Análise: Other Side Of Mist And Mountain (PC): uma interessante história sobre ocultismo prejudicada por várias questões técnicas

Bugs inexplicáveis, uma péssima tradução para o inglês e puzzles com resoluções duvidosas colocam em xeque a qualidade do jogo.

em 19/05/2024

Other Side Of Mist And Mountain
é um jogo de terror sobrenatural cuja história remete à lenda urbana da Estação Kisaragi, popular no Japão no início dos anos 2000. A partir disso, a trama tenta explorar vários conceitos de ocultismo, como criaturas sobrenaturais, rituais e a ideia de mundos espirituais que se interpõem ao nosso; porém, devido a problemas técnicos, este título da desenvolvedora chinesa Universe Studio transmite uma sensação aquém da pretendida.

“Você não vai descer na estação, vai?”

Certa noite, quando voltava para casa, Mau Igarashi, uma aficionada por ocultismo e assídua frequentadora da comunidade online Tomb of Night Folklore Forum, percebe que o trem no qual ela embarcou está se movimentando de maneira estranha. A primeira providência da garota é conversar com as outras pessoas no fórum, que a incentivam a não sair do veículo e pedir por informações para o condutor.

No entanto, quando a atmosfera estava ficando cada vez mais estranha, o trem finalmente faz uma parada na Estação Kisaragi. Mau decide desembarcar e, desde então, nunca mais foi vista.

Cinco anos após esse incidente, Shizuno Yokoyama está totalmente obcecado por pistas sobre o paradeiro de Mau, sua namorada. Ele desiste de se tornar um oficial de polícia para seguir o ramo de detetive particular, aceitando casos que possam estar relacionados ao oculto e sobrenatural.


Quanto mais Shizuno investiga os pedidos das pessoas que o procuraram, mais ele tem certeza de que Mau está viva. Sendo assim, o rapaz tenta ligar os elementos-chave de cada um dos mistérios em que se envolve, pois com certeza a resposta para encontrar a namorada desaparecida está perdida nas entrelinhas.

Em termos gerais, a história de Other Side Of Mist And Mountain se desdobra de maneira satisfatória, com capítulos aparentemente isolados, mas que, aos poucos, vão se interligando para entregar o quebra-cabeça completo. Toda a atmosfera é bem-construída e tem fortes inspirações em lendas urbanas, sendo capaz de prender a nossa atenção e relevando os eventuais furos de roteiro em alguns pontos.

Infelizmente, a busca de Shizuno por Mau é altamente prejudicada por uma péssima tradução para o inglês, incluindo mudanças abruptas nos gêneros de personagens, alterações nos nomes e uma péssima noção da gramática do idioma. A falta de cuidado com a localização ocidental afeta não apenas o entendimento da história em alguns momentos, mas também dicas para a resolução de alguns quebra-cabeças presentes na campanha.

Entretanto, caso você consiga fazer vista grossa para os diversos diversos deslizes gramaticais, com certeza será capaz de aproveitar toda a atmosfera construída em Other Side Of Mist And Mountain.

É tipo visual novel, mas com puzzles aqui, explorações ali e deduções acolá

A história se desenvolve em diálogos no melhor estilo visual novel, com direito até mesmo a escolhas em certos pontos. Por falar nelas, o jogo traz vários desfechos ruins, então é importante prestar bastante atenção nos diálogos e nas pistas ao longo das explorações, pois, na maioria das vezes, eles escondem a resposta correta para o prosseguimento na campanha.

A narrativa está intrinsecamente ligada à exploração de alguns poucos, mas bem-construídos cenários, nos quais devemos encontrar pistas para resolver os quebra-cabeças no meio do caminho. Na maior parte do tempo, controlamos Shizuno; porém, em alguns capítulos, o ponto de vista é trocado para o de outros personagens.


Em relação a esse elemento da jogabilidade, gostei bastante do que acontece no capítulo final do jogo, pois precisamos alternar entre dois indivíduos para solucionar todos os puzzles — basicamente, o que quero explicar aqui é que as soluções de A afetam a realidade de B e vice-versa. Contudo, por mais que eu quisesse dizer que os enigmas são interessantes e bem-feitos, em muitos deles me vi apelando para a infame técnica de tentativa e erro, principalmente por falta de dicas claras de como prosseguir.

Em determinados segmentos, temos ainda porções de furtividade nas quais precisamos procurar um lugar para nos esconder e prender a respiração para que inimigos não nos capturem; já em outros, devemos clicar na tela no momento específico para afugentar entidades sobrenaturais com o uso de um taiko, por exemplo. São aspectos que podem parecer pouco relevantes, mas que ajudam a criar mais tensão e imersão ao longo da jogatina.

O que quero dizer é: apesar de certos puzzles serem extremamente impensados (em relação à lógica aplicada neles), Other Side Of Mist And Mountain não decepciona em jogabilidade, por mais que os controles deixem a desejar em alguns momentos. Aprendi, a duras penas, que é melhor usar o teclado para movimentar os personagens, mas é melhor interagir com os objetos e cenários com o mouse; infelizmente, não nos é dada a opção de remapear botões.

Eu mencionei os bugs?

Other Side Of Mist And Mountain foi lançado no Steam em 28 de março; porém, logo que recebi a chave do jogo, no início de abril, fui barrada por um estranho bug que não me permitia avançar no capítulo 3. Foram quase dois meses testando o jogo em diferentes máquinas, fazendo contato com a publicadora para reportar a situação e as especificações dos computadores, mas nenhuma das soluções, incluindo um arquivo de salvamento limpo enviado pela desenvolvedora, deu resultado.

Eis então que meu querido amigo e colega de Blasts Ivanir Ignacchitti, que passou por um problema similar com AMEDAMA, sugeriu mudar o formato regional da data para qualquer região que não Português (Brasil). E não é que funcionou? Então, fica o aviso: se você tiver interesse em jogar Other Side Of Mist And Mountain, atente-se a esse fato.


Pelo lado bom, quando descrevi a situação no servidor da publicadora no Discord, recebi a resposta de que o problema foi identificado. Ao que parece, em alguns idiomas, vírgula e ponto final são invertidos, e a desenvolvedora não definiu o formato correto nesta situação; pelo lado ruim, não há previsão de um patch que corrija o problema.

Outro bug que encontrei, mas menos prejudicial à jogatina, foi a impossibilidade repentina de fazer capturas de tela pelo Steam — e sem um motivo aparente. Às vezes, mudar a resolução da tela ou fechar e abrir o jogo de novo ajudou a reativar o recurso, mas essa solução paliativa não foi definitiva.


Então, sim, além de controles imprecisos e uma péssima tradução de texto para o inglês, Other Side Of Mist And Mountain precisa de uma correção urgente de bugs relacionados à jogabilidade. Mesmo assim, o jogo ainda tem seus méritos, sobretudo no quesito audiovisual, que é simplesmente espetacular.

Em especial, quero elogiar a trilha sonora, responsável por praticamente toda a imersão ao longo da campanha; sinceramente falando, se a desenvolvedora decidir incluir um DLC com a trilha sonora, não pensarei duas vezes em comprá-lo. A arte também merece elogios, com traços fortes e um bom uso de cores como preto, cinza e vermelho, ressaltando a atmosfera macabra do jogo.

Apesar das ressalvas, um prato cheio para fãs do sobrenatural

Para fãs de histórias envolvendo ocultismo, lendas urbanas e experiências sobrenaturais, Other Side Of Mist And Mountain oferece aproximadamente 10 horas de jogatina imersiva, sem apelar para jumpscares baratos e mesclando elementos de visual novel, exploração, furtividade e quebra-cabeças. Com uma excelente apresentação audiovisual, em especial a trilha sonora, temos aqui um título que com certeza merece atenção.

No entanto, os vários bugs e problemas textuais pesam contra a experiência, sendo necessário ter paciência não apenas para entender o que está sendo contado na história em determinadas partes, mas também para resolver alguns puzzles no meio do caminho.

Prós

  • Excelente apresentação audiovisual, com trilha sonora imersiva e artes que reforçam o aspecto macabro;
  • Boa variedade de puzzles, sendo a maioria com dificuldade justa para chegar à solução;
  • A história tem uma atmosfera bem-construída e instigante, com bom uso de elementos de ocultismo, sobrenatural e lendas urbanas;
  • A mescla de gêneros traz um ar de diversidade à jogatina, em especial com alguns segmentos alternando entre os personagens dos capítulos.

Contras

  • Impossibilidade de remapear os controles, fazendo com que a movimentação dos personagens e a interação com cenários e objetos sejam um pouco imprecisas;
  • Péssima tradução para o inglês, com erros gramaticais grotescos que não só impedem o entendimento da história e a resolução de puzzles em alguns momentos, mas também geram inconsistências nos nomes e gêneros dos personagens;
  • Um bug relacionado ao formato regional da data do sistema operacional faz com que o jogo fique travado no capítulo 3 — e sem previsão de correção;
  • Alguns puzzles não conseguem justificar a lógica aplicada ou possuem dicas extremamente vagas, dificultando sua resolução e nos obrigando a partir para tentativa e erro;
  • A partir de certo ponto da jogatina, fiquei impossibilitada de fazer capturas de tela por meio do Steam;
  • Existem furos de roteiro para sustentar ou justificar certos pontos da trama.
Other Side Of Mist And Mountain — PC — Nota: 7.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida por 2P
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru.
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