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Análise: Omurice Next Time (PC): a vida cotidiana de um casal gay

Esta visual novel em estilo gibi interativo explora o lado mundano e pacato da vida.

Desenvolvida pelo criador independente Griffin Cyan, Omurice Next Time é uma visual novel com estética de gibi/graphic novel. Como uma obra inspirada na relação pessoal do autor com seu namorado, o jogo busca apresentar a natureza fofa e simples do cotidiano de um casal gay.

A rotina de um casal

Em Omurice Next Time, acompanhamos a história de dois rapazes, Finn Fujimoto e Gray Morgan. O casal mora em um apartamento pequeno em uma cidadezinha pacata, dividindo suas alegrias e levando uma vida bem simples juntos. Embora não tenham muito dinheiro, eles conseguem se manter e aproveitar a vida.

Finn é um vendedor em uma loja de doces cuja especialidade é um doce japonês chamado dorayaki; já Gray trabalha em uma fornecedora de pescados, distribuindo-os para as lojas locais e realizando um trabalho manual árduo diariamente.

Quando conseguem ter um tempinho juntos, os dois gostam especialmente de comer coisas gostosas, que incluem presentes de seus parentes, os dorayaki que sobram na loja e várias outras guloseimas. Eles também têm outros momentos íntimos como qualquer casal, e o jogo faz questão de mostrá-los com naturalidade e elegância.

A história inteira é o que podemos chamar de um slice-of-life. Sem grandes conflitos, a obra foca apenas em mostrar como é a rotina dos protagonistas. Vemos como eles se conheceram, um pouco do que fazem, suas amizades e até um gatinho que aparece de vez em quando e que eles acabam tratando como se fosse de casa.

Trata-se de uma obra singela, focada em um casal fofo sem grandes ambições. A única coisa que eles querem na vida é aproveitar a companhia um do outro, e essa simplicidade perpassa a sua rotina. Com isso, temos uma história confortável para ler e relaxar.

Vale destacar, porém, que o texto em inglês possui vários errinhos de gramática. Geralmente os verbos são conjugados errado e há algumas escolhas de tradução que acabam soando pouco naturais. Embora os erros sejam bem evidentes, não é nada que atrapalhe a leitura de uma forma geral.

Formato de graphic novel

Omurice Next Time tem o formato de uma graphic novel interativa. A ideia é que devemos passar as páginas para seguir para o próximo ponto da história. Cada “folha” exibe algumas ilustrações como um gibi ou quadrinho com formato irregular, mas elas possuem pequenas animações.

Em determinados pontos da história, é possível clicar em objetos do cenário ou pequenos balões para que os personagens conversem. Essas interações são opcionais, mas principalmente as que envolvem diálogos são bem importantes para a experiência.

Curiosamente, o jogo também aproveita esse elemento interativo para fazer pequenos minigames. Por exemplo, no primeiro capítulo, podemos fazer dorayaki na chapa. Embora seja apenas uma sequência de cliques, essa tarefa é relativamente complexa, pois envolve colocar massa na chapa, esperar aquecer, virar a “panqueca”, adicionar recheio, juntar um “topo” e um “fundo” e depois colocar em uma bolsa.

De forma geral, os minigames são uma boa forma de quebrar a monotonia se o jogador quiser alguma atividade adicional. Porém, o título possui conquistas no Steam que demandam uma certa quantidade de ações nessas tarefas e, honestamente falando, o número é um tanto alto, o que pode fazer com que eles fiquem enfadonhos.

Felizmente, esse é apenas um aspecto opcional, então o incômodo é menor do que se fosse necessário cumprir essas atividades para avançar. O jogador pode, a qualquer momento, avançar para a próxima página ou voltar para a anterior como a passagem de uma folha de livro. Outro elemento que facilita a navegação é o menu de capítulos, que faz com que seja possível avançar rapidamente para um ponto da história já visitado.

Um mundo vivo

Como uma obra slice-of-life, Omurice Next Time aposta em um estilo artístico ultra-suave para as ilustrações. A coloração em especial chama atenção para isso com tons básicos e uma tendência ao branco que ajuda a deixar as expressões de personagens e os ambientes mais leves.

De forma geral, o resultado é bastante positivo, pois há uma boa sinergia entre as artes leves e a história confortável. Os pequenos quadrinhos ganham muita vida com as pequenas animações dos personagens. Mesmo coisas simples, como movimentação para cima e para baixo para “respirar” e mudanças de expressão já são o suficiente para isso.

Porém, é importante destacar que as animações e elementos de avanço do quadrinho levantam um outro problema. Apesar da comodidade de poder avançar a qualquer momento ser um ponto positivo, o jogo não indica muito bem o término das animações e, por conta disso, podemos acabar pulando um trecho sem querer. 

Um símbolo de que o jogador já pode prosseguir porque não há mais elementos interativos não-vistos naquela cena evitaria esse problema. Apesar disso, gostaria de ressaltar que esse ponto e as outras reclamações que levantei são incômodos pequenos para a obra como um todo.

O amor na sutileza do dia-a-dia

Omurice Next Time é uma obra simples, mas bem-feita. Ao buscar trabalhar o microcosmo de um casal sem grandes ambições, Griffin Cyan traz um slice-of-life profundamente confortável e divertido de conhecer. Para quem tiver interesse em uma dose de fofura e aconchego, esta é uma fácil recomendação.

Prós

  • Uma história fofa e confortável sobre um casal simples e carismático;
  • O estilo artístico ultra-suave ajuda a dar um tom de leveza;
  • Os elementos interativos como minigames e a caça aos desenhos;
  • A possibilidade de passar para a próxima página, voltar para a anterior ou acessar um capítulo já lido a qualquer momento dá uma boa liberdade de navegação pela história;
  • As pequenas animações de cada página dão vida ao mundo dos quadrinhos.

Contras

  • A ausência de um indicador de término da história de cada página pode levar o jogador a perder partes;
  • Minigames desnecessariamente longos acabam ficando enfadonhos;
  • O texto em inglês apresenta ocasionais erros gramaticais grosseiros.
Omurice Next Time — PC — Nota: 7.0

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida por Griffin Cyan


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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