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Análise: Penny’s Big Breakaway (Multi): plataforma e truques de ioiô em uma explosão de cores

Após o sucesso de Sonic Mania, criado sob a tutela da SEGA, o time de desenvolvedores fundou o Evening Star Studio, em 2018. O primeiro jogo... (por Victor Vitório em 11/03/2024, via GameBlast)


Após o sucesso de Sonic Mania, criado sob a tutela da SEGA, o time de desenvolvedores fundou o Evening Star Studio, em 2018. O primeiro jogo foi Penny’s Big Breakaway, lançado de surpresa no final de fevereiro, que mantém o segmento de plataforma, mas o leva à terceira dimensão para contar a aventura de Penny e seu ioiô.

No balanço do ioiô

Em jogos de plataforma, talvez ainda mais nos de mundos 3D, os movimentos versáteis são cruciais para a experiência. Penny’s Big Breakaway sabe bem disso e implementa um eixo ao redor do qual pode executar a performance enérgica da protagonista. 



Aqui, performance é uma palavra-chave, tanto no tema quanto na idealização da gameplay. Mecanicamente, o ponto de partida das mecânicas é o ioiô polivalente, que levará Penny, a protagonista, aonde ela precisa. A menina pode pilotá-lo para correr mais rápido, balançar no ar como um pêndulo para conseguir alcançar mais longe ao saltar, atacar usando o analógico direito para lançar o brinquedo em qualquer direção ou girar como um pião.

Itens encontrados nas fases aumentam o leque de habilidades para momentos específicos: o martelo destrói uma parede de pedra, o hambúrguer de boliche quebra enquanto seu efeito durar, a pimenta faz a investida correr sobre a água; o bolo tem hélices para voar alto; e por aí vai. Dá para ver como a coisa toda usa e abusa do nonsense caricato de desenho animado, não é mesmo?




Na prática, a ideia do ioiô é mais ou menos como em Super Mario Odyssey, no qual o chapéu Cappy é responsável pelas habilidades que ajudarão Mario em sua odisseia, ou o pássaro que faz o trabalho pesado para o urso em Banjo-Kazooie. São meio personagens, meio ferramentas multiuso, mantendo a coesão da gameplay em torno de uma lógica central bastante concreta.

A execução tem seus prós e contras. De fato, os movimentos de Penny são bons recursos para atravessar as fases, têm profundidade e servirão a quem quer conseguir boa pontuação. Por outro lado, mesmo sendo habituado a plataforma 3D, precisei de um tempo para me acostumar aos movimentos e creio que a concatenação das habilidades poderia ser mais fluida.



Por exemplo: atacar com o ioiô duas vezes seguidas provoca uma investida curta, mas impetuosa, atrapalhando o controle da personagem. Outro é quando Penny está correndo em cima do ioiô rolante, momento no qual apertar o botão de ataque não tem efeito. Para conseguir usar a função, é necessário primeiro cancelar a rolagem com um pulo e, em seguida, atacar.

Além disso, correr rente a uma parede diminui a velocidade da personagem, o que pode impactar segmentos de fuga. Também posso dizer que as vezes em que caí fora do caminho direto para a morte foram mais numerosas do que o esperado do gênero. Houve, inclusive, um confronto de chefe que consistia em uma corrida no espaço e, ao errar e cair no nada, o jogo me trazia de volta ao circuito no mesmo local da queda, sem chance de retorno.




Depois dos abismos, areia movediça e feixes de eletricidade, os principais perigos à saúde de Penny são as hordas de pinguins que irrompem do cenário para persegui-la e se agarram a ela, diminuindo a velocidade da garota, que só é capturada quando o montinho soma seis pinguins. Como parte do tom cartunesco, essas aves não fazem muito sentido no jogo, mas seguem um contexto que as faz querer aprisionar a pobre protagonista. 

Cachorrinho passeando

Penny está sempre se apresentando com os truques de seu ioiô vivo, Yo-Yo, fazendo manobras ao longo das fases e subindo ao palco no final delas. Na verdade, toda a aventura começou por causa do brinquedo descontrolado que ela tem em mãos.



A história recorre o tempo inteiro ao nonsense de cartuns e jogos de plataforma antigos. Começa na cidade de Baunilhópolis, onde o Imperador Eddie abriu inscrições para o Gala, uma espécie de show de talentos no qual, até então, ele sempre se exibia sozinho e de forma pouco impressionante. A garota Penny decide se inscrever com suas habilidades, quando encontra um item maravilhoso: um enorme ioiô vivo com uma grande boca cheia de dentes.

Até o Imperador gostou da apresentação. O problema é que o ioiô bizarro decidiu picotar a roupa do monarca, deixando-o de cueca, envergonhado e furioso. É claro que não adianta dizer que a culpa é do brinquedo, então a menina se torna uma criminosa procurada.



Assim, Penny iniciará sua grande fuga das legiões de pinguins através das terras vizinhas, como uma enorme cozinha de lava e um colossal spa de piscinas, sempre reservando um tempo para ajudar os habitantes locais e para fazer um showzinho na finalização de cada fase, apertando dentro do tempo os comandos indicados na tela.

Achei uma boa surpresa que os cidadãos espalhados pelas fases sempre têm um balão de fala própria que surge espontaneamente ao nos aproximarmos deles, sem interromper a gameplay. Não que tenham coisas memoráveis a dizer, mas essas interações, além de fazerem graça, certamente dão uma camada extra para o mundo, algo inesperado em jogos de pura plataforma.



Volta ao mundo

Basta ver a capa ou o trailer para saber o que esperar visualmente. Penny’s Big Breakaway é um jogo que não tem medo de jogar roxo, laranja, verde e azul em um mesmo cenário (sim, o diretor de arte é o mesmo de Sonic Mania, Tom Fry).

A explosão de cores saturadas lembra títulos dos anos 1990, quando o baixo nível de detalhes tinha que ser compensado com visual chamativo para demarcar bem cada coisa. O resultado depende muito do gosto e sensibilidade de cada um e, para mim, várias partes acabaram se afogando na overdose colorida.

O esquisito é que as cores fortes têm efeito de granulação móvel quando vistas a distância, algo bem constante em tela, provavelmente para disfarçar a resolução das coisas ao longe. O efeito não chega a ser um problema, embora cause estranhamento no começo e não contribua para dar profundidade ou acrescentar algo esteticamente positivo ao conjunto chamativo. Veja a diferença entre os planos na imagem abaixo, um recorte da resolução real.




Esse mundo nada discreto é dividido em 11 áreas, cada uma com duas a quatro Cenas (isto é, fases) e um confronto de chefão na maioria delas, totalizando mais de 40 estágios. Todos são lineares e recheados de moedas colecionáveis, trazendo também três medalhas escondidas e três por concluir objetivos de ajudar habitantes locais. As medalhas servem para abrir outras 15 fases bônus, que consistem em desafios curtos. Somando tudo, a aventura de Penny traz uma campanha robusta com muito conteúdo.

Existem duas formas de encará-las. Uma delas é apenas jogar normalmente, coletando o que puder e chegando ao final. A outra remete a tempos ancestrais do videogame, quando a meta era conseguir uma alta pontuação, como uma métrica da habilidade de quem joga.

Penny’s Big Breakaway foi claramente criado com essa segunda visão em mente, uma vez que sempre há um cronômetro na tela, pontos por manobras, um combo multiplicador para quem as faz em sequência e uma soma total que leva em conta o nível de completude no final da Cena, recompensando aqueles que atingirem a meta com uma imagem para a galeria de Extras.



Como a pontuação pode ser bastante exigente, preferi me ater à primeira forma que descrevi e focar na diversão em plataforma 3D, o que me tirou a vontade de revisitar as fases mais tarde. No fim das contas, este não é um jogo punitivo, provendo checkpoints suficientes para avançar e tendo na perda de pontos a única penalidade para a morte. Para quem quer alcançar as metas de pontuação, uma morte representa um grande impacto e provavelmente exigirá reiniciar a fase, mas não há muito incentivo para além do ímpeto pessoal por high scores.

Artista em treinamento

Penny’s Big Breakaway é um bom jogo, mas seu show não surpreende e os comandos nem sempre fluíram como eu gostaria. Não há grandes defeitos nem grandes qualidades que o destaquem, sendo recomendado especialmente para quem gosta de plataforma 3D e de jogos coloridos com jeitão de desenho animado.



Prós

  • O ioiô é um equipamento versátil que mantêm a coesão das mecânicas de jogo;
  • Campanha robusta com muitas fases e confrontos com chefões;
  • Sistema de pontuação para incentivar quem gosta de se aprimorar nos controles;
  • Os balões de fala dos NPCs constroem o humor e os contextos dos locais da aventura;
  • Localizado em português brasileiro.

Contras

  • Alguns movimentos do ioiô precisam ser cancelados antes de serem conectados a outros, o que impacta na agilidade;
  • A câmera prejudica a noção espacial e leva a saltos incertos sobre abismos;
  • O visual super colorido nem sempre é consistente em criar uma mistura equilibrada;
  • Granulação dos gráficos quando vistos de longe;
  • A linearidade das fases as simplifica e reduz o apelo a quem não está interessado em tentar as exigentes metas de pontuação.
Penny’s Big Breakaway - PC/PS5/XSX/Switch - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Private Division

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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