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Análise: Piczle Cross: Story of Seasons (PC/Switch) é um simpático passatempo para fãs da IP e de quebra-cabeças

Título temático da clássica série de fazendinha da XSEED é competente, mas cativa uma intersecção muito específica de fãs dos dois gêneros.



Um nonograma é um tipo de passatempo lógico, tal como palavras cruzadas ou sudoku, que, por meio de dedução lógica e dicas numéricas, pode ser resolvido a fim de revelar uma imagem oculta em uma grade retangular. Tal ilustração é revelada através de uma lógica binária entre células pintadas e não pintadas que são determinadas pelos números nas laterais da planilha, por assim dizer. A principal sacada está em conciliar as informações dadas pelos dois eixos (vertical e horizontal) para formar o resultado, sem que haja conflito entre ambos, lembrando um pouco o que acontece no sudoku.


Dito isso, a história dos nonogramas nos videogames é manjada, com versões remontando desde, pelo menos, os anos 90. Não demorou muito, inclusive, para que novos títulos temáticos começassem a ser produzidos como um intuito de fisgar um filão de jogadores que já são fãs da marca licenciada em questão. Piczle Cross: Story of Seasons é um deles. Assim que a aplicação é aberta, é exibida uma rápida e simpática cutscene com os personagens clássicos da marca assistindo a um programa de TV que explica exatamente o que são os nonogramas.




Aqui, praticamente todos os puzzles principais já ficam disponíveis ao jogador logo de cara, sendo sugerido que eles sejam completados em ordem cronológica por conta da dificuldade ascendente de acordo com o número de células, colunas e linhas que um nonograma pode oferecer.

Ao todo, são 270 quebra-cabeças a serem solucionados. Os mais simples começam com dimensões de cinco linhas por cinco colunas e vão aumentando durante o tempo. Ver os grandes puzzles do final, com mais de 20 linhas ou colunas e valores muito complexos nos eixos (além dos collage puzzles, que são vários painéis menores que juntos formam uma grande figura), pode parecer intimidador para um novato, mas a graça é que a prática vai fazendo com que o olhar fique mais acostumado para certas lógicas que os nonogramas exigem.




Por exemplo, um jogador mais habituado nesse tipo de puzzle vai conseguir visualizar padrões de simetria prováveis, bem como identificar as melhores maneiras de começar um novo quebra-cabeça. Aos poucos, embora eles passem a exigir cada vez mais tempo para serem completados, eles também passam a se completar sozinhos.

Apesar de ser bem fácil pegar o jeito, nota-se que o tutorial não é dos melhores. Eu já estou habituado com o joguinho em si e como ele funciona, mas novatos podem se enrolar para se encontrar aqui, mesmo que se trate de uma dinâmica bem fácil de se assimilar. No caso, as instruções no menu how to play são apenas um vídeo que explica apenas a lógica básica da coisa. Em outros títulos, normalmente há uma progressão com tutorial passo a passo em que o próprio jogador acaba aprendendo em uma didática no estilo “veja e faça você’.




Há também uma série de mecânicas que servem para facilitar a vida do jogador, como é o caso das dicas em que os números vão ficando coloridos e vão se apagando de acordo com as células pintadas, bem como a possibilidade de checar os erros enquanto o quebra-cabeça ainda está sendo feito ou começar com um conjunto de linhas e colunas aleatórias já preenchidas. Em contrapartida, achei os controles um pouco lentos e senti falta de um ou outro recurso já presente em outros games do estilo.

Aqui, o pressuposto fator replay vem dos placares de tempo para a finalização de cada nonograma, que indica também se foi utilizado algum recurso de dica ou não — algo que não é problema, já que Piczle Cross não traz nenhum tipo de punição para isso, servindo apenas como uma alternativa para um jogador prosseguir no próprio ritmo e forma —, mas a quantidade de níveis disponíveis no game já é robusta por si só. E a pior parte é que isso vicia. Em uma das sessões, fechei três telas de puzzles e, quando me dei conta, tinha jogado por seis horas ininterruptas.






Olhando por fora e como uma sugestão completamente despretensiosa, talvez um sistema de missão ou coisa parecida — sem obviamente entrar naquelas palhaçadas de passe de temporada ou coisa do gênero — poderia trazer um estímulo a mais no jogo, mas não é nada realmente que faça falta também.

Falando um pouco sobre a temática do Story of Seasons, o título teoricamente tem como um dos diferenciais o desenvolvimento da fazendinha ao fundo na mesma proporção que os nonogramas vão sendo completados. Entretanto, essa evolução acaba sendo pouco perceptível na prática, sendo que a mudança das estações é o elemento mais evidente desse progresso do tempo.




Visualmente, o título conta com uma apresentação bem charmosa, mas nada realmente muito distante da identidade visual que a série assumiu nos últimos anos. Já era algo basicamente pronto, então era só aplicar.

O maior trabalho mesmo seria na elaboração dos próprios nonogramas, e é aí que mora um probleminha. Como quebra-cabeças, eles funcionam. Quando são completados, entretanto, nota-se que nem todos assumem uma forma identificável, seja na versão em preto e branco, seja depois que a cor aparece para tornar tudo mais evidente.




Isso piora um pouco para os fãs, que conhecem e teoricamente se importam com os personagens que lá foram estranhamente representados. Nesse caso, é muito bacana ir completando os nonogramas e pontualmente se deparar com algum personagem que nos faz relembrar de algum título da franquia que já jogamos e nos divertimos por horas a fio, mas que acabou ficando para trás quando já avançamos a um ponto em que as tarefas de fazenda ficaram escassas e o ciclo de jogabilidade cai no ostracismo, como todo Story of Seasons.

Como cereja do bolo, há um almanaque da franquia que traz um breve resumo sobre cada um dos personagens revelados pelos puzzles completados. Também é possível escutar individualmente as trilhas dos jogos que tocam de plano de fundo durante as fases. Enquanto a navegação desse menu sonoro é um pouco complicada, é importante contar com algo desse tipo porque pouco se fala do quão subestimadas são as músicas da franquia.




É importante ressaltar que Piczle Cross: Story of Seasons só faz alusão aos jogos da atual fase da franquia, sendo que personagens e elementos da série quando ela era conhecida no Ocidente como Harvest Moon (que agora é uma marca própria da Natsume) não integram o pacote. É importante ressaltar isso porque, como um produto, ele pode atrair um público que gosta tanto da série quanto desse tipo de puzzle. É o tipo de produto que só vai ser adquirido por quem já joga esse tipo de passatempo/quebra-cabeça e que recebe exatamente aquilo que está procurando.

No fim das contas, Piczle Cross: Story of Seasons é um produto difícil de analisar. Na prática, seria a mesma coisa que pegar um almanaque “Coquetel” de palavras cruzadas ou sudoku e ficar divagando sobre como a edição 95 foi mais fácil ou difícil de se completar do que a 96. O ideal de uma análise de um título como esse — que é competente no que oferece — seria produzir uma análise mais informativa, sem necessariamente dar uma nota.

Prós

  • Boa quantidade de quebra-cabeças;
  • Identidade visual condizente com a fase atual da marca.
  • Utilização das músicas da série valoriza um aspecto muito positivo dela e que é pouco falado.

Contras

  • A forma de alguns puzzles, especialmente de personagem, é de difícil discernimento quando decifrada;
  • Ausência de alguns recursos recorrentes em outros jogos do estilo;
  • Controles poderiam ser mais ágeis;
  • É meio nichado, né?
Piczle Cross: Story of Seasons — PC/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PC 
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Rainy Frog


É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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