Jogamos

Análise: Final Fantasy VII Rebirth (PS5): explorando além de Midgar

A segunda parte da trilogia “Remake” novamente expande o universo de Final Fantasy VII de forma significativa em um RPG vasto e divertido.

Final Fantasy VII Rebirth
é a segunda parte de um projeto de remake de um dos RPGs mais reverenciados da história dos videogames. Porém, em vez de focar em fielmente adaptar o projeto original, o que temos é uma enorme expansão do universo do jogo original e um projeto megalomaníaco de reimaginação que vai muito além do que um simples relançamento faria.

Um mergulho mais profundo

Após os eventos de Final Fantasy VII Remake, Cloud e seus amigos saíram de Midgar e agora estão em busca de Sephiroth. A jornada envolverá viajar por vários cantos do planeta em busca de informações, seguindo indivíduos encapuzados que parecem ser atraídos rumo à posição em que o vilão se encontra.

Temos aqui uma gigantesca expansão de eventos. Mesmo passando por várias situações que já estavam presentes no original, a apresentação moderna faz com que os acontecimentos tenham outra cara e consigam explorar muito melhor o carisma dos personagens e parecer algo totalmente novo.

Algumas coisas acontecem de formas bem diferentes e até momentos iguais possuem alterações significativas. Em especial, chama atenção a forma como a trama reapresenta Sephiroth, os Whispers e certas cenas que não poderiam acontecer na continuidade original.

Mesmo para quem não ficar muito confortável com as adições, sinto que a modernização, da forma como as coisas são apresentadas, é um fator bastante positivo. Temos uma chance de mergulhar muito mais fundo no mundo e nos personagens de Final Fantasy VII do que nunca antes, e esse fator é um dos méritos mais fortes de FF7 Rebirth.

Apesar disso, em alguns momentos, os personagens apresentam comportamentos que soam estranhos, especialmente tendo em vista o estilo muito mais realista do visual em comparação com o original. Em particular, alguns personagens e situações usados como humor podem soar imaturos; é notável, por exemplo, como a Tifa às vezes não demonstra emoções tão bem visualmente, apesar das suas dubladoras americana e japonesa fazerem um bom trabalho em carga sentimental.

O mundo além de Midgar

Um dos principais fatores em que Rebirth se apoia é o fato de termos um mundo extremamente expansivo e cheio de coisas para fazer. Os pedaços de mapa do original se tornam vastos espaços para explorar e encontrar itens e inimigos. Os tradicionais NPCs (personagens não-jogáveis) se tornam fontes de missões variadas, que exploram mais a fundo a ambientação.

A exploração das macrorregiões é valorizada pelos Informes Globais, que são missões variadas espalhadas pelo mapa. Temos que procurar várias torres, inimigos especiais, fontes de mako e até simulações de combate contra Summons. O resultado é que sempre tem coisa nova para ver, fazendo com que o jogo possa render dezenas de horas.

Ao fazer essas missões secundárias, podemos ganhar moedas e trocar por Matérias especiais, sendo um bom exemplo disso as duplas, que permitem economizar slots ao carregarmos duas magias. Há ainda informes que explicam elementos do passado de cada região, permitindo que o jogador entenda melhor o mundo ao seu redor.

Cada região pode ser explorada a pé ou usando Chocobos, havendo também outros elementos que usamos para explorar. As aves encontram itens enterrados com o seu faro e  exploram o terreno de forma especial, seja escalando grandes muralhas ou pulando em cima de cogumelos.

Os momentos de abertura para a exploração são intercalados com áreas como cidades e dungeons. Além da variedade de localidades para explorar, temos a chance de usar habilidades específicas de cada personagem, como a capacidade de atirar em cristais com Barret ou escalar áreas usando cordas.

Trata-se de um jogo rico em exploração e capaz de dar ao jogador liberdade e direcionamento de forma geral. Em alguns pontos específicos, pode ser um pouco confuso chegar a áreas que envolvem dar voltas devido a elementos de relevo do cenário, o que nem sempre fica claro com o mapa e o minimapa, mas eles são mais a exceção do que a regra.

No limite entre turno e ação

Enquanto o Final Fantasy 7 original era baseado em turnos e usava a barra de Active Time Battle (batalha em turno ativo) para dar um elemento de tempo real, o que temos em Rebirth é um jogo de ação. Precisamos tomar bastante cuidado com o nosso posicionamento em relação aos inimigos e podemos alternar o nosso controle entre os três personagens que fazem parte da composição atual da equipe.

Conforme atacamos os inimigos, enchemos a barra BTA (ATB, em inglês), que é necessária para o uso de habilidades, itens e magias. Além de causar dano, os golpes que usamos são uma forma de preencher a barra de atordoamento do inimigo, o que paralisa o adversário durante um tempo e o deixa mais fraco e vulnerável a golpes. Explorar as fraquezas dos inimigos é uma forma de alcançar essa meta mais rapidamente, mas é importante tomar cuidado com o valor bem limitado de PM (pontos de magia).

O primeiro aspecto que chama a atenção no combate é o fato dele combinar o dinamismo da ação com a possibilidade estratégica dos turnos. Quando o jogador quer utilizar uma habilidade mais elaborada, pode usar um Menu Tático que faz com que tudo rode em câmera ultralenta para o jogador fazer suas decisões. Também é possível optar por atalhos personalizados para ativar suas ações mais rapidamente sem procurá-las no menu.

Junta-se a isso os aspectos específicos de cada personagem, que envolvem vantagens, fraquezas e microsistemas particulares. Por exemplo: Cloud é capaz de assumir uma postura mais lenta para causar mais dano e punir inimigos com contra-ataques poderosos; Aerith ataca à distância, mas é bem vulnerável em curta distância e possui uma habilidade de teleporte por conta disso; e Yuffie alterna entre ataques de curta e longa distância, usando ninjutsu como complemento.

Cada personagem possui um fólio, que é um sistema similar ao Sphere Grid de FFX e à License Board de FFXII. Com ele em mãos, é possível expandir as suas habilidades e liberar técnicas específicas, o que inclui vantagens passivas, como aumento de PV (pontos de vida); golpes elementais sem custo de PM; e ações/habilidades de sinergia que os personagens podem usar em conjunto. Alguns desses poderes são únicos, enquanto outros são parte dos fólios de vários aliados.

Evoluindo o conceito de sinergia apresentado em Intergrade, Rebirth permite usar dois tipos de poderes: as Ações e as Habilidades. As Ações de Sinergia podem ser usadas a qualquer momento para coordenar os ataques dos aliados ou fazer com que eles defendam juntos. Já as Habilidades são um golpe ultra poderoso em dupla que ativa efeitos secundários por tempo limitado.

Além de tudo que mencionei, ainda temos uma grande variedade de Matérias; itens acessíveis a todos os personagens para liberar habilidades, magias e poderes passivos; e equipamentos. Itens e equipamentos são criados usando um sistema de crafting que aproveita os recursos obtidos na exploração, enquanto matérias especiais são liberadas com os Informes Globais.

Com todas as opções disponíveis, conseguimos criar um trio bem alinhado às nossas preferências e ajustar nossa equipe para explorar as fraquezas dos adversários em lutas mais complexas. Francamente, trata-se de um dos sistemas de combate mais agradáveis com os quais já tive contato em videogames.

Um mundo de minigames, luzes e sons

Sendo Final Fantasy VII Rebirth um jogo da geração atual de consoles, há um esforço significativo em explorar as condições técnicas disponíveis até então. Em especial, me chamou bastante atenção a agilidade das transições, aproveitando as capacidades do SSD do PS5. Os momentos in-game e cenas de diálogo/cutscenes são intercaladas de forma tão ágil que me mantiveram imerso durante todos os trechos.

A trilha sonora também não fica para trás. Para quem é fã do FF7 original, basta ouvir músicas como Tifa’s Theme para sentir a nostalgia, mas até mesmo as músicas totalmente novas são bastante memoráveis. Temos muitas faixas e elas são muito bem utilizadas para aprimorar os efeitos emocionais dos eventos.

Um elemento de Final Fntasy VII Rebirth que também precisa ser comentado são seus muitos minigames. Esses momentos de gameplay já faziam parte do original, mas a nova versão expande significativamente a quantidade de coisas para fazer. Eles são uma forma agradável de dar variedade à experiência, mas há várias situações em que é obrigatório realizar essas atividades para avançar. Junto com alguns trechos em que a trama acaba desviando do foco, há uma leve sensação de inchaço desnecessário na campanha principal com aspectos que poderiam ser opcionais.

Por fim, gostaria de destacar apenas um último elemento técnico que me incomodou em particular: a identificação de objetos em meio ao cenário. Em alguns momentos, tive bastante dificuldade de encontrar itens ou personagens da equipe para interagir que não estavam indicados no mapa. Tive que alternar entre padrões de iluminação diferentes para explorar áreas internas escuras, como cavernas, e o mapa externo muito claro. Nada disso tira o brilho da experiência como um todo, mas é um pequeno detrator da proposta de exploração.

Uma referência de RPG reimaginada

Final Fantasy VII Rebirth traz um excelente trabalho de repensar o universo de um dos maiores clássicos do gênero. Há determinados elementos que mereciam mais polimento, especialmente em nível técnico, mas o resultado geral é uma experiência fantástica e mais uma vez uma referência dentro de seu gênero.

Prós

  • Uma expansão significativa da narrativa do clássico Final Fantasy VII, dando mais atenção aos personagens e eventos e modernizando a sua apresentação;
  • Um mundo explorável riquíssimo em missões e motivos para vasculhar todos os cantos, graças ao sistema de Informes Globais;
  • O combate consegue combinar estratégia e ação de forma a aproveitar as qualidades de cada lado em batalhas dinâmicas;
  • As individualidades dos personagens fazem uma diferença significativa em combate, valendo a pena explorar mudanças de equipe;
  • Boa variedade de habilidades, matérias e equipamentos para customizar os aliados;
  • Trilha sonora bastante variada e cheia de músicas memoráveis;
  • As transições excelentes entre cutscenes e batalha ajudam a dar uma sensação de imersão.

Contras

  • Os comportamentos dos personagens às vezes são exagerados demais, o que pode causar um pouco de estranheza, especialmente em momentos de humor e em trechos em que Tifa deveria demonstrar emoções;
  • Os minigames e desvios obrigatórios acabam dando uma sensação de inchaço na campanha;
  • Mesmo com o mapa e o minimapa, nem sempre é fácil se localizar em áreas com múltiplos níveis de altitude;
  • O baixo contraste entre itens e ambientes às vezes dificulta a identificação.

Final Fantasy VII Rebirth — PS5 — Nota: 9.5

 Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google