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Análise: Lil’ Guardsman (Multi) — Tudo o que o reino precisa é de uma garota esperta

Ajude uma jovem a assumir o posto do seu pai como guarda do reino e decida os destinos dos viajantes que visitam seu reino.

Uma das profissões mais importantes da história se refere aos guardas dos portões de um reino, cidade ou outras localidades. São eles que decidem quem entra, quem sai e até quem vai direto para a cadeia. Mas e se essa tarefa caísse no colo de uma criança? Lil’ Guardsman coloca uma jovem para decidir quem pode adentrar sua cidade, com direito a um humor ácido e clima de desenho animado.

Alto! Quem vem lá?

Lil é uma garota de 12 anos que vive com o pai em uma taverna. A profissão dele é a de guarda do portão sul do reino de Sprawl. O problema é que graças ao seu vício em apostas em Goblinball, ele terá que faltar em um dia de trabalho. A solução? Incubir sua filha de fazer o seu serviço sem que ninguém descubra.

Antes que a menina proteste, é obrigada a ouvir a linda história de como essa é uma honra passada de geração em geração, já que seu avô havia feito o mesmo com o seu pai na mesma idade. Ao se dar conta, Lil já está no “seu” posto, e assim começa o jogo.

Em um esquema bem próximo do famoso Papers, Please, cabe à nova guarda decidir quem entra e quem sai de Sprawl. Sempre que um novo dia começa, recebemos um comunicado real, que informa em quais atitudes estranhas ou habitantes peculiares devemos prestar mais atenção. Podem ser goblins, ciclopes ou até mesmo outros humanos que estão disfarçados ou tentam passar com itens escondidos.

Assim que um visitante chega, podemos realizar três ações antes de decidir o seu futuro: conversar, para saber mais sobre suas intenções de visita e assim responder ao diálogo de maneira positiva, negativa ou provocativa; ligar para a chefe de segurança, o bobo da corte ou a conselheira de magia do reino, para saber se estavam esperando por aquela pessoa; ou utilizar um item de ajuda. Eles são: o anel decodificador, o raio-x, o detector de metais, o spray da verdade e o chicote.

Listando por escrito parece muita coisa, mas o jogo torna o ritmo das conversas bastante intuitivo, a ponto de ficar óbvio quais são os viajantes mais suspeitos e em quais deles devemos usar algum item ou só ficar na conversa. Inclusive, ocorrem tentativas de suborno para que você deixe alguém suspeito passar ou impeça um vassalo de um reino vizinho de entrar.

Nesse vai e vem de pessoas, o destaque maior fica para o bom-humor de cada situação, que não só serve para entreter, mas também funciona como recurso para reconhecer mentirosos ou criar situações caóticas. Um dos exemplos mais absurdos é o de uma condessa que tem que enterrar seu falecido gato e traz com ela toda uma comitiva. Apesar da situação triste, após algumas perguntas e usando o item certo, descobrimos que um dos acompanhantes estava traficando substâncias ilícitas dentro do corpo do animal. A saída é liberar a entrada da condessa, pois ela é uma pessoa da nobreza, mas impedir todo o resto.

Outro ponto que merece ser ressaltado é a dublagem e o uso de referências. Por se tratar de uma aventura em um reino de fantasia, temos diversas princesas, monstros, cavaleiros e criaturas que lembram muito diversos personagens famosos, como Bela, Harry Potter, Merlin e Conan, o Bárbaro. Cada um deles tem sotaques diferenciados e alguns até falam em outros idiomas, sem contar uma certa personagem que se comunica cantando da maneira mais macabra possível.

Além de decidir o futuro dos viajantes que chegam à Sprawl, Lil também tem outras interações após o seu turno de trabalho, e algumas delas também influenciam nos rumos que a história toma. Isso é interessante para conhecer um pouco mais da história, além de variar o tipo de objetivo. Em uma delas, temos que escolher quem é o herói que irá salvar a princesa raptada: um guerreiro, um mago ou um ladrão. Só que essa escolha acontece em uma espécie de um programa de televisão, no qual uma moça fazia perguntas para sair com um pretendente.


Todas essas trapalhadas, combinadas com as tiradas ácidas de Lil e o estilo cartunesco, criam uma obra que consegue usar a diversão para prender o jogador. Infelizmente, por ser um jogo baseado pesadamente em diálogos, seria muito bom ter pelo menos as legendas localizadas para o português, pois muitas das piadas podem se perder para os jogadores mais novos ou para quem não conhece o contexto das referências citadas. 

Mudando o passado para salvar o futuro

Cada dia de trabalho tem um número de pessoas para serem avaliadas e o desempenho de Lil é graduado entre uma e quatro estrelas. Quanto melhor nosso trabalho, melhor a recompensa. Caso algum dos interrogatórios não tenha saído da maneira como esperávamos, podemos utilizar o Chronometer3000 e voltar no tempo para tentar uma nova abordagem. 

Tomar essa decisão nos obriga a fazer a fase inteira de novo do ponto que escolhermos. Ou seja, se quisermos tentar de novo a primeira pessoa interrogada, deveremos passar novamente por todos os seguintes. Isso ocorre porque, dependendo das decisões que tomamos, os acontecimentos das fases seguintes na história são alterados. Ter que refazer um dia inteiro só para corrigir uma falha pode tornar o jogo um pouco mais arrastado, pois não há como pular os interrogatórios bem-sucedidos. 

Se escolhemos fazer isso no menu de escolha de capítulos, todo nosso progresso no modo história retorna para o ponto que escolhermos, o que é um pouco pesado. Nessa parte, eu acredito que seria mais interessante tratar cada capítulo isoladamente, pois ele já foi concluído uma vez no modo principal, mas infelizmente Lil’ Guardsman nos obriga a fazer todo este retorno em busca da melhor pontuação.

A menina da porteira

O humor sagaz e estilo despojado de Lil’ Guardsman tornaram um título de investigação e puzzle  algo divertido e que deixa o jogador ansioso para receber o próximo decreto e continuar com os seus interrogatórios, que podem decidir o futuro de Sprawl. Mesmo sem ter legendas em português, é uma ótima indicação para quem quer um desafio para concluir sem pressa enquanto dá várias risadas.

Prós

  • O bom humor geral, e principalmente o da protagonista, são chamarizes imersivos para cada situação;
  • O estilo de desenho animado conversa muito bem com a proposta do jogo;
  • Com o decorrer da aventura fica bastante intuitivo tomar decisões;
  • Não demanda pressa do jogador para ser concluído;
  • Ótimo trabalho de dublagem.

Contras

  • Para melhorar a pontuação de um interrogatório, é necessário refazer a fase toda;
  • Ausência de legendas em português.
Lil’ Guardsman — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão:Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Versus Evil

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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