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Análise: SaGa Emerald Beyond (Multi): perspectivas fascinantes e múltiplos mundos

O novo jogo da série SaGa traz curiosas jornadas por um universo futurista com múltiplos mundos.

SaGa Emerald Beyond
é o mais novo título da franquia da Square Enix que surgiu no Game Boy sob o título Makai Toushi SaGa e foi trazido para o Ocidente como Final Fantasy Legend. Com um conceito futurista de múltiplos mundos, a obra é um RPG de turnos definitivamente curioso e fora da curva.

Brincando com perspectivas

SaGa Emerald Beyond conta a história da jornada de vários protagonistas diferentes. Esse elemento tem sido explorado na série desde Romancing SaGa, no SNES, apresentando uma experiência de narrativas detalhadas, porém bem abertas, como foi o caso no título mais recente da franquia nos consoles, SaGa Scarlet Grace: Ambitions.
 
Porém, enquanto o antecessor tinha uma proposta mais alinhada à fantasia medieval, Emerald Beyond aposta em uma pegada de ficção científica. Não é a primeira vez que a franquia explora isso, tendo em SaGa Frontier um excelente exemplo que foi remasterizado para PC, PS4 e Switch.
Em Emerald Beyond, temos ao todo cinco opções de protagonista, cada uma com sua própria narrativa pessoal. Explorando a vastidão do universo por motivações diferentes, esses personagens passarão por vários mundos em busca de uma forma de resolver suas pendências, conhecendo vários aliados ao longo do caminho.
 
Um detalhe que chama a atenção é a forma como os personagens são bem atípicos para o gênero. Temos, por exemplo, o vampiro Siugnas, que era o senhor do Yomi e perdeu tudo após uma invasão, sendo forçado a se reerguer em um outro reino após sua suposta morte. De um lado mais futurístico, temos a cantora robô Diva No. 5, cujas habilidades de canto foram seladas após ter acessado uma música tabu.
A partir dessa explicação da motivação para as suas jornadas, exploramos múltiplos mundos. Temos aqui desde uma área que parece um conto de fadas com personagens congelados misteriosamente a uma base espacial em que robôs e cientistas tentam desvendar vários detalhes sobre a vida no universo e os seres vivos.
 
De forma geral, sem entrar em grandes spoilers, as tramas e subtramas são bastante curiosas. Existe todo um fascínio em descobrir o próximo mundo, ver qual será a ambientação e a história que ele tem a oferecer, assim como os novos personagens que aparecerão. Com o conceito de múltiplos mundos, a obra realmente se esforçou em trazer cenários visualmente distintos.

Um mundo de explorações limitadas

Infelizmente, um dos pontos negativos de SaGa Emerald Beyond é a exploração. Embora visualmente distintos, os ambientes acabam tendo poucos elementos interativos espalhados, o que faz com que os mundos pareçam vazios. Na intenção de criar a sensação de vastidão, o jogo falha em fazer com que ela realmente agregue algo à experiência além de uma imersão visual.
 
De fato, há um ótimo polimento gráfico, dando a impressão de que a série conseguiu um bom orçamento desta vez. Especialmente se compararmos com o jogo anterior, que tinha um mundo totalmente plano, temos topologias variadas e até alguns pequenos puzzles. Um bom exemplo disso é a base espacial, na qual é necessário explorar múltiplos andares e, a partir de um certo ponto, interagir com uma alavanca que altera a disposição de plataformas.
Porém, após chegarmos a um determinado mundo, embora ele seja vasto, estamos limitados a pouquíssimas opções de ação a cada dado momento. Com o sistema de Emerald Vision, temos a capacidade de visualizar os próximos pontos interativos, que são mostrados como se fossem portas luminosas nos mapas.
 
Vale destacar que não existem batalhas aleatórias, então a tendência de jogo é ficar apenas indo e voltando de um lado a outro do mapa interagindo com as poucas localidades disponíveis. Ou seja, vamos de um lado para o outro ativar flags, interações que ativam condições específicas para o nosso avanço pela trama.
Em comparação com outros títulos da série, que sempre fizeram a exploração ser um aspecto central da experiência, a sensação que fica é a de um jogo que tenta impressionar pelo aspecto visual (para os padrões da série) e ambientação única, mas que deixou a liberdade de exploração se tornar algo mais superficial.

Timeline de batalhas

Em se tratando de um RPG, como esperado, as batalhas são uma parte central da experiência. Temos em SaGa Emerald Beyond um sistema de turnos que evolui a proposta já vista anteriormente em Scarlet Grace, oferecendo algo ainda mais rico mecanicamente e profundo.
O esquema de Timeline forma uma linha do tempo com as ações dos aliados e inimigos, sendo fundamental planejar seus ataques estrategicamente de acordo com esse posicionamento temporal. Quando vários personagens de uma mesma equipe têm as suas rodadas colocadas de forma consecutiva, conseguimos realizar combos que maximizam o dano e podem levar ao Overdrive, permitindo que o grupo ataque novamente em seguida.
 
No extremo oposto, também temos os Showstoppers, que permitem a um personagem totalmente isolado na linha do tempo atacar várias vezes consecutivas. Todas as mecânicas valem tanto para aliados quanto para inimigos, então é fundamental que o jogador use todos os mecanismos possíveis para evitar que os oponentes tirem proveito das condições do combate ao mesmo tempo em que busca usufruir dessas vantagens.
Técnicas com efeitos como delay ou paralisia se tornam fundamentais para controlar a Timeline e precisamos tomar cuidado para não acabar favorecendo combos inimigos. Da mesma forma, temos várias formas de interromper as ações deles, com táticas como Interrupt e Pursuit, cuja diferença é que uma vem antes e a outra depois.
 
Em particular, a principal novidade em relação a Scarlet Grace é o fato de que os ataques agora podem contar com slots de tempo adicionais. Com isso, precisamos planejar mais a fundo como encadear as ações de múltiplos aliados e formas de afastar inimigos, mesmo que eles tenham ações subsequentes.
Vale destacar que cada ataque consome uma certa quantidade de BP, que é uma energia coletiva; portanto, precisamos ter em mente que determinadas ações podem atrapalhar outros aliados. Nesse sentido, em algumas ocasiões, pode ser necessário escolher entre usar um golpe mais poderoso e com efeitos importantes para aquele turno ou realizar combos mais longos.
 
Com a mecânica de formações, podemos ganhar vantagens específicas que favorecem a realização de combos e colocam um aliado na posição de atrair ataques inimigos, entre outras opções. Podemos ajustar esse elemento e os Roles (“papeis” que determinam bônus variados para atributos) de cada um antes do combate, e isso faz diferença significativa durante as batalhas.
 
Outro ponto importante é que cada protagonista conta com mecânicas próprias, que serão importantes de entender ao longo do jogo. Temos, por exemplo, a dupla de protagonistas Formina e Bonnie, em que uma pode ser colocada para suporte da equipe enquanto a outra fica ativa, se o jogador preferir. Já o vampiro Siugnas pode gastar LP (pontos de vida, necessários para que o personagem continue ativo em futuras batalhas) para ativar um golpe devastador.
Como usual da franquia, entender todas as mecânicas não é algo trivial. Para incentivar a exploração dos seus sistemas, Emerald Beyond conta com um sistema de Trials. A ideia é que o jogador escolha três desafios de combate, como “interromper a ação do inimigo”, “realizar combos com 6 slots ou mais de tempo” ou até mesmo “garantir a sobrevivência de todos os aliados”. Ao concluir essas tarefas, recebemos recompensas variadas e aos poucos o jogo abre mais opções.
 
Graças ao elemento visual, os slots de tempo da Timeline são um sistema até fácil de entender, já que podemos observar como as coisas se encaixam em uma estrutura linear. Porém, nem sempre as consequências das ações do jogador e dos inimigos são intuitivas. Um erro pode ser fatal, levando um adversário a ficar isolado e usar um Showstopper ou até mesmo por levar um inimigo para o meio das ações dos aliados na Timeline.

Além das batalhas

Além de tudo que comentei, vale destacar que SaGa Emerald Beyond também dispõe de sistemas externos ao combate. Em vez de ter que procurar Blacksmiths pelos mundos, desta vez temos a opção de fazer upgrades dos nossos equipamentos pelo próprio menu.
 
Essa praticidade também se aplica a uma mecânica de tutoria. A ideia é que podemos fazer com que os nossos aliados fora de combate também usem o seu tempo de forma útil, melhorando suas habilidades. As opções de aprendizado variam de acordo com o personagem, sendo possível que elas se apliquem a vários tipos de armas ou de técnicas relacionadas às mecânicas de monstros e robôs.
 
Por fim, ainda temos um sistema de troca de itens. Podemos, com ele, nos livrar de materiais que já temos em excesso e conseguir outros que seriam úteis para realizar os upgrades de equipamentos. A ideia dele é meio que a de apostar materiais, já que não temos nenhuma ideia do que nos será oferecido em troca. Infelizmente, não ter sequer uma noção das possibilidades de acordo com a quantidade que enviamos faz com que o sistema seja desnecessariamente tortuoso e um risco que alguns jogadores vão acabar ignorando.

Mais uma vez uma saga atípica para o mercado

SaGa Emerald Beyond
é um RPG único e curioso que recompensa o jogador que entende e abusa de suas intrincadas mecânicas de batalha. Com um universo futurista instigante e um grande apelo visual, a obra é uma entrada acessível na franquia; porém, a exploração de mundo deixa a desejar, com ambientes largos que poderiam oferecer interações mais ricas do que simplesmente andar de um lado para outro procurando áreas para ativar flags.

Prós

  • O combate em Timeline é uma excelente evolução do que foi visto antes em Scarlet Grace, trazendo ainda mais profundidade mecânica com uma facilidade de entendimento visual;
  • O sistema de Trials recompensa o jogador por dominar as mecânicas de batalha;
  • Protagonistas com personalidades únicas e que chamam a atenção;
  • Tramas bem atípicas para o que se vê em RPGs;
  • Os mundos são bastante curiosos e bastante distintos visualmente.

Contras

  • As áreas acabam sendo vazias demais, com poucos elementos que incentivem a exploração;
  • A visualização das consequências das ações em combate nem sempre é intuitiva;
  • O subsistema de trocas de itens, em que o jogador tenta a sorte apostando o que tem, poderia ser mais claro quanto às possibilidades de antemão, dando uma mínima previsão de resultados possíveis.
SaGa Emerald Beyond — PC/Switch/PS4/PS5/Android/iOS — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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