Blast from the Past

Golden Axe (Arcade/Mega Drive) 35 anos: o clássico beat 'em up medieval da SEGA

Um jogo de briga de rua que não tem rua, mas tem magia, dragões e muita personalidade.


Os jogos de briga de rua atingiram seu ápice no final da década de 1980, em grande parte devido ao sucesso do clássico Double Dragon (Arcade), lançado pela Technōs em 1987. A SEGA, rainha dos arcades, também buscava um beat 'em up moderno, mais avançado que seu já ultrapassado Altered Beast. Na mesma época, a temática de fantasia medieval fazia sucesso nos cinemas e mesas de jogos, respectivamente com o filme "Conan, o Bárbaro" e o RPG "Dungeons & Dragons".

Encarregado do desenvolvimento do game para a placa System 16, o designer Makoto Uchida queria criar algo diferente, um beat 'em up que fugisse do manjado tema “gangues de rua” adotado por todos os jogos do gênero até então. O criativo desenvolvedor, fã assumido de filmes de Conan e dos livros “O Senhor dos Anéis”, teve a brilhante ideia de unir a temática medieval aos jogos de briga de rua. Foi assim que nasceu o maravilhoso Golden Axe, lançado nos arcades japoneses em janeiro de 1989.

Um rei e uma princesa sequestrados

Golden Axe conta a história de um reino dominado por um titã maligno chamado Death Adder, que conseguiu usurpar o Machado Dourado, um item forjado pelos deuses que concede poderes imensos a quem o possuir, podendo transcender até os limites da morte.


Em sua jornada de dominação, Death Adder sequestra o rei e a princesa de Yuria e leva-os para seu castelo. Os soldados lutam bravamente, mas sucumbem perante as tropas de Death Adder e o poder do Machado Dourado. Alex, um dos soldados, consegue escapar e, com suas últimas forças, pede a seus amigos Ax Battler, Tyris Flare e Gilius Thunderhead que salvem o rei e a princesa das garras do titã.

Biquínis, sungas e Catuaba

A estilosa tela de seleção de personagens, com uma caveira gigante oferecendo as três opções de personagem, indica que a aventura que se inicia é algo fora do comum.


Ax Battler, o bárbaro, equilibra poder de ataque e habilidade mágica. Claramente inspirado em Conan, ele deseja vingar a morte de sua mãe, morta pelo vilão Death Adder. Ele domina magias de terra, que podem atingir até o nível quatro.

Tyris Flare, a amazona inspirada na heroína Red Sonja, possui a menor força de ataque, mas compensa com suas devastadoras magias de fogo, que podem atingir até o nível seis. O arcade não revela muito de sua história, mas o port de PC-Engine CD conta que Tyris é, na verdade, uma princesa, cujos pais foram mortos durante um ataque das tropas de Death Adder ao seu reino.

Gilius Thunderhead é inspirado nos anões do universo de “O Senhor dos Anéis” e deseja vingar a morte de seu irmão. É o mais experiente e sábio da equipe, além de ser o mais forte e possuir um alcance maior que seus companheiros. Entretanto, suas magias de trovão são bastante limitadas, atingindo no máximo o nível três.


Os personagens — tanto os heróis quanto os vilões — são estereótipos de quadrinhos de aventura medieval que faziam sucesso nas décadas de 1970 e 1980. Guerreiras com biquínis, heróis de sunga e inimigos com cuecão de ferro e elmos, todos bronzeados e musculosos, com um design caricato que faz com que muitos jogadores apontem similaridades entre as capas dos jogos Golden Axe e rótulos de Catuaba. Devo admitir que são realmente parecidos.

Um beat 'em up com magia

Golden Axe diferencia-se de todos os pares de sua época, não só pela sua ambientação, mas também por suas mecânicas únicas. Além de lutar com espadas ou machados, os personagens podem usar magia por meio de poções coletadas de pequenos ladrões durante as fases e na transição de cenários. Quanto maior a quantidade de poções acumuladas, mais potente a magia, que afeta todos os inimigos em tela.

As magias são um espetáculo à parte e mostram o capricho no desenvolvimento do jogo. Cada personagem domina um elemento diferente, e cada magia possui uma animação única, dependendo do nível de potência executado. O dragão invocado por Tyris Flare é o efeito mais devastador do jogo, e sua icônica animação é uma das imagens mais reconhecidas da história dos games.


Outro diferencial de Golden Axe é a possibilidade de usar montarias extremamente poderosas, que podem virar rapidamente o jogo. As montarias também podem ser usadas pelos inimigos, e para obtê-las é necessário roubá-las dos NPCs. Existem três tipos de montaria: um dragão vermelho que dispara bolas de fogo, um dragão azul que sopra fogo em uma área próxima ao jogador e um curioso monstro mutante chamado Chicken Leg, um misto de lagarto e galinha que ataca com a cauda. Esse monstro também aparece em Altered Beast, que também foi desenvolvido por Makoto Uchida.

And my axe!

Golden Axe tem jogabilidade simples, mas extremamente ágil e divertida. Mesmo a sequência de combos simples — o golpe mais básico — mostra que o jogo é diferenciado pois a animação dos golpes intercala automaticamente chutes, estocadas, golpes com o cabo da espada e pode finalizar o combo com um arremesso, ao contrário dos outros games da época, que só exibiam o mesmo golpe repetidamente.


Outra novidade é o ataque com corrida, executado com dois toques laterais e o botão de ataque. Mais uma vez, cada personagem possui uma animação personalizada: Tyris ataca com uma voadora, Ax Battler dá uma ombrada e Gilius dá uma chifrada com seu capacete. Há também um ataque com corrida e pulo, uma sequência que causa um dano devastador, mas requer bastante habilidade do jogador para ser executada com precisão.

Completando o repertório de golpes, é possível realizar ataques para trás pressionando simultaneamente o botão de pulo e ataque, uma tática muito útil quando cercado pelos oponentes. Também é possível executar golpes aéreos ao pular e pressionar repetidamente o botão de ataque, uma estratégia eficaz, especialmente para desarmar os adversários de suas montarias.

Música épica e efeitos sonoros arrepiantes, literalmente!

Além disso, destaca-se a épica trilha sonora composta por Tohru Nakabayashi, um músico talentoso que compôs quase todas as músicas de Golden Axe e mais tarde foi responsável pelas excelentes trilhas dos jogos de corrida Virtua Racing e SEGA Super GT. A única exceção é a icônica música da primeira fase, composta por You Takada (creditado como Dolphin).
As músicas de Golden Axe imergem o jogador em um clima de fantasia medieval, combinando perfeitamente com os cenários para criar uma atmosfera de aventura e uma jornada épica contra um exército sobrenatural controlado por um gigante maligno, como se estivéssemos jogando um filme de Conan.

Uma curiosidade notável sobre Golden Axe diz respeito às vozes digitalizadas dos personagens. Rumores famosos nos fliperamas nos anos 1990 afirmavam que os gritos de dor eram gravações reais de prisioneiros condenados à morte. Mais tarde, provou-se que as vozes foram extraídas de filmes famosos da década de 1980, como “Rambo - Programado para Matar” e “Conan, o Bárbaro”.

Final do arcade e final estendido no Mega Drive

Golden Axe tem um significado especial para mim, pois foi o primeiro jogo de arcade que consegui finalizar com uma ficha só. Eu não costumava usar as fichas para continuar a partir de um Game Over porque, como eu tinha pouquíssimo dinheiro, quando eu morria era muito melhor iniciar uma nova partida, pois isso fazia com que a ficha rendesse mais tempo de jogo.

Então a primeira vez que vi um final de Golden Axe foi quando terminei o jogo em uma única jogada, algo que toma cerca de 25 minutos se você já dominar os controles. Nos arcades a aventura termina logo após derrotarmos Death Adder e resgatarmos o rei e a princesa. O jogador é premiado com uma animação metalinguística extremamente divertida, com os vilões saindo da máquina de arcade e sendo perseguidos pelos heróis.


Golden Axe recebeu diversos ports para praticamente todos os sistemas da época: Master System, Game Gear, Sega CD, Amiga, Atari ST, Commodore 64, PC, PC-Engine CD, ZX Spectrum, WonderSwan e Amstrad CPC. Porém, dadas as limitações dos hardwares, a grande maioria desses ports tinha qualidade sofrível.

O melhor e mais renomado port é, sem dúvida, o de Mega Drive. Mesmo com um hardware menos potente que a placa System 16, o console conseguiu reproduzir razoavelmente a sensação do fliperama. A versão de Mega Drive inclui uma fase extra, desencadeada após a morte de Death Adder, revelando o verdadeiro vilão por trás dos acontecimentos: Death Bringer. A batalha contra ele é consideravelmente mais desafiadora, devido a duas caveiras praticamente imortais que o acompanham.

Golden Axe foi o primeiro cartucho que fiz questão de comprar para meu Mega Drive e, mesmo sendo um jogo curto com cerca de meia hora de duração, é o meu favorito de toda a excelente biblioteca desse console. Frequentemente eu revisito meu Mega Drive e normalmente é Golden Axe o cartucho que já está espetado no aparelho.

Legado do machado

Golden Axe foi um sucesso nos arcades e consoles domésticos, gerando diversos jogos na sequência: Golden Axe II (1991), Golden Axe Warrior (1991), Ax Battler: A Legend of Golden Axe (1991), Golden Axe: The Revenge of Death Adder (1992), Golden Axe III (1993), Golden Axe: The Duel (1994) e Golden Axe: Beast Rider (2008).


Cada uma dessas sequências teve níveis de sucesso variados e qualidade muitas vezes questionável, e nenhuma delas replicou o sucesso do título original. Recentemente, no final de 2023, a SEGA fez um anúncio surpresa durante o evento The Game Awards revelando novos jogos para cinco de suas franquias clássicas, dentre elas Golden Axe.

Um jogo bárbaro 

Golden Axe é uma aventura inesquecível e um ícone dos games retrô. Sem dúvida cumpriu seu papel, que era trazer um beat 'em up divertido e diferente para os arcades e consoles. Essa aventura medieval única mostra como a SEGA sempre foi uma empresa ousada e criativa, que sempre buscou fazer algo que fugisse do comum, mesmo que fosse colocar heróis de sunga e biquíni montando dragões para combater um exército do mal. 

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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