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Análise: My Lovey-Dovey Demon (PC/Mobile): uma história de amor fofa, porém extremamente limitada

A trama tem suas qualidades, mas não chega perto de outras obras de ebi-hime no campo do desenvolvimento.


My Lovey-Dovey Demo
n é a mais recente visual novel da desenvolvedora independente ebi-hime. Sempre à procura de expandir seu portfólio, desta vez a autora se baseou em obras de comédia romântica (romcom) do mercado japonês para criar a atmosfera entre Taiki, o protagonista, e a demônia Elisabeth, porém o enredo deixa a desejar em alguns aspectos primordiais no âmbito narrativo.

Postado por Taiki há uma hora: “Invoquei uma demônia, e agora?”

A história de Lovey-Dovey Demon gira em torno de Taiki Hasegawa, um adolescente de 19 anos que está passando as férias de verão na casa de seus avós, no interior do Japão. Enquanto brincava de pique-esconde com seu irmão e irmã mais novos, ele descobre que a jovem Nene está demorando muito para sair de seu esconderijo.

Já perto da hora do almoço e sem indícios da excêntrica garotinha, o protagonista e seu irmão Reza decidem ir atrás dela. A confusão toda começa quando ele chega ao escritório do avô, onde sua irmã está com um livro estranho em mãos e seguindo um ritual ainda mais estranho.


Quando Taiki tira o tomo das mãos dela e começa a inspecionar o conteúdo das páginas, o escritório é envolto por uma misteriosa fumaça. De repente, uma figura voluptuosa, dotada de asas, chifres e uma cauda, surge, alegando ser uma demônia que veio do Mundo dos Demônios e que Taiki é seu “mestre”.

Sem entender mais nada, agora o rapaz está responsável por entreter a nova hóspede, Elisabeth, ansiosa para conhecer e entender melhor o Mundo dos Humanos durante uma semana.

Uma comédia romântica que poderia ser melhor desenvolvida

Embora ebi-hime tenha buscado inspirações em obras de comédia romântica para construir uma visual novel despretensiosa e mais parecida com animes, segundo a própria autora, certos elementos narrativos em My Lovey-Dovey Demon levantam algumas questões, em especial de jogadores que preferem uma trama mais substancial, por assim dizer.

O primeiro ponto que me deixou um pouco incomodada foi o fato de toda a família de Taiki se sentir muito confortável com a presença da demônia Elisabeth. Existem vários argumentos que justificam sua presença no Mundo dos Humanos, a começar pelo fato de o avô do protagonista ser um ávido estudante do oculto e já ter conhecido a mãe da diabinha em questão 50 anos atrás, mas todos eles são extremamente cômodos e artificiais. Ou, ainda, já no fim da visual novel, a avó de Taiki oferecendo à mãe da diabinha um pouco de comida em um pote de plástico — oi?


A trama também aposta em vários clichês e lugares-comuns presentes na mídia, algo que ebi-hime ressaltou nas notas de desenvolvimento, porém toda essa estereotipação acabou consumindo um espaço que podia ter sido aproveitado para o desenvolvimento da história como um todo, incluindo o próprio romance entre Taiki e Elisabeth — algo que nem o patch 18+ consegue aprofundar, inclusive. Como resultado, temos uma visual novel com um desenrolar de acontecimentos extremamente enfadonho e arrastado, embora a premissa em si seja interessante.

Passados os comodismos narrativos para tratar a presença de Elisabeth entre os meros mortais como uma ocorrência extremamente natural, eu só tenho elogios a fazer aos aspectos audiovisuais do jogo. As artes, especialmente as CGs, foram bem-trabalhadas e captaram bem a essência de “vamos transformar esta visual novel em um anime!” pretendida por ebi-hime.


Inclusive, gostei bastante do modo como os capítulos foram apresentados, remetendo às obras nas quais My Lovey-Dovey Demon se inspira. A trilha sonora é outro aspecto que arrancou elogios de mim, com músicas extremamente gostosas de ouvir, que contribuem para uma atmosfera aconchegante.

A interface também traz um belo acabamento e, pela primeira vez em uma visual novel de ebi-hime, temos a opção de escolher entre três fontes diferentes para a leitura do texto. Há ainda ferramentas básicas de qualidade de vida, como velocidade de texto e tempo de espera durante o modo automático, porém outras foram deixadas de lado, como um log para mensagens já lidas.

Por fim, quero comentar que senti uma leve discrepância entre as artes dos personagens principais e dos secundários. Com CGs tão detalhadas, com direito a brilho nos olhos e efeito de lágrimas escorrendo pelo rosto, os avós de Taiki parecem ter sido desenhados às pressas, sem qualquer cuidado no acabamento. Além de tudo, como de praxe, a visual novel não conta com o português como idioma disponível — considero isso algo problemático, dado o modo como Nene se comporta e fala, que é traduzido no texto com um inglês extremamente arcaico.

Não Tem Como Minha Diabinha Ser Tão Fofa!?

My Lovey-Dovey Demon pode não ser, na minha opinião, uma das melhores obras de ebi-hime, mas tem seus pontos fortes e cumpre com seu propósito de trazer uma trama despretensiosa e fofinha dentro do gênero da comédia romântica. No entanto, a falta de um desenvolvimento mais complexo em alguns momentos da narrativa pode deixar a leitura extremamente cansativa e monótona, fazendo com que a visual novel acabe se tornando um produto nichado e de recomendação limitada.

Prós

  • Apesar de limitada, a trama consegue cativar com sua proposta despretensiosa;
  • Músicas relaxantes e gostosas de ouvir;
  • Ótimo design de personagens, que capta a essência dos mangás e animes de comédia romântica nos quais a visual novel se baseia;
  • Pela primeira vez, é possível escolher entre três tipos de fontes para os textos;
  • Traz opções de velocidade de texto e de leitura automática;
  • As CGs estão mais detalhadas e trazem alguns efeitos especiais, como brilho nos olhos e lágrimas escorrendo.

Contras

  • Discrepância entre a arte dos personagens principais e a dos secundários;
  • Alguns temas poderiam ser melhor desenvolvidos, a fim de a narrativa não se sustentar apenas na comédia pretendida;
  • Em muitos momentos da história, as situações extremamente banais deixam a leitura cansativa e monótona, especialmente com detalhes que poderiam ter sido deixados de lado;
  • Sem log para rever o texto já lido;
  • Sem opção de português como idioma;
  • Nem mesmo o patch 18+ consegue adicionar mais profundidade à trama, especialmente em relação ao romance entre Taiki e Elisabeth.
My Lovey-Dovey Demon — PC/Android — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Capa: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida por ebi-hime

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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