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Análise: Highwater (Multi) é uma emocionante jornada pelo sonho de uma vida melhor

Com o iminente fim do planeta, alguns jovens desejam fugir para Marte para uma melhor perspectiva de vida.


Highwater
é um jogo de ação e aventura ambientado em uma região do planeta inundada após uma grande catástrofe ecológica. Nele, acompanhamos Nikos e seus amigos, um grupo de jovens que deseja se infiltrar em uma nave espacial que está prestes a levar os ricos moradores de Alphaville para Marte. O jogo combina exploração de um mundo inóspito e destruído com um combate por turnos com boas ideias, mas pode ter uma certa dificuldade em cativar os jogadores.

O foguete da esperança

A grande catástrofe ecológica foi um evento que devastou o planeta Terra. Um dos poucos lugares habitáveis é Alphaville, cidade onde os ricos e privilegiados conseguem ter acesso a recursos e viver com um certo conforto. Os arredores da grande cidade estão inundados e os desfavorecidos vivem em pequenos pedaços de terra e prédios que ainda não foram consumidos pela água.




Um dos poucos serviços que atendiam as necessidades dessas pessoas era um programa de compartilhamento de recursos. No entanto, esse programa foi encerrado sem explicações, o que levou a região ao caos. A briga por alimentos se tornou mais intensa e a revolta ocasionou na criação da Insurgência, um grupo de guerrilheiros armados que atacam qualquer um que fique contra seu objetivo de acabar com os habitantes de Alphaville.

Após um tempo, começou a rodar um boato de que os ultrarricos estão construindo foguetes para fugir para Marte e começar uma nova vida por lá. Nesse contexto, vamos conhecer Nikos, um adolescente órfão que tomou a decisão de entrar em Alphaville e infiltrar-se em um dos foguetes. Junto dele estarão Rimbaud, Laura e Josephine, que também decidem largar tudo para seguir o sonho de ter uma vida melhor.



Simplicidade a serviço da emoção

Highwater tenta nos contar a emocionante jornada de jovens que decidem largar seus amigos e familiares para tentar sobreviver em Marte. O grande foco da aventura é a história: durante boa parte do jogo exploramos com o nosso barco pequenas ilhas e prédios que nos contam a sobre os problemas climáticos e como a Terra se tornou inabitável.

A ambientação também é um fator que ajuda a contar essa história: além de água para todo lado, é possível ver monumentos, casas e prédios destruídos, assim como a fauna e flora comprometidas pelos problemas ambientais. Além de insurgentes e alphavillianos, plantas e animais também se tornam inimigos na busca por nosso objetivo. Mesmo com uma certa profundidade, Highwater utiliza de simplicidade e minimalismo para nos guiar pela campanha. Por um lado, essas escolhas funcionam para dar destaque ao que importa, por outro, o processo de contar a história e criar emoções fica comprometido. 




Segundo a história, Nikos e seus amigos devem correr para conseguir chegar até o foguete, pois seu lançamento ocorrerá em breve. O senso de urgência deveria nos acompanhar durante a campanha, mas a simplicidade dos gráficos e da trilha sonora, principalmente durante os combates, pode não trazer essa sensação. O low poly utilizado é charmoso e cria ambientes bem feitos e detalhados, mas em compensação, os protagonistas não possuem expressões faciais ou gestos que transmitem suas emoções.

A única forma de expressão dos personagens são suas falas. Os diálogos ocorrem através de balões, como histórias em quadrinhos, de forma muito cadenciada, quebrando o ritmo da aventura. Isso também interfere na progressão, deixando o jogo arrastado e tedioso em certos momentos.

No entanto, vale destacar que Highwater consegue passar a sensação de melancolia de maneira muito eficaz. Em muitos momentos, Nikos aparece sozinho refletindo sobre suas decisões: deixar seus amigos em um planeta que está prestes a acabar; o perigo de sua jornada; o medo de dar tudo errado; e como será a vida em outro planeta. Outro ponto são as performances musicais com vocal e instrumentos: a reflexão em relação à destruição, egoísmo e o iminente fim são abordados de maneira magnífica e nos deixam mais imersos na história.



Conflito por toda parte

Ao longo de toda a campanha, intercalamos a exploração e o desenvolvimento da história com combates contra os alphavillianos e os insurgentes. Nesses momentos, Highwater modifica sua jogabilidade para um combate tático por turnos. Os cenários de luta são limitados por um grid quadriculado em que podemos nos mover de acordo com o atributo de mobilidade de cada personagem.

Além da movimentação, podemos equipar armas e reforços em cada um dos protagonistas. Para cada um deles, podemos adicionar duas armas distintas para dar mais variedade ao combate. Nikos, por exemplo, tem como armamento básico o remo de seu barco que possui alcance um e dois de dano. Outra opção disponível para ele é a vara de pescar, que tem cinco de alcance e um de dano, além de arrastar o alvo um quadrado dentro do grid.




Os equipamentos estão categorizados como corpo a corpo, que são armas brancas, e longo alcance, que são as armas de fogo. Algumas delas, como a vara de pescar que citei anteriormente, possuem efeitos secundários: arrastar pelo cenário; queimadura; atordoamento; e sangramento são apenas alguns exemplos do que podemos fazer em combate.

Os cenários ainda possuem elementos interativos que podem nos ajudar. Árvores, carrinhos de supermercado, pedras, estátuas, portas de carro e prateleiras de mercado podem ser usados tanto como proteção, como ataque. Além disso, derrubar inimigos em buracos — ou cair dentro deles — garante uma morte instantânea ao personagem.




Em relação aos reforços equipados, eles são remédios, vitaminas ou alimentos que nos dão bônus temporários em atributos como vida, dano e alcance de movimentação. Todos esses elementos combinados criam um combate variado e divertido, sendo possível criar diferentes abordagens para uma mesma situação.

A dificuldade no geral é baixa, pois ao final da luta precisamos de apenas um personagem vivo, qualquer que seja. Mas mesmo assim, ele é punitivo o suficiente para penalizar os jogadores que tentem jogar de qualquer maneira, sem elaborar alguma estratégia. A movimentação robótica é outro aspecto que pode incomodar, pois deixa a luta muito arrastada. Mas para isso, há um botão específico que acelera as ações.



Um final feliz?

Highwater aproveita o debate climático para criar uma história cativante, mesmo com alguns poréns. A história de Nikos e seus amigos é emocionante e atrai principalmente pela parte musical e as reflexões em relação às escolhas dos protagonistas, que trazem um ar melancólico ao jogo. O combate é outro ponto alto, pois há uma boa variedade de armas e elementos de cenários que, quando combinados, permitem elaborar muitas estratégias de combate.

O seu maior problema, no entanto, é o ritmo. Tanto o combate quanto os diálogos são arrastados, demoram a acabar e deixam a aventura maçante. Pular as falas ou acelerar o combate não é uma boa ideia, pois dá aquela sensação de serem fatores descartáveis, mas, na prática, eles são muito importantes. Ainda assim, acredito que Highwater vale ser experimentado pelo seu debate e grande apelo emocional.



Prós

  • O enredo é emocionante e utiliza um debate contemporâneo para criar uma história cativante;
  • O combate oferece diversas ferramentas para diversificar nossas estratégias;
  • As músicas, quando aparecem, destacam-se, além da qualidade, por retratar a melancolia que é viver em um mundo destruído.

Contras

  • A simplicidade visual, principalmente nas expressões faciais dos personagens, interfere um pouco na imersão;
  • O ritmo cadenciado dos diálogos e do combate deixa o progresso da história lento;
  • A dificuldade baixa dos combates não combina com o senso de perigo da história.

Highwater — PS5/XSX/PC/Android/iOS — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério 
Análise feita com cópia digital cedida pela Rogue Games


É engenheiro geólogo, graduando em Engenharia Ambiental, entusiasta de novas tecnologias e apenas mais um mineiro que não vive sem café e pão de queijo. Gosta de aproveitar o tempo apreciando RPGs, relaxando em simuladores de fazenda e curtindo uma boa música em jogos de ritmo.
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