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Análise: CorpoNation: The Sorting Process (PC) – Trabalhando duro para fortalecer uma economia distópica

Trabalhe dando o seu melhor, mas não esqueça de investir na economia deste curioso título de simulação.


CorpoNation: The Sorting Process
é um título curioso que combina elementos de quebra-cabeça e de jogos de simulação. Nele, somos recrutados para fazer parte do quadro de funcionários de uma mega corporação em uma realidade distópica cujo objetivo aparente é o avanço da nação. No entanto, conforme mergulhamos mais fundo na trama, começamos a nos questionar se o que estamos fazendo tem realmente essa finalidade. Hora de bater o ponto para a análise de hoje.

Trabalhe duro! Invista na economia!

Em CorpoNation: The Sorting Process, assumimos o papel de um estagiário recentemente contratado pela CorpoNação Ringo, uma das empresas mais conceituadas no ramo da engenharia genética do país — se não a única. Agora instalados em uma cápsula residencial, nosso objetivo é nos dedicarmos integralmente ao trabalho, contribuindo com nosso melhor desempenho diário para reinvestir nosso ganho na economia. A meta é ser 110% produtivo todos os dias!

Como estagiários da Ringo, nossa principal responsabilidade é atuar no departamento de separação de materiais genéticos da empresa. Demonstramos nossa dedicação sendo assíduos e realizando horas extras para satisfazer nossa gerente e garantir a máxima eficiência no trabalho.



Ao retornar à cápsula residencial no final do dia, desfrutamos de momentos de lazer em nosso computador, jogando alguns games aprovados pelo Estado e atualizando-nos com as principais notícias sobre a próspera economia. Também nos informamos sobre a importância de manter um desempenho exemplar no trabalho e sobre as novas atividades do grupo criminoso conhecido como Síntese, uma ameaça para o crescimento da Nação, por meio do canal de notícias.


Além disso, jamais esqueça de fornecer as respostas desejadas pelo departamento de marketing nas pesquisas enviadas a você, expressando seus sentimentos em relação ao trabalho, à Nação e aos colegas de equipe. Respostas desfavoráveis podem resultar na perda de créditos de bônus por contribuição de opinião.

Após cumprir essas tarefas, preparamo-nos para um novo dia, repleto de desafios e oportunidades para contribuir com o crescimento da Nação. O trabalho nunca se torna monótono, pois sempre há algo a mais para fazer, inclusive ser contatado pela Síntese, que tenta revelar a verdade por trás das operações aparentemente perfeitas da Ringo.

Stress, rotina e conspiração

Em CorpoNation: The Sorting Process, somos imersos em um jogo que mescla mecânicas de puzzle com uma simulação que aos poucos vai nos envolvendo. Nosso principal objetivo é realizar a separação de materiais genéticos diariamente para ganhar créditos, os quais usamos para pagar nossas despesas e investir na economia, além de reservar uma parte para adquirir itens supérfluos e excessivamente caros.


À medida que os dias passam, nosso trabalho se torna mais desafiador com a introdução de novos tipos de amostras que exigem tratamento antes de serem acondicionadas em seus respectivos tubos de armazenamento. Inicialmente, simplesmente classificamos as amostras por forma, mas logo novos padrões e variações tornam a tarefa um verdadeiro quebra-cabeça.

Cometer erros, como colocar amostras inadequadas ou vencidas nos tubos, resulta em descontos no pagamento diário. Além das despesas básicas como alimentação e manutenção da cápsula residencial, reinvestimos na economia comprando itens para decorar nosso lar. Recusar-se a consumir é malvisto, e caso não compremos nada somos obrigados a pagar uma taxa de fidelidade para incentivar o consumo e contribuir com a prosperidade nacional.


A Ringo monitora até mesmo atividades aparentemente triviais. Deixar de jogar (e gastar) com os games aprovados pelo Estado é considerado uma ofensa, já que esses foram cuidadosamente projetados para estimular o consumo e nos manter focados nas tarefas de separação. Imagine trabalhar o dia todo e, ao chegar em casa, jogar um jogo de paciência cujos naipes correspondem aos padrões genéticos que analisamos durante o expediente. Essa é a rotina de um funcionário exemplar da Ringo.

A monotonia da rotina é quebrada quando começamos a receber tentativas de contato da célula Síntese, uma organização criminosa que busca minar a harmonia da Nação, construída sobre o investimento dos cidadãos na economia.

Conforme as semanas passam a trama se torna mais complexa, assim como os desafios do processo de separação de materiais, o que nos leva a questionar nosso papel na Ringo e, mais crucialmente, se a Síntese é realmente a vilã nessa intrincada história.

Fazendo hora extra para encontrar nosso rumo

CorpoNation: The Sorting Process destaca-se pela sua história envolvente, repleta de camadas de complexidade que nos imergem cada vez mais no universo do jogo. Inicialmente, sentimos uma motivação para dar o nosso melhor a cada dia na esperança de conquistar uma promoção e enfrentar novos desafios.

Contudo, à medida que o tempo passa, o aumento da complexidade do trabalho, as novas regras impostas pela gerência e a pressão para cumprir cotas diárias geram um estresse constante antes mesmo de começarmos nossa jornada de trabalho. A necessidade de lidar com amostras mais complexas, cumprir metas de produção e o receio de ser punido pela empresa criam um clima de tensão constante.


Esses detalhes contribuem para a imersão no jogo, enquanto nos deixam desconfortáveis com as decisões a tomar a cada dia. Precisamos ponderar entre seguir as regras da Ringo ou colaborar com a Síntese, mesmo cientes das consequências financeiras que essas escolhas podem acarretar.

À medida que a trama se desenrola, somos levados a explorar o ambiente distópico da Nação, mas não podemos esquecer que estamos diante de um jogo. Existem os momentos de diversão e os de envolvimento, e nesses segundos nos esforçamos para desempenhar nossas atividades da melhor forma possível.

Por outro lado, o jogo ter o trabalho como necessário para obter recursos e avançar na história pode gerar sentimentos de isolamento e desejo de encontrar atalhos ou burlar as regras. Tentativas de enganar o sistema muitas vezes resultam em punições, como advertências por comportamento inadequado ou tarefas não realizadas.


Minha experiência com CorpoNation: The Sorting Process foi marcante. Embora já tenha vivenciado algo semelhante com Papers, Please, a ambientação em uma sociedade capitalista ultraconservadora, com críticas sociais evidentes ao consumismo desenfreado, à alienação do trabalho e à manipulação da informação para controle das massas, proporcionou-me um novo choque de realidade, mostrando reflexões necessárias sobre nossa própria sociedade que merecemos ter de vez em quando.

Batendo ponto

CorpoNation: The Sorting Process oferece uma experiência de jogo imersiva e provocativa, que nos confronta com questões relevantes sobre o sistema sociopolítico e econômico. A trama intrigante e as mecânicas simples, mas desafiadoras, se somam a uma reflexão sobre temas relevantes sobre a sociedade ultra capitalista.


Prós

  • Uma narrativa profunda e elaborada, com temas que favorecem nossa imersão no jogo;
  • Mecânicas de jogo simples que mantêm nosso interesse ao longo da experiência;
  • Temas sociais que chamam a atenção;
  • Excelente localização para o português.

Contras

  • Certas tarefas se tornam monótonas e excessivamente complicadas ao longo do jogo, gerando desconforto e desinteresse;
  • A inflexibilidade das regras pode limitar a liberdade do jogador e gerar situações chatas ou punitivas.
CorpoNation: The Sorting Process — PC — Nota: 8.0
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playtonic Friends

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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