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Análise: Dicefolk (PC) subverte o combate por turnos para criar um roguelike divertido e desafiador

Controle suas ações e as do adversário em combates táticos com monstrinhos.


Dicefolk
é um roguelike com combate por turnos que traz uma mecânica muito peculiar. No controle de uma invocadora de quimeras, temos que montar nosso time de monstros, no melhor estilo Pokémon, e combater criaturas malignas para acabar com o mal que assola o mundo. O diferencial, no entanto, é que temos a capacidade de controlar não só as ações do nosso time, como também as do adversário, o que traz uma camada estratégica única ao combate.

Uma luta contra o feiticeiro impiedoso

Há cerca de 300 anos, o feiticeiro Salem apareceu e controlou as quimeras da Terra do Amanhecer com o objetivo de conquistá-las para si. Após o sucesso de sua missão e a quase extinção dos humanos, o vilão se acomodou no pico Eborian, onde dorme até os dias atuais, enquanto seu poder controlador ainda domina as quimeras deste mundo. Neste contexto, estamos no controle de Alea, uma das Dicefolks — classe de guerreiros que conseguem controlar as quimeras com os poderes de dados mágicos —, que decide por conta própria enfrentar Eborian para pôr fim ao seu reinado maligno.




A história não é um ponto muito explorado em Dicefolk, mas funciona bem como justificativa. A introdução e o encerramento são exibidos em cutscenes de excelente qualidade desenhadas à mão, com traços que lembram animações japonesas. Mais informações sobre a Terra do Amanhecer são mostradas apenas em textos de pergaminhos que coletamos ao longo da campanha, ficando muito aquém das primeiras impressões.

Para concluir seu objetivo, Alea precisa se aventurar por diferentes biomas e derrotar o chefe de cada um. Os mapas são gerados proceduralmente e apresentados em pergaminhos, que mostram pontos de interesse com os quais devemos interagir. Esses pontos podem ser áreas de combate, santuários para capturar quimeras, NPCs que vendem itens, áreas para recuperação de vida, entre outros.

À medida que exploramos um ponto, opções adjacentes são desbloqueadas. O objetivo é encontrar o chefe final; logo, todo o restante da exploração é opcional. No entanto, existe um sistema de risco e recompensa que é tentador: quanto mais exploramos, maior a chance de coletarmos itens ou quimeras raras, mas há o perigo de encontrarmos monstros poderosos que podem nos derrotar.



O estilo Pokémon, mas de uma forma singular

Em uma primeira olhada, é fácil comparar Dicefolk com Pokémon. Combate por turnos, monstros distribuídos em equipes, itens e habilidades são alguns elementos comuns entre os dois, mas aqui temos uma obra que possui suas próprias ideias — muito bem executadas por sinal —, a começar pelas quimeras, os monstros que encontramos ao longo da jornada, que se destacam pelos seus designs criativos e habilidades únicas.

Nossa equipe é formada por três quimeras. Em batalha, uma é definida como a líder, sendo posicionada à frente, e as demais podem tomar esse posto quando realizamos o movimento de rotação. Cada monstrinho possui uma habilidade única, ativada por um gatilho. O Beloide, por exemplo, ataca o líder adversário quando entra em campo; o Armantis ataca o líder quando o adversário fica sem ações; e o Mahammut ganha força quando atacado. 




Os efeitos são os mais variados possíveis, assim como os gatilhos. Com isso, saber combinar bem o seu trio é fundamental para ter sucesso nas lutas. Ainda nesse sentido, temos diferentes equipamentos que dão bônus às quimeras, como aumento de dano, recuperação de vida, capacidade de atacar múltiplas vezes ou até mesmo envenenar o adversário.

Além de habilidades, as quimeras também possuem atributos básicos como HP, força, inteligência e magia, que devem ser levados em conta na hora de planejar um time. O HP, obviamente, representa a vida; a força determina o quanto de dano vamos aplicar em um ataque; a inteligência está relacionada aos efeitos das habilidades, dando mais efetividade a elas; e a magia define a quantidade de vezes que podemos usar certas habilidades especiais de algumas quimeras.




Uma pequena camada de sorte também entra nesse contexto. Dicefolk ainda é um roguelike; logo, alguns elementos aleatórios estão presentes. As quimeras que podemos recrutar aparecem aleatoriamente em santuários espalhados pelos mapas, assim como os itens que podem ser comprados com viajantes e lojistas. Ao sermos derrotados, tudo o que coletamos é perdido e nosso desempenho é recompensado com experiência que desbloqueia novas quimeras para recrutamento, equipamentos e pergaminhos com a história do jogo.

Planejamento em dobro

O grande diferencial de Dicefolk é seu combate por turnos. Os dados possuem um papel fundamental, pois é com eles que comandamos as quimeras e, como comentei anteriormente, nós temos que controlar as ações de ambas as equipes. As batalhas ocorrem em formato 3x3, 3x2 ou 3x1 e, no geral, as ações são focadas nos líderes; ou seja, ao escolher uma ação, o líder irá executá-la. 

Do nosso lado, temos três dados de seis lados, enquanto as quimeras selvagens possuem pelo menos dois. Cada face possui uma ação específica, sendo as mais básicas o ataque, a defesa, a rotação e ocioso — usado para passar a vez. Novas opções vão sendo desbloqueadas à medida que progredimos, chegando a mais de 60 disponíveis.




Salvo algumas exceções, os adversários sempre vão ter uma opção de ataque e outra de rotação, e para avançar para o próximo turno, obrigatoriamente temos que usar todos os seus dados. A ordem das ações é livre, o que nos permite elaborar muitas estratégias diferentes: podemos tentar bloquear o ataque; rotacionar para que uma quimera com mais HP receba o golpe; ou então aproveitar de habilidades e equipamentos para garantir a vitória sem precisar usar os dados inimigos.

Pode parecer simples, mas é preciso combinar bem as quimeras com os itens e dados disponíveis. O combate é muito punitivo e qualquer movimento equivocado pode acabar com seu time. Isso passa por entender qual é a melhor hora de rotacionar o time e definir o novo líder ou quando é melhor atacar ou receber dano, por exemplo. Ainda assim, é muito prazeroso testar diferentes combinações e arriscar com estratégias mais ousadas. 

Há uma outra camada de complexidade que é importante citar. As mais de 100 quimeras estão dispostas em grupos de acordo com suas características, representadas por talismãs. A escolha no início da partida influencia em quais monstros podemos recrutar nos santuários e nas faces dos dados de nosso time. Os quatro talismãs modificam a dinâmica do combate de maneira significativa, dando uma variedade muito interessante ao combate e evitando que o jogo fique repetitivo.




Temos como opções os seguintes talismãs:
  • Talismã do Guerreiro: as quimeras e os dados são focados em força bruta, tendo mais faces de ataque e monstros com alto valor de força;
  • Talismã da Tempestade: há mais dados de rotação e as quimeras possuem habilidades que se aproveitam dessa ação;
  • Talismã da Cólera: as quimeras possuem habilidades que dão bônus aos atributos;
  • Talismã do Caos: os dados disponíveis podemos ser usados duas vezes cada, mas há uma face especial que faz o usuário infligir dano a si mesmo;
  • Talismã do Caos: permite controlar as quimeras mais leais a Salem, como os chefes que encontramos em cada mundo (desbloqueado após derrotar Salem pela primeira vez).
Por fim, após derrotar Salem, o Modo Provação é desbloqueado, trazendo regras mais complexas ao combate, deixando-o mais difícil. Por exemplo: no primeiro nível do modo, os inimigos possuem um dado a mais para jogar. É uma opção interessante para prolongar a vida útil do jogo e dar mais desafios aos jogadores mais exigentes.




Dicefolk não é difícil, principalmente por ter combinações muito poderosas que quase quebram o combate. Nesse sentido, acredito que um ou outro balanceamento seja necessário para que algumas quimeras não sejam tão subutilizadas.

Uma aventura empolgante

Dicefolk utiliza e reinventa conceitos tradicionais para criar uma aventura única. Há uma boa variedade de quimeras, habilidades e equipamentos que, quando combinados, nos permitem elaborar as mais variadas estratégias. Somado a isso, temos a mudança de perspectiva do combate por turnos, que torna a jogabilidade muito mais complexa ao exigir que os jogadores controlem ambas as equipes. Acredito que seja necessário um balanceamento para que certas combinações não sejam muito mais fortes que outras, mas o jogo está no caminho certo para agradar aos jogadores que procuram um combate por turnos diferente.



Prós

  • A mecânica de controlar as ações de ambas as equipes é divertida e exige o máximo de atenção dos jogadores;
  • Há uma boa variedade de quimeras com habilidades únicas, artefatos e itens, o que permite elaborar muitas estratégias diferentes;
  • Conta com artes belíssimas que lembram animações japonesas;
  • Os talismãs modificam a jogabilidade de uma forma interessante;
  • O Modo Provação é competente para estender a vida útil e dar mais desafio aos jogadores mais exigentes.

Contras

  • A história poderia ser melhor aproveitada durante a campanha;
  • Alguns itens e habilidades precisam ser melhor balanceados.
Dicefolk — PC — Nota: 8.5
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Good Shepherd Entertainment


É engenheiro geólogo, graduando em Engenharia Ambiental, entusiasta de novas tecnologias e apenas mais um mineiro que não vive sem café e pão de queijo. Gosta de aproveitar o tempo apreciando RPGs, relaxando em simuladores de fazenda e curtindo uma boa música em jogos de ritmo.
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