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Análise: Ego’s Spark (PC): uma curta, porém fofa visual novel sobre uma androide que aprende a ser humana

Apesar do conteúdo voltado a um público adulto, esta é uma história que vale a pena ser conferida.


Com aproximadamente quatro horas de duração, Ego’s Spark é uma visual novel de cunho sexual (eroge) sobre uma androide que aparenta ser mais humana que máquina. Apesar da premissa já ter sido exaustivamente explorada pela mídia, com clássicos como Chobits existindo há mais de 20 anos, o título desenvolvido por Satsuki pode ser uma adição bem-vinda ao gênero, especialmente para quem não tem muito interesse pelo conteúdo adulto.

Um encontro inesperado (e improvável)

Hajime Honda, 26 anos, é um ex-gigolô do clube Platinum Black. Anteriormente conhecido por Daigoro, uma de suas clientes, junto de seus colegas de trabalho, armou um esquema para que o protagonista perdesse o emprego. Agora, tudo o que o rapaz tem em seu nome é uma dívida, e seus dias no apartamento onde mora, em Tóquio, estão com os dias contados.

Certo dia, quando Hajime decide sair para comprar comida após achar uma nota de 5 mil ienes guardada dentro de um sapato, ele acaba atropelando uma garota por acidente. Acontece que a moça não é humana; na verdade, ela é a mais nova edição de uma linha de sexdroids, ou seja, robôs com inteligência artificial produzidos com o intuito de atender aos desejos sexuais de seus donos.


E-5, como é chamada, logo começa a acusar Hajime de tentativa de assassinato e outros crimes e, numa tentativa de abafar o caso, o protagonista leva a robozinha para seu apartamento. No entanto, o infeliz acidente danificou uma das antenas da androide e, para piorar a situação do rapaz, o preço do reparo só contribui para o aumento dos débitos.

Conversa vai, conversa vem — sempre com muitos insultos envolvidos —, Hajime e E-5 chegam a um acordo aparentemente benéfico para os dois: o rapaz se torna o beta tester das funções da androide, garantindo a ele não apenas impunidade pelo acidente, mas também uma boa quantia de dinheiro ao final do período de duas semanas, enquanto a garota (agora batizada de Ego) não precisa lidar com pessoas com gostos duvidosos como beta testers.

Não quero entrar no campo dos spoilers, mas um ponto interessante da trama é que tanto Hajime quanto Ego têm certa aversão a sexo, cada um com seus motivos. Desse modo, é interessante ver o contraste entre a necessidade da androide precisar das atividades sexuais para recarregar sua bateria, já que sua antena foi danificada, e a relutância dos personagens em engajar no ato.

Para um eroge, a história de amor é bem-vinda

Para uma campanha com duração extremamente curta, ver uma história desse calibre ser executada de maneira satisfatória, inclusive com uma boa dinâmica entre os personagens principais (particularmente, adoro a personalidade tsundere de Ego), é uma adição bem-vinda ao gênero eroge. Além disso, gostei bastante de o jogo não precisar se sustentar nesse tipo de conteúdo, tratando a relação sexual apenas como uma necessidade mundana em vez de um desejo meramente carnal — mesmo com o patch 18+ instalado, as CGs não são muitas, embora garantam uma sobrevida à visual novel como um todo.

Outro adendo que quero fazer é que, por mais que Ego seja retratada como a típica “mulher objetificada”, o ex-gigolô tem a decência de tratá-la como uma pessoa normal, resistindo às suas “tentações masculinas” para colocar o bem-estar da robozinha sempre em primeiro lugar, especialmente no sexo. Dessa forma, temos um eroge que acaba se subvertendo às próprias regras, mostrando que homens e mulheres podem ter relações além das questões sexuais.


Sexo à parte, por mais que a qualidade visual também não deixe a desejar, temos aqui uma visual novel em que o protagonista não tem rosto, apenas Ego. Ainda, não há muitos cenários, dando a sensação de que Satsuki concentrou todos os esforços em proporcionar uma história bem-contada (e com sucesso, vale destacar) em vez de se preocupar com a arte. 

Isso também se reflete no fato de apenas Ego possuir um modelo na maior parte da história (digo isso porque um cão aleatório, curiosamente chamado Goro, aparece vez ou outra). Mesmo nas CGs, o protagonismo é todo da androide, com Hajime aparecendo de relance e, mais uma vez, sem revelar seu rosto. Para fechar essa parte das ilustrações, embora bem-feitas (sobretudo as CGs), não há nenhum elemento que seja de saltar os olhos; em suma, temos aqui o suprassumo do design genérico já adotado em várias visual novels, porém esteticamente agradável.


No campo da trilha sonora, particularmente não tenho nenhuma ressalva a fazer. As trilhas não são memoráveis, mas também não enjoam e tampouco são escassas; embora algumas se repitam ao longo da trama, elas combinam com o contexto em que estão inseridas. Ainda que Hajime não conte com uma dublagem própria, Ego e os demais personagens secundários a possuem — e deixo aqui um elogio à direção de voz em relação às cenas 18+, que conseguem fugir do padrão “gemidos aleatórios aqui e ali”.

Para fechar este tópico, quero também comentar que a interface do jogo em si é bastante polida e agradável, contando com atalhos que podem ser acessados tanto com o mouse quanto com o teclado. Além disso, estão presentes diversas ferramentas de qualidade de vida, como velocidade do texto no modo automático, possibilidade de pular o que já foi lido, ajuste de volume de músicas e vozes e outras funções mais do que bem-vindas para deixar a leitura mais agradável. Infelizmente, a localização para o inglês apresenta alguns deslizes de digitação, mas não é nada que atrapalhe a experiência como um todo.

Duas semanas que parecem uma eternidade

Deixando o conteúdo sexual dos eroges de lado, Ego’s Spark é uma visual novel sobre a improvável relação entre uma androide e um humano que têm aversão a sexo e que passam a conviver sob um mesmo teto. Mesmo que o jogo não se destaque muito no campo audiovisual, as artes e músicas são satisfatórias, garantindo uma leitura agradável e divertida.

Claro, é notável que houve certo corte no orçamento para priorizar a escrita em relação ao audiovisual, mas, no geral, temos aqui uma obra fofinha para fãs de histórias de amor e relações interpessoais, especialmente para quem curte uma pegada mais sci-fi e que não faz muita questão de conteúdo 18+.

Prós

  • História bem-desenvolvida e que subverte o próprio gênero em que está inserida;
  • Crescimento satisfatório dos personagens principais em relação a si mesmos e à sociedade;
  • Apresentação audiovisual agradável, embora genérica em alguns pontos;
  • CGs bonitas e bem-feitas;
  • Dinâmica extremamente divertida e funcional entre Hajime e Ego;
  • Protagonista não hiperssexualizada, mesmo que tenha sido criada para tal;
  • Presença de uma interface de fácil navegação, tanto com mouse quanto com teclado, e várias ferramentas de qualidade de vida para deixar a leitura mais agradável;
  • Cenas 18+ totalmente opcionais, que nada interferem na história além de dar uma sobrevida ao jogo;
  • Ótima dublagem em japonês.

Contras

  • Mais um caso de “protagonista sem rosto nem voz”, típico de eroges;
  • Pouco polimento no âmbito audiovisual no geral, como a falta de variedade nos cenários, o fato de apenas Ego possuir arte própria e a trilha sonora pouco memorável;
  • Curtíssima duração, que não justifica o preço cobrado (R$ 46,99);
  • Alguns deslizes de digitação na localização para o inglês.
Ego’s Spark — PC — Nota: 7.0
Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Shiravune

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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