os finais da “rota” atual.

Sendo assim, a visual novel traz sete desfechos: um para Amelie; dois para Sofia e três para Lilika. Ao completá-los, o próprio jogo nos indaga se queremos saber o desfecho da protagonista, então não há mistério para chegar ao fim verdadeiro da visual novel.


No entanto, algumas escolhas não são apresentadas de maneira tradicional, isto é, de maneira visível. Por exemplo, demorei um pouco até entender que eu podia clicar em textos na tela durante mudanças mais abruptas em algumas passagens, como na imagem abaixo — felizmente, uma das ferramentas disponíveis é a de pular trechos já lidos (skip), que acelera a obtenção dos diferentes finais; fora ela, podemos regular a velocidade do texto para a leitura automática, optar pelo texto já lido ser ou não apresentado em outra cor e é bastante fácil navegar pelo histórico de diálogos.

Ainda acerca das opções que podemos escolher em determinados momentos, algumas menores, como o sabor do chá que Amelia oferece a Sofia, são mencionadas nas tramas das outras meninas. Apesar de gerarem apenas um “efeito cosmético”, é interessante ver que essas decisões são mencionadas, não passando a impressão de que estamos lendo três histórias fechadas.


Infelizmente, o jogo não traz uma galeria para que possamos rever as belíssimas, embora poucas, CGs ou ouvir a ótima trilha sonora. Também entram como pontos negativos o uso de certas fontes causa certa estranheza, pois algumas letras parecem afastadas das palavras, e alguns errinhos de digitação, mas que não atrapalham a leitura como um todo.

Por fim, acredito que, se a visual novel fosse mais longa, talvez o romance de Lilika e Sofia por Amelie pudesse ser melhor desenvolvido, mas, como não estamos falando de uma história de amor tradicional (ou convencional, para início de conversa), a resolução é condizente com a proposta do jogo, embora um pouco abrupta.

Suspense e sobrenatural se unem para entregar uma ótima história

Apesar de Amelie possuir algumas conveniências narrativas para fazer a história andar e não contar com uma galeria para conferir as belas CGs e músicas do jogo individualmente, a trama é bastante satisfatória e faz jus ao gênero literário em que se baseia, se você não se importar com os elementos sensíveis abordados. Claro, talvez uma duração um pouco maior ajudasse a desenvolver melhor o romance de Lilika e Sofia por Amelie, mas esta é mais uma ótima visual novel que leva “não julgar um livro por sua capa” à risca.

Prós

  • Embora curta, a trama é bem escrita e satisfatória;
  • Há uma sensação de progressão, já que, para avançar para a porção da próxima personagem, é necessário completar todos os finais da campanha atual;
  • Os pontos de vista das personagens se complementam para formar a história completa;
  • Ótima ambientação de suspense e sobrenatural, fazendo jus ao subgênero romance gótico;
  • Presença de elementos de qualidade de vida essenciais para o bom aproveitamento de uma visual novel;
  • Sete finais diferentes, sendo um deles o verdadeiro;
  • A apresentação audiovisual casa muito bem com a proposta do jogo, em especial a trilha e os efeitos sonoros;
  • As poucas CGs são belamente ilustradas.

Contras

  • Algumas porções da trama parecem ser meras conveniências para justificar furos de roteiro;
  • Sem presença de galeria para ter acesso às CGs e às músicas do jogo;
  • As escolhas para obter os finais nem sempre são claras, já que não aparecem da maneira esperada em uma visual novel;
  • O romance não é desenvolvido da maneira tradicional, servindo apenas como pano de fundo para a trama;
  • Os temas abordados podem deixar pessoas mais sensíveis desconfortáveis;
  • O uso de algumas fontes durante a leitura separam as letras das palavras, causando certa estranheza;
  • Sem localização para outros idiomas que não o inglês ou chinês;
  • Alguns erros de digitação, mas que não afetam o entendimento como um todo.
Amelie — PC — Nota: 8.0
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital adquirida pela própria redatora

Siga o Blast nas Redes Sociais

Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).