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Análise: Grandia HD Collection (Multi) traz nada mais que dois jogos nostálgicos

Este pacote com dois JRPGs clássicos traz um conteúdo difícil de chamá-lo de coleção.


Grandia é uma renomada série de RPG desenvolvida pela empresa japonesa Game Arts. Seu primeiro título foi lançado em 1997 para o Sega Saturn, inicialmente destinado ao mercado japonês. No entanto, em 1999, o jogo fez sua estreia no Ocidente com um port para o PlayStation, publicado pela Sony Interactive Entertainment na América e pela Ubisoft na Europa. Recebido com elogios, o jogo destacou-se por sua jogabilidade envolvente, personagens cativantes e um sistema de batalha inovador.

O sistema de batalha de Grandia é uma das marcas registradas da série. Ele mescla elementos de jogabilidade em tempo real com mecânicas por turnos, possibilitando que os jogadores planejem suas ações com antecedência e reajam rapidamente às mudanças no campo de batalha. Essa abordagem proporciona uma experiência dinâmica e estratégica, adorada pelos fãs e digna de elogios até os dias atuais.

Além do título inaugural, a série deu origem a várias sequências e spin-offs, como Grandia II, lançado para Dreamcast e PlayStation 2 em 2000, que também recebeu elogios pelos mesmos motivos que seu antecessor. Grandia Xtreme (2002) e Grandia III (2005) foram subsequentemente lançados para o PlayStation 2 e, desde então, nenhuma nova entrada na série foi produzida.

Em 2019, Grandia HD Collection foi lançada para o Nintendo Switch, trazendo uma remasterização dos dois primeiros jogos da série, com melhorias visuais significativas para atrair as audiências atuais. Essas remasterizações também foram disponibilizadas para PC de forma independente e agora, em 2024, a coleção faz sua estreia nos consoles da Sony e da Microsoft, expandindo a oferta dos jogos.

É neste momento que nos dedicamos a analisar a coleção e a fornecer nosso veredicto sobre se vale a pena revisitar os gloriosos dias dos RPGs japoneses e investir mais algumas dezenas de horas nessa jornada.

Antes de começar, quero deixar claro que o objetivo desta análise é avaliar o conteúdo da coletânea e seus aspectos. Para uma análise mais detalhada da obra e do enredo dos dois jogos, recomendo a leitura da análise da versão para Switch publicada em 2019 no Nintendo Blast.

Duas grandiosas aventuras

A história do primeiro Grandia gira em torno do protagonista Justin, um jovem sonhador determinado a seguir os passos de seu pai e se tornar um aventureiro de renome. Ao lado de sua leal amiga Sue, ele parte em uma jornada para explorar as vastas e desconhecidas terras do antigo continente de Elencia. No entanto, eles não estão sozinhos nessa busca, pois um grupo militar opressor também busca desvendar os mistérios de uma civilização antiga, detentora de poderes mágicos extraordinários.

A jornada de Justin o leva a enfrentar novos desafios e a fazer importantes decisões ao longo do caminho. A narrativa é permeada por temas de amizade, amadurecimento e descoberta, com diversos trechos totalmente dublados que aumentam a imersão do jogador e conferem um aspecto cinematográfico à apresentação do jogo.

Graficamente, Grandia se destaca pela combinação de elementos tridimensionais e 2D, criando o que gosto de chamar de primórdios do 2.5D. Os cenários são totalmente tridimensionais, proporcionando um pano de fundo dinâmico para a interação dos sprites em 2D dos personagens, inimigos e itens durante os segmentos de história, exploração e, especialmente, os combates.


O combate, como mencionado, ocorre em uma arena tridimensional, onde as ações são realizadas em tempo real. Isso permite mudanças de estratégia de última hora, seja para se defender de um ataque inimigo, proteger um aliado ou aproveitar uma oportunidade para lançar um poderoso contra-ataque que pode virar o curso da batalha a favor do jogador.

Uma linha do tempo indica o tempo de espera para cada personagem selecionar uma ação. Uma vez feita a escolha, há um período de espera para a execução da ação, seja um ataque, a conjuração de uma magia, uma ação defensiva ou o uso de um item.

Grandia II, lançado em 2000 para Dreamcast e PlayStation 2, não é uma continuação direta do primeiro jogo. Assim como Final Fantasy, cada título compartilha elementos e características do mesmo universo, mas conta histórias distintas de diferentes épocas dentro dele.


No segundo jogo, o protagonista é Ryudo, um Geohound, membro de uma classe de mercenários marginalizados. Ele é contratado para proteger Elena, filha de um líder religioso, em uma jornada para realizar um ritual de purificação em uma torre, visando conter um mal antigo que ameaça o mundo.

No entanto, o ritual acaba desencadeando consequências catastróficas e Ryudo, Elena e os personagens que encontram ao longo da jornada se veem envolvidos em uma batalha para expurgar esse mal que ameaça a terra. Cada personagem tem suas próprias motivações e personalidades, e juntos eles descobrem segredos sombrios sobre o mundo em que vivem.


Grandia II apresenta gráficos aprimorados em comparação com seu antecessor, graças ao hardware mais avançado do Dreamcast e do PlayStation 2. Agora, tanto os personagens quanto os cenários são totalmente em 3D, com efeitos especiais que incluem vídeos e outras técnicas de modelagem 3D da época. A trilha sonora, mais uma vez composta por Noriyuki Iwadare, também recebe destaque, contribuindo para consagrar a série como uma das principais referências dos JRPGs daquela geração.

Uma coleção imperfeita

Atualmente, a série Grandia é composta por quatro jogos, mas a coleção traz apenas os dois primeiros. Os motivos para a exclusão de Grandia Xtreme e Grandia III nunca foram totalmente esclarecidos, mas há especulações de que isso se deve à baixa popularidade desses jogos fora do Japão.

A GungHo Online Entertainment, responsável pelo desenvolvimento e publicação da coletânea, é uma empresa de porte pequeno, e é possível que tenham optado por focar seus esforços nos dois títulos mais aclamados, em vez de investir na remasterização de todos os jogos da série.


Assim, os fãs se veem limitados à metade da série disponível oficialmente para as plataformas atuais. Para jogar Grandia Xtreme ou Grandia III hoje, é necessário possuir uma cópia do jogo e um PlayStation 2, já que não há disponibilidade de ports oficiais.

Apesar dessa limitação, a Grandia HD Collection apresenta um trabalho decente na remasterização de Grandia e Grandia II. Os cenários receberam texturas em maior definição e suporte nativo para telas widescreen. Além disso, em Grandia, os sprites dos personagens passaram por um processo de interpolação para melhorar a aparência, enquanto, em Grandia II, os personagens totalmente modelados em 3D permitem observar seus detalhes com mais clareza.

Entretanto, algumas texturas ainda deixam a desejar, com áreas contendo, por exemplo, gramados ou rochas com texturas malfeitas, resultando em borrões perceptíveis. Isso pode incomodar os jogadores mais exigentes com esse aspecto, embora não afete a jogabilidade.

Uma adição valiosa é a opção de escolher entre os áudios em inglês e japonês, algo antes inviável devido às limitações de armazenamento dos discos dos consoles originais. Para os jogadores que preferem a dublagem original, essa é uma opção bem-vinda. No entanto, é importante mencionar que a coleção não oferece nenhum suporte para o idioma português nos menus.

O áudio remasterizado apresenta qualidade, mas a mixagem às vezes deixa a desejar, com vozes ou efeitos sonoros ficando mais altos do que o necessário, causando surpresas desagradáveis em determinados momentos.

Em relação ao conteúdo extra, a coleção é decepcionante. Não há galerias de áudio ou artes, mods ou qualquer outro incentivo adicional para adquirir o pacote. Esse tipo de material é comum em coletâneas e costuma atrair os entusiastas de jogos antigos.

Por esses motivos, muitos consideram mais vantajoso comprar os jogos separadamente (opção disponível apenas para PC) como meras remasterizações, já que a coleção não oferece nenhum benefício adicional que justifique o investimento. Isso reforça a sensação de que o termo “coleção” é inadequado neste caso.

Apenas nostálgico

Grandia HD Collection oferece uma oportunidade para os fãs reviverem os dois primeiros títulos desta ótima série de JRPG. No entanto, embora traga melhorias visuais e a opção de escolha entre áudios em inglês e japonês, a qualidade da jogabilidade e das histórias desses jogos clássicos é capaz de superar as falhas na execução da coletânea, proporcionando uma experiência gratificante para os fãs desse gênero de um modo geral.

Prós

  • Visualmente, os jogos estão bem mais agradáveis para jogar do que suas versões originais;
  • A opção de escolha do áudio é uma ótima oportunidade de vivenciar os jogos em seu idioma original;
  • Os demais aspectos originais (jogabilidade, narrativa e apresentação) dos dois jogos permanecem intactos, permitindo aos jogadores uma experiência nostálgica e autêntica.

Contras

  • A coleção não oferece nenhum conteúdo extra, como galerias de áudio ou artes, que poderiam agregar mais valor ao pacote e enriquecer a experiência para os fãs;
  • Inconsistências na mixagem de áudio causam momentos desagradáveis, com sons sendo executados em um volume acima do normal;
  • Para quem conhece a franquia, podemos dizer que a coleção está incompleta, com Grandia Xtreme e Grandia III ausentes.
Grandia HD Collection — PS4/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela GungHo Online Entertainment

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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