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Análise: Isonzo (Multi) traz todas as agruras e emoções da guerra misturando FPS com uma pitada estratégia

Embora não seja para todos públicos, a experiência, quando funciona, é divertida e competitiva.


Em termos de realismo, o mundo dos videogames oferece toda uma gama de opções que vão desde as mais fantasiosas e fantásticas até as mais factíveis e pés no chão. Alguns gêneros tendem a ser mais realistas do que outros, mas em termos de FPS poucos são tão focados como Isonzo. Misturando uma base no estilo FPS com vários elementos de estratégia, temos uma experiência imersiva e intensa, ainda que penosa. Vista seu uniforme e pegue a sua arma, pois a análise vai começar!

Tradição e dedicação

É importante frisar que esse jogo é original de setembro de 2022, com versões para PC, PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series. A grande novidade é a chegada do modo The Ascent, disponível entre os dias 10 e 24 de abril de 2024 em todas as plataformas. Antes de falarmos um pouco dessa nova opção de jogo, vamos conhecer mais sobre o título em si, como informações referentes à seus pontos fortes e fracos.
Muitas facetas da grande guerra
Isonzo pertence a uma série chamada WWI, que traz games baseados em acontecimentos da Primeira Guerra Mundial. A proposta é focar em realismo, trazendo cenários baseados em localidades reais, além de armamentos, uniformes e batalhas fieis. Em outras palavras, o jogo apresenta fidelidade histórica, retratando fielmente o período entre os anos 1914 e 1918. Para isso, a equipe de produção realizou viagens de campo, visitou museus e pesquisou documentos.
 
Mais especificamente, o game aborda os anos 1915-1917 e os conflitos entre  Itália,  Alemanha e  Áustria-Hungria, localizados nos alpes italianos, e seu rio, então chamado Isonzo. Tal como as batalhas reais, temos armas com cadência baixa e com acertos praticamente letais. Caso o jogador sobreviva aos tiros e arames farpados, é grande a possibilidade de morte posterior por sangramento, por exemplo.
É preciso se acostumar com as mecânicas do jogo
Os amantes de FPS modernos, tais como Warzone e Modern Warfare III, certamente vão sentir uma diferença tremenda nas primeiras partidas. Eu sofri bastante nas primeiras tentativas, pois a memória muscular tentava realizar movimentos incompatíveis com as mecânicas do game. O elemento estratégia também pesa muito, pois mesmo a melhor jogada possível pode não ser suficiente caso decisões erradas sejam tomadas ao longo das partidas.

Uma escalada íngreme

Para ter sucesso nas batalhas, é preciso andar em grupos para proporcionar cobertura aos colegas, aproveitar trincheiras e demais construções para escapar de tiros, assim como também fazer uso de cada oportunidade para atirar. Existe uma espera significativa entre os disparos, assim como no tempo de recarregar, então não desperdice um inimigo que estiver dando sopa. Como já comentei, eu demorei para aprender o ritmo de Isonzo, mas me diverti quando isso aconteceu.
Cada eliminação exige atenção e precisão
Sendo honesto, me diverti após ter me adaptado E quando um problema técnico do jogo não atrapalhou: a criação de partidas online. Foram poucas as vezes que consegui entrar em uma sala e encontrar jogadores humanos, mesmo com a opção do sistema crossplay ligada e trocando de servidores. Não que os bots usados sejam muito ruins; o problema é ter um game voltado para disputas online e não conseguir oferecê-las adequadamente.
 
Essa situação piora por causa de algumas dificuldades técnicas como a renderização de cenários e instabilidades eventuais na conexão. É possível criar partidas locais, mas elas prejudicam bastante o elemento estratégico de Isonzo. Os bots têm comportamentos razoáveis, só que por vezes erráticos, minando jogadas legais que poderiam ser executadas em um grupo organizado (ofensivas aéreas, ataques sincronizados, etc).
Trabalhar em equipe é fundamental
Senti falta de um tutorial robusto para novos jogadores, pois a única opção é um vídeo pré-gravado com dicas meio vagas. Na mesma vertente, ainda que a proposta seja voltada para partidas online, uma campanha teria sido bastante interessante. Ela não somente mitigaria o impacto da dificuldade de encontrar salas, mas também permitiria uma maior imersão no triste, mas rico mundo inspirado na Primeira Guerra Mundial.

Produção sólida

Voltando a falar das partidas em si, com exceção de alguns gritos estridentes de soldados feridos e dos já comentados probleminhas gráficos, elas funcionam e figuram muito bem. Vou além: para uma produção indie, temos visuais bem caprichados, com paisagens bonitas e com boa dose de detalhes. Soldados, tal como seus uniformes e armamentos, também estão bem apresentados, mantendo o nível de fidelidade histórica vista ao longo do game.
Efeitos de luz e sombra estão bem caprichados
O próprio ritmo lento, de maneira geral, permite uma apreciação de montanhas, vilarejos, plantações, fortalezas e picos gelados. Efeitos sonoros (como o disparar de rifles e canhões) são interessantes, superados apenas pela trilha repleta de músicas orquestradas, que coloca o jogador numa espécie de show de ópera. A apresentação só peca realmente pelos menus, claramente pensados para mouse e teclado e não para consoles e seus controles.
 
Isonzo traz seis diferentes classes para o jogador escolher e entrar nos combates. Os mapas mostram os pontos de interesse, seja do lado que defende ou que ataca, permitindo adentrar na luta no local mais necessitado e com os recursos adequados. Conquistar bases e destruir fortificações inimigas é fundamental para ter sucesso, algo que pode ser facilitado de acordo com o tipo de soldado escolhido.
Escolher a classe e o ponto de inserção na luta fazem parte da estratégia
O jogador pode liberar novas opções para customizar as classes ao subir de nível, seja coletando pontos de experiência, seja completando desafios específicos. Engineers têm habilidades que envolvem construções e sabotagens, enquanto Officers precisam chamar por reforços e despachar ordens. As recompensas dos novos níveis incluem novas armas, equipamentos e habilidades.

Atualização bem-vinda, mas insuficiente

Para terminar, vamos finalmente falar sobre o evento limitado Ascent, que proporciona combates fortemente focados em mecânicas verticais. Ou seja, desafios que envolvem muita ação e riscos em grandes altitudes. Na pele dos italianos, o jogador precisa subir montanhas nevadas em trilhas íngremes e perigosas, enquanto os austro-húngaros precisam defender a sua posição elevada.
Diversas novidades na nova atualização
Ambos os lados contam com recursos únicos para ter êxito nas suas respectivas empreitadas, como pítons (lâmina metálica com argola que fica cravada na parede da montanha) para escaladas com corda por parte da Itália, e pedregulhos para serem rolados precipício abaixo pela Alemanha. Enquanto os mapas anteriores já traziam perigos verticais, o evento intensifica esse aspecto.
As escaladas são um ponto-chave dos desafios
O evento também traz novos acessórios e uniformes ao inventário. Outra estreia é a chegada de chat por voz para os consoles, inclusive em partidas crossplay. Infelizmente, os já citados problemas de estabilidade e, sobretudo, falta de jogadores online dificultam o aproveitamento do evento The Ascent. Mais uma vez, mesmo uma pequena campanha ajudaria a dirimir essas questões.

Muito suor para alguma diversão

Apesar de todas as suas qualidades, que incluem produção competente, jogabilidade sólida e diversas possibilidades divertidas durante os combates, Isonzo sofre com alguns problemas graves. Além do potencial desperdiçado em não oferecer um modo campanha, o foco nas partidas online ressalta problemas de conexão e criação de salas. Certamente existe muito entretenimento no topo deste FPS, mas somente para aqueles dispostos a escalar uma acidentada montanha.
Um bom momento para conhecer o FPS

Prós

  • FPS competente no que se propõe e com boa dose de momentos interessantes;
  • Trabalho de caracterização histórico é elogiável;
  • A jogabilidade é acessível e pode proporcionar experiências únicas;
  • Boa variedade nos combates, com diversos cenários, classes e equipamentos;
  • Produção audiovisual muito boa, sobretudo para um indie.

Contras

  • Faltou um tutorial formal, mesmo que mínimo, para explicar as mecânicas do jogo;
  • Problemas técnicos como criação de partidas multijogador online, renderização de paisagens e design dos menus;
  • Ausência de um modo campanha.
Isonzo — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.0
Plataforma utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise redigida com cópia digital cedida pela Focus Entertainment

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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