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Análise: Tamarak Trail (Multi): rolando dados para salvar o dia

Apesar dos acertos relacionados ao deckbuilding, o título deixa a desejar em seus elementos de roguelike.

Desenvolvido pela Yarrow Games e publicado pela Versus Evil, Tamarak Trail é um roguelike com mecânicas de deckbuilding que, ao invés de cartas, utiliza dados. Embora o título ofereça alternativas para tornar os confrontos divertidos, fora das batalhas há muitos aspectos que deixam a desejar.

Enredo extremamente simplificado

Tamarak Trail não se aprofunda muito em uma construção narrativa. Basicamente, somos membros de uma sociedade secreta que combate as forças malignas que assolam a região local. 

Devido a esse roteiro simplista, os maiores méritos do jogo residem exclusivamente em sua jogabilidade. Apesar da despretensão do enredo, a obra da Versus Evil traz visuais 2D bastante agradáveis e bem detalhados. Além disso, é digno de elogio o fato de o título estar legendado em português.

Como alguém que aprecia algumas aventuras que possuem pouquíssimos ou nenhum momento de desafio real, acredito firmemente que o caminho inverso é igualmente válido. Sendo assim, um game sem uma história muito elaborada ainda pode se destacar bastante, desde que suas mecânicas sejam suficientemente sólidas para sustentar essa abordagem.

Tamarak Trail até poderia se encaixar nesse quadro, mas, infelizmente, peca em alguns aspectos fundamentais. Como resultado, temos uma experiência que não cativa em termos de enredo e, apesar do grande potencial, deixa a desejar no que se refere ao gameplay.

Rolando dados para vencer o mal

Em Tamarak Trail, somos transportados a um vasto mapa que lembra um tabuleiro repleto de rotas entrelaçadas. Em cada casa do cenário, nos deparamos com diversas situações, de confrontos contra monstros a oportunidades de recuperar energia e visitar lojas.

Por vezes, também damos de cara com circunstâncias especiais que nos desafiam a fazer escolhas. Nestes momentos, o desfecho pode variar entre benefícios ou penalidades, dependendo da abordagem adotada. Como é típico de roguelikes, a morte nos leva de volta ao início e causa a reorganização da trilha.

O diferencial de Tamarak Trail reside em seu sistema de deckbuilding, que utiliza dados ao invés de cartas. Nesse sentido, o jogo oferece uma diversidade considerável de opções de ação, incluindo ataques básicos com diferentes níveis de intensidade, criação de escudos e aplicação de efeitos negativos, como sangramento ou envenenamento.

A cada batalha bem-sucedida, somos recompensados com a oportunidade de escolher uma dentre três faces de dados. Esse é o principal método de fortalecimento durante as corridas, já que somos livres para personalizar nossos cubos e distribuir os poderes que possuímos entre todos os seus lados.

Uma alternativa que chama muita atenção são as faces que realizam uma ação padrão em conjunto com o efeito de girar o dado para um lado específico. Como temos a liberdade de customizar nossa principal arma, possuir várias opções ofensivas com essa habilidade passiva nos permite criar combos quase intermináveis.

Vale destacar que, ao executar um movimento, é consumida uma barra denominada determinação. Esse atributo também desempenha um papel defensivo crucial, pois sofrer golpes com ela esgotada resulta em danos diretos aos nossos pontos de vida. Considerando que esse valor se regenera gradualmente a cada turno, em muitas ocasiões acaba sendo oportuno não atacar para conservar esse recurso.

Tamarak Trail realmente proporciona um combate envolvente e oferece uma variedade de opções para montarmos estratégias, permitindo até mesmo a criação de combos quase intermináveis. No entanto, apesar de seus méritos, o jogo enfrenta grandes problemas em seus elementos de roguelike.

O fator roguelike merecia mais cuidado

Para além dos confrontos e da jornada pelo mapa ramificado, em Tamarak Trail temos acesso a uma cabana onde podemos realizar melhorias ao custo de moedas específicas que são adquiridas durante nossas corridas. Entre os benefícios disponíveis neste local, destacam-se o desbloqueio de dois novos personagens e o aumento na regeneração de determinação.

O grande problema reside no fato de que os valores desses aprimoramentos são elevados, enquanto as recompensas recebidas a cada tentativa são muito modestas. Dessa forma, para conquistar todos esses efeitos, é necessário realizar inúmeras incursões na trilha.

Isso não seria tão problemático se a aventura fosse diversificada, mas os inimigos são pouco variados, resultando em confrontos muito similares. Além disso, a quantidade de batalhas espalhadas pelo cenário é muito maior do que a de outros tipos de eventos, o que só aumenta a sensação de repetição.

Compreendo que reiniciar a jornada a cada morte seja uma característica comum dos roguelikes; porém, em Tamarak Trail, não existe nenhum tipo de incentivo para continuarmos tentando. As recompensas adquiridas a cada corrida são mínimas e pouco úteis, e chegar mais longe no trajeto não altera esse quadro, resultando em uma grande sensação de desperdício de tempo a cada tentativa fracassada.

Em razão desses aspectos, até que o jogador entenda o funcionamento das mecânicas, crie boas estratégias e tenha a sorte de ser agraciado com faces de dados que possibilitarão colocá-las em prática, ele deverá realizar diversas expedições repetidas. Lamentavelmente, mesmo após dedicarmos muito esforço para conquistar as principais melhorias da cabana, percebemos que elas não têm o impacto esperado, sendo incapazes de alterar significativamente as possibilidades em campo ou modificar a experiência.

Interessante, mas bastante falho

Tamarak Trail apresenta uma proposta intrigante ao incorporar dados como peça central de sua mecânica de combate. No entanto, o título é prejudicado pela superficialidade de seus elementos de roguelike, resultando em uma jornada monótona e carente de uma sensação palpável de progresso. Assim, apesar de seu potencial, ele se mostra pouco recomendável a quem ainda não explorou todas as boas opções disponíveis dentro do gênero.

Prós

  • O uso de dados e a possibilidade de personalizar cada uma de suas faces cria um sistema de combate divertido e permite que o jogador seja livre para desenvolver diversas estratégias;
  • Os visuais 2D são agradáveis e bem detalhados;
  • O sistema de regeneração gradual da determinação adiciona mais uma camada tática ao jogo, exigindo que jogador pense além dos dados;
  • Legendado em português.

Contras

  • A ausência de recompensas ou incentivos mínimos para as tentativas falhas pode desmotivar o jogador, resultando em uma sensação de frustração e tempo desperdiçado;
  • Os altos custos de melhorias na cabana contrastam com a baixa quantidade de moedas obtidas, tornando a aquisição desses aprimoramentos muito lenta;
  • A presença de muitas batalhas semelhantes contra inimigos pouco variados torna o jogo monótono;
  • Devido às falhas de gameplay, a ausência de uma narrativa minimamente interessante diminui ainda mais o interesse em prosseguir com a jornada.
Tamarak Trail — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Versus Evil

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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