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Análise: Helldivers 2 (PS5/PC) é uma experiência visceral, louca e extremamente divertida

Apesar dos problemas de conexão e desempenho, título entrega uma experiência cooperativa sólida.


Sempre é bom ver histórias bem-sucedidas de times pequenos que alcançaram as alturas, mas para Helldivers 2, da sueca Arrowhead Studios, isso pode significar estar perto demais do sol. O jogo original teve picos de 10 mil jogadores; agora, com a estreia da sequência no PCs e no PlayStation 5, o recorde é de quase meio milhão de jogadores, só no Steam, o que levou a uma série de problemas com servidores e  instabilidade. Um grande sucesso que veio com um grande custo.

Mas afinal, o que mudou para causar tanto impacto assim? Helldivers 2 aposta na troca de perspectiva como seu principal diferencial em comparação com o original de 2015, alternando a câmera isométrica por uma visão em terceira pessoa, mais popular no mercado atual.

A experiência ainda é sobre matar insetos pestilentos e robôs socialistas malvados, mas agora com uma imersão maior que amplifica toda a carnificina, principalmente com as novas tecnologias de luz, texturas e tudo mais, que agregam à experiência de estar num verdadeiro Vietnã espacial (alô, Malevolent Creek).

Entregando democracia gerenciada

Helldivers 2 segue a mesma lógica e loop de gameplay do original: você faz parte do grupo militar homônimo que espalha “liberdade” e “democracia” a insetos e robôs socialistas que querem acabar com o estilo de vida dos humanos. Você entra na mesa de guerra em sua nave, seleciona um setor para atacar ou defender e enfrenta uma das ameaças em missões de mapa semiaberto com diversos objetivos diferentes, com uma extração que te espera no fim.

Vale ressaltar que o uso das aspas em liberdade e democracia não é gratuito: fica óbvio que não é muito inteligente tentar espalhar conceitos tão mundanos em criaturas como insetos, ou até mesmo implicar o uso do marxismo por robôs. A sátira aqui é evidente, ainda mais quando se compara com sua principal inspiração: Tropas Estelares, filme de 1997 dirigido por Paul Verhoeven, que emula toda essa estética fascista ultra militar para criar uma “homenagem” ácida sobre a cultura triunfalista americana.

Outra obra que faz algo parecido é a adaptação em videogame do filme, Starship Troopers: Extermination (PC); entretanto, Helldivers parece trabalhar melhor com seu design para trazer o tom cômico que o filme tinha, mesmo não sendo uma obra do universo do longa. Aqui, os personagens bradam gritos de guerra como “Tome Liberdade” enquanto uma bomba de 500kg explode um inseto gigante, sujando todos com uma bile nojenta verde. Outro ótimo exemplo ocorre quando alguém morre com um membro amputado, e o soldado grita “Pela santa democracia, minha perna!”. 

Dentro do jogo, existem diversas telas com propagandas e vídeos hilários que extraem diretamente o tom satírico de Verhoeven. Não é nem difícil dizer que Helldivers é um trabalho melhor que a própria adaptação em games do filme: a forma como o militarismo cômico espacial é apresentado aqui, além de ser extremamente engraçada, funciona como as próprias mecânicas de gameplay. 




Conseguiu cumprir o objetivo, mas todos do seu esquadrão morreram? Você ainda vai receber recompensas enquanto lamenta seu sacrifício pela democracia. Explodiu sem querer todos os seus companheiros? É só chamar o reforço e soldados novinhos em folha vão entrar para ajudar. Aqui, os desenvolvedores conseguiram prestar uma bela homenagem enquanto construíram boas mecânicas de jogabilidade que expressam esse tom cômico que torna a experiência multijogador ainda mais divertida.

O diálogo é a melhor arma…ou talvez um míssil orbital?



Uma das características que definem as partidas de Helldivers 2 são as estratégias, auxílios que podem ser selecionados na tela pré-missão e solicitados para ajudar nos objetivos. Elas variam entre mísseis orbitais, ataques aéreos, armas de suporte, drones, torretas e etc. A mecânica retorna do jogo original ainda mais incrível e hilária do que nunca, principalmente pela habilidade de matar todos os seus amigos com elas.

Tanto as bombas quanto as torretas são armas letais para os inimigos e aliados, o que faz com que o jogador tenha que planejar estrategicamente quando e onde acioná-las, e claramente nem todos o farão, o que culmina em cenas hilárias de jogadores acionando um morteiro automático que acaba matando esquadrão inteiro, ou uma bomba de 500kg que fica presa em um inseto gigante que está correndo na sua direção. Como a morte não é punida com derrota total, falecer em Helldivers 2 faz parte da brincadeira e torna a ideia de “morrer pela pátria” ainda mais clara na jogabilidade.




Outro elemento que dá ainda mais nuance a essa mecânica é a forma como você deve chamar as estratégias, ou até mesmo ativar simples objetivos. É necessário apertar uma sequência de botões direcionais que imediatamente te lembra combos de títulos de luta como Tekken e Street Fighter. A adição desse detalhe torna a experiência de pedir o resgate aéreo ainda mais tensa, pois em boa parte do tempo você estará cercado por hordas de inimigos enquanto tenta apertar a sequência correta e fugir do perigo.

É possível jogar solo, sem companheiros, mas é com os amigos que o projeto brilha ao máximo, principalmente em dificuldades mais avançadas, já que Helldivers 2 tem um extenso sistema que vai de 1 (Fácil) até 9 (Helldiver). Em dificuldades maiores, o número de inimigos fica insano, aparecem monstros gigantescos e o que era um passeio no parque vira um verdadeiro banho de sangue. É aí que cada estratégia e armamento, que é extremamente vasto, entra em cena para brilhar com builds em conjunto com seus companheiros, como o uso de EMP para parar os robôs adversários com uma bomba orbital de precisão que vai limpar qualquer coisa em um raio determinado.




Apesar do sistema de missões se repetir com o tempo, existe uma extensa lista de objetivos diferenciados: transportar civis, matar um monstro gigante, dominar ou defender uma área, destruir ninhos, ativar foguetes, destruir antenas, entre outros. Somado a isso, há uma grande variação de planetas, que se altera conforme o progresso da comunidade.

Esse sistema também é um trunfo de Helldivers 2, onde cada missão concluída por qualquer jogador no mundo se soma a uma porcentagem do planeta, que é completamente libertado quando atinge 100%, o que libera a guerra em novos setores e planetas. Isso torna a guerra palpável, e o sentimento de progressão é recompensador ao vermos o esforço coletivo impactar de fato no rumo da história.

Infelizmente para os novatos, existe apenas um vídeo introdutório que te coloca a par da situação galáctica. Com a falta de uma campanha, existe um comprometimento maior para aqueles que precisam de uma narrativa forte para guiá-los até os campos de batalha. Visto o trabalho excepcional na jogabilidade em terceira pessoa, os monstros titânicos e a variedade de armas, a falta de uma campanha tradicional pesa no projeto.

Sofrendo com o sucesso



Para além do jogo em si, é necessário falar da polêmica em torno da própria usabilidade do projeto. No momento desta análise, o pico de jogadores simultâneos em Helldivers 2 foi de quase 500 mil jogadores, isso vindo de uma franquia que teve apenas 10 mil de pico no título original. Fica claro que nem em seus sonhos mais loucos os desenvolvedores imaginaram tamanho sucesso; entretanto, ele veio com um preço: servidores instáveis, bugs e uma horda de problemas técnicos.

Durante toda a primeira semana, eu mal consegui jogar por causa de crashes no driver da placa de vídeo. Especificamente nas placas da série 7000 da AMD, algo no código do jogo ou nos drivers estava fazendo com que ele travasse todo o PC com poucos minutos de partida. Com os dias passando, a comunidade se juntou e conseguiu encontrar algumas ações que ajudam a curar o sintoma, mas não a doença, e eu finalmente consegui jogar de forma estável, mas logo depois surgiria outro problema, que seria a dor de cabeça principal para a equipe da Arrowhead Studios.




Com o aumento quase exponencial de jogadores, os servidores começaram a entrar em colapso, expulsando jogadores de sessões, impedindo-os de se juntar aos amigos e ainda piorando com o completo fracasso da mecânica de achar partidas rápidas, que nunca funcionava. Isso rendeu uma onda de análises negativas na Steam, que destacavam o quanto o jogo era bom, mas sofria com problemas técnicos. A situação ficou tão séria que o diretor do projeto sugeriu que as pessoas não o comprassem e esperassem os servidores ficarem estáveis.

Diversos patches foram implementados para tentar mitigar os danos e, em boa parte, eles foram positivos. Um deles consertou alguns crashes aleatórios e outro melhorou o sistema de partida rápida, mas ao mesmo tempo, introduziram uma série de novas falhas, como uma hidra tecnológica. Atualmente os maiores problemas giram em torno de filas enormes para entrar nas partidas, que podem chegar a até assustadoras duas horas de espera, além de com crashes aleatórios quando se tenta entrar nas partidas rápidas.

A sonhada liberdade



Helldivers 2 é um dos melhores multijogadores dos últimos anos: é engraçado, divertido, brutal e desafiador na medida certa. O sistema de progresso com o impacto da comunidade é um grande trunfo e o vasto arsenal torna cada missão um momento apoteótico com explosões, óleo e sangue alienígena. Sua loja interna oferece itens cosméticos a preços baixos, além de um passe gratuito recheado de créditos, armas e armaduras.

Claramente, a Arrowhead não estava preparada para um lançamento tão grande, e só resta torcer para que as coisas fiquem estáveis num futuro próximo. Nada disso apaga as grandes qualidades do jogo, sua ótima direção de arte, combate refinado, tom satírico hilário, entre outros, mas mancha consideravelmente a experiência de quem nem sequer consegue dar o play.

Prós

  • Combate extremamente refinado com um vasto arsenal de armas que variam em estilo e tamanho;
  • Sistema de estratégias que dão um toque especial às missões, oferecendo apoio ofensivo ou defensivo, mudando o rumo de batalhas inteiras;
  • Estética e tom satírico que prestam uma bela homenagem ao clássico Tropas Estelares, de 1997;
  • Sistema de progressão da comunidade que impacta diretamente nos planetas e missões jogadas a cada missão completada pelos esquadrões ao redor do mundo;
  • Passe de batalha gratuito com dez páginas de itens que não demandam um comprometimento tão grande para desbloquear.

Contras

  • Crashes constantes, seja por erros de drivers ou simplesmente o jogo fechando sozinho no meio de missões;
  • Filas abissais para entrar nas partidas, já que os servidores estão quase colapsando com a quantidade de jogadores tentando logar ao mesmo tempo;
  • Falta de uma campanha introdutória para novos jogadores.
Helldivers 2 — PC/PS5 — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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