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Análise: Astlibra Revision (PC/Switch) é um RPG de ação 2D que brilha justamente nos combates

Além do ótimo conteúdo principal, o jogo possui um DLC muito divertido e viciante.

Desenvolvido pelo produtor independente KEIZO e publicado pela WhisperGames, Astlibra Revision é um agradável RPG de ação 2D. Com um sistema de combate ágil e repleto de possibilidades, aliado a uma trama envolvente, este título representa uma adição de bastante qualidade ao gênero.

Um garoto e um pássaro

A história de Astlibra Revision tem início com um casal de crianças testemunhando a devastação de sua vila por terríveis monstros. Como se isso não bastasse, o caos separa os jovens, lançando-os em destinos divergentes.

Pouco tempo depois, o garoto desperta em uma cabana, com sua memória fragmentada e acompanhado por um misterioso pássaro negro falante que insiste em afirmar que não é um corvo. Após quase uma década vivendo em isolamento, a dupla embarca em uma jornada errante pelo mundo até que, finalmente, encontra refúgio em uma cidade.

Retornando à civilização, o protagonista ingressa em uma guilda e assume uma variedade de missões, alimentando a esperança de desvendar os mistérios que envolvem sua própria identidade e as vagas lembranças da garotinha que aparenta ter desempenhado um papel crucial em seu passado. Assim, cabe ao jogador guiar esse indivíduo nesta jornada de descobertas.

A história de Astlibra Revision é verdadeiramente intrigante, possuindo elementos de viagem no tempo e muitas reviravoltas. Além do mistério central que envolve o herói, diversas tramas secundárias se desenrolam ao longo da jornada, cada uma delas apresentando personagens igualmente cativantes. Em razão disso, é lamentável que não haja opção de legendas em português, o que acaba restringindo um pouco o acesso a essa boa narrativa.

Batalhando, fabricando e aprimorando

Essencialmente, Astlibra Revision é um RPG de ação 2D com um combate ágil que se assemelha ao estilo hack 'n' slash. Durante os golpes normais, além do dano habitual, uma barra específica é gradualmente preenchida, permitindo o uso de habilidades mágicas. Essas skills não apenas são valiosas em termos de dano, mas também concedem breves períodos de invencibilidade que podem ser estrategicamente aproveitados para escapar de situações críticas (os veteranos de Grand Chase se sairiam bem neste jogo).

Como é típico do gênero, o título oferece uma vasta diversidade de armas, incluindo espadas, lanças e martelos, cada uma com estilos e alcances distintos. Além disso, há uma variedade de armaduras e acessórios disponíveis. Um aspecto cativante é que muitos desses equipamentos possuem maestrias próprias, tanto ativas quanto passivas, que podem ser dominadas pelo jogador à medida que são utilizadas repetidamente.

Sempre que o protagonista avança de nível, temos a oportunidade de distribuir pontos em estatísticas como ataque, defesa ou sorte. No entanto, essa não é a única maneira de aprimorar os atributos do herói, pois o game apresenta uma mecânica semelhante a uma árvore de talentos. Nesse sistema, há diversos "caminhos" com uma variedade de efeitos, incluindo aumento de parâmetros específicos e desbloqueio de novas habilidades. Para adquirir esses traços, utilizamos cristais de diferentes cores que são derrubados por monstros.

E não para por aí: ao serem derrotadas, as criaturas também deixam cair uma variedade de materiais que podem ser utilizados para criação de consumíveis e equipamentos. Sendo assim, o crafting é igualmente robusto, possibilitando a criação de itens que auxiliam nas lutas, como comidas e poções, e na exploração, como chaves e tochas. Essas matérias-primas também são essenciais para a aquisição de novos equipamentos, pois, além do dinheiro, precisamos ter determinados materiais no inventário para conseguir comprá-los.

Para finalizar, o jogo ainda apresenta uma mecânica curiosa representada por meio de uma balança, na qual posicionamos itens em seus lados opostos para receber diferentes tipos de efeitos. Nesse sentido, cada objeto possui benefícios e pesos distintos, cabendo ao jogador escolher estrategicamente o que utilizar na libra para alcançar o equilíbrio perfeito e obter os melhores buffs.

O combate em Astlibra Revision é verdadeiramente rico e cheio de alternativas, o qual sempre nos recompensa generosamente por derrotar os inimigos, seja com cristais de aprimoramento ou com materiais para fabricação. Além disso, a maioria dos chefes são criaturas gigantes e altamente desafiadoras, possuindo padrões de movimentos que podem ser memorizados.

Exploração com doses de repetição

A campanha de Astlibra é dividida em capítulos, cada um apresentando arcos quase independentes que envolvem personagens aos quais prestamos auxílio. Na maioria das vezes, esses trechos se desenrolam em áreas específicas, com caminhos bloqueados por quebra-cabeças e culminando em um confronto com um ou mais chefes.

É durante os períodos de exploração que Astlibra mostra sua principal fraqueza. Embora cada região seja visual e geograficamente interessante, apresentando estradas escondidas que oferecem recompensas valiosas, às vezes somos obrigados a retroceder em certos locais da dungeon. No entanto, esse backtracking não é tão orgânico como costuma ocorrer em bons metroidvanias ou survival horrors.

Ainda que em algumas situações o backtracking possua um sentido narrativo coerente, em outras,  a obrigatoriedade de retornar a algum lugar parece ser meio forçada apenas para nos manter na zona por mais tempo, aumentando a duração da campanha artificialmente. Além disso, há ocasiões em que o próximo objetivo não é muito bem delimitado dentro de uma masmorra, restando ao jogador a opção de vagar por toda a dungeon até encontrar o local exato.

The Cave of Phantom Mist: a riqueza dos combates sem as deficiências da exploração

Recentemente, Astlibra Revision recebeu um DLC intitulado Astlibra Gaiden: The Cave of Phantom Mist. Desta vez, entramos na pele da filha de um padeiro, que se aventura em uma misteriosa caverna onde os membros da guilda desapareceram misteriosamente. Embora essa nova história seja igualmente interessante, é na jogabilidade que este conteúdo adicional verdadeiramente brilha.

A base do sistema de combate do jogo principal é mantida nessa entrada, mas com a introdução de elementos de um novo gênero: o roguelike. Nesse sentido, a caverna mencionada é dividida em diversos andares randomizados, todos eles repletos de inimigos, tesouros e chefes.

Ao sairmos da dungeon, seja por vontade própria ou após a morte da personagem, o nível da heroína é reiniciado. No entanto, não partimos do zero, pois os aprimoramentos de estatísticas, habilidades e equipamentos são preservados. Isso significa que, após algumas tentativas, nossa protagonista ficará mais forte no nível 1 do que estaria em níveis mais avançados durante a primeira corrida.

Embora a masmorra seja simples em termos de design (basta encontrar uma alavanca para abrir a passagem para o andar mais baixo), o combate em Astlibra Gaiden permanece extremamente rico e dinâmico. Nesse sentido, ele oferece ainda mais opções de habilidades e customização, além de proporcionar um senso de progresso de poder mais tangível, uma vez que esse conteúdo se concentra exclusivamente nas lutas.

Em suma, The Cave of Phantom Mist proporciona um ciclo de jogabilidade extremamente viciante, no qual cada corrida nos recompensa com recursos para fortalecer nossa heroína, permitindo-nos avançar cada vez mais fundo na caverna. Pessoalmente, em termos de gameplay, considero este DLC ainda mais divertido do que o jogo principal. 

Um ótimo representante do gênero

Astlibra Revision e seu DLC, Astlibra Gaiden: The Cave of Phantom Mist, oferecem experiências cativantes e distintas para os apreciadores de RPGs de ação. Enquanto o jogo principal nos proporciona uma história intrigante e um sistema de combate rico, o DLC entrega uma abordagem ainda mais focada nas batalhas, introduzindo elementos de roguelike que garantem uma jogabilidade extremamente viciante. Embora apresente algumas ressalvas, trata-se de uma adição mais do que bem-vinda ao gênero.

Prós 

  • A história é intrigante e envolvente, não apenas pela excelente trama principal, mas pelos diversos arcos secundários centrados em personagens cativantes;
  • A diversidade de armas, equipamentos e habilidades torna o combate extremamente rico e dinâmico;
  • Batalhas contra chefes desafiadoras;
  • Os sistemas de crafting e aprimoramento recompensam constantemente o jogador por derrotar monstros;
  • A introdução das características de roguelike complementa perfeitamente o sistema de combate original, transformando o DLC em um produto extremamente divertido e viciante.

Contras

  • Por vezes, a necessidade de retroceder a áreas anteriores é pouco orgânica e gera confusão na identificação do próximo objetivo;
  • A simplicidade do design da masmorra no DLC pode desagradar alguns jogadores;
  • Ausência de legendas em português.
Astlibra Revision — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela WhisperGames

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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