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Análise: Raccoo Venture (Multi) mostra que criatividade brasileira funciona muito bem em plataformas

Desenvolvido por Diego Ras, o jogo traz complexidade e diversão em doses exatas, criando um excelente título nacional.

Raccoo Venture
já estava no radar dos jogadores há um tempo, tendo inclusive algumas demos para serem testadas no Steam e em eventos, como as edições de 2022 e 2023 da BGS. Agora chegou a hora do guaxinim mostrar a que veio e se ele faz jus aos mascotes dos jogos de plataforma que o inspiraram.

Protegendo o tabuleiro

Raccoo é o atual sucessor da família Venture, responsável por guardar um tabuleiro de xadrez mágico, que representa o equilíbrio perfeito entre luz e trevas. Entretanto, ele ainda não tinha ideia da importância da sua linhagem, e guardava o tabuleiro apenas como uma lembrança do seu avô.

Um grupo vilanesco chamado Tatus Tatuados, que obviamente só quer o caos, rouba o artefato lendário, e agora Raccoo tem a missão de reaver cada uma das 32 peças de xadrez, além dos 64 pisos do tabuleiro. Ou seja, conteúdo para exploração de sobra.

O intrépido guaxinim pode saltar e quicar na cabeça das criaturas inimigas, mas não de todas, pois existem algumas variantes de tatus com espinhos, armas e até gigantescos. Nesses casos, podemos arremessar itens neles, como maçãs, nozes, cogumelos explosivos e trufas com um cheiro bem forte para atraí-los. Sempre que carrega algo, Raccoo não pode pular e fica mais lento, o que é um balanceamento interessante para que o herói não fique mega roubado podendo realizar todas suas habilidades ao mesmo tempo.

Os níveis não se limitam a apenas esmagar variantes de tatus pelo caminho, pois para encontrar as partes do tabuleiro de xadrez, o jogador terá que explorar todas as rotas possíveis, e algumas delas só fica acessível após desbloquearmos alguns poderes, como o bracelete do avô de Raccoo. Some isso a sessões bem trabalhadas de plataformas, obstáculos e chaves e temos um ótimo level design.

As batalhas de chefes também não ficam atrás, sempre acontecendo em um campo amplo, como uma arena, e apresentando padrões variados de ataques, mesmo que o chefão já tenha aparecido uma vez. O único ponto contra aqui é que não há um medidor de vida ou corações para saber quanto falta para esses monstrengos caírem.

Um guaxinim brasileiríssimo

Com a sua inspiração declarada em clássicos das plataformas 3D, como Banjo-Kazooie, Mario 64 e Crash Bandicoot, temos áreas amplas para explorar, mas sempre com a câmera fixa. Isso atrapalha um pouco quando revisitamos alguma fase e os segredos estão localizados em pontos cegos e isso cria ocasiões em que temos que pular no vazio em áreas que suspeitamos ter algo. Se não tem, é uma vida que perdemos à toa.

Mas isso não tira o mérito do quão bem construídos são os estágios, cada grupo com uma identidade visual muito bem definida e única. Uma área tem foco em obstáculos espinhosos, outra em trechos aquáticos, e assim por diante. A única coisa que pode assustar um pouco os jogadores menos familiarizados com o gênero são as guinadas que a dificuldade dá em certos trechos, e que acabam consumindo mais tempo que o restante da fase no geral.

Esses picos ficam ainda mais aparentes quando temos que controlar Pru, um pombo que auxilia Raccoo em algumas partes. Diferente do guaxinim, ele se locomove muito lentamente e, ao voar, tem uma barra de estamina que se esgota rapidamente. É uma maneira válida de diversificar as mecânicas, além de trazer uma nova camada de desafio. Só que Pru não possui nenhum tipo de ataque, então as suas aparições também fazem parte dos trechos que precisam ser repetidos algumas vezes.

E um último ponto que gostaria de trazer é o carinho de Raccoo Venture com algumas referências não só a outros jogos do gênero, mas aos devs brasileiros. O protagonista pode trocar de roupa, apenas para efeitos cosméticos, e elas são inspiradas em personagens de filmes, históricos e até em jogos desenvolvidos por estúdios daqui. Alguns dos homenageados foram MARS 2120, Mombo Quest, Tropicalia: A Brazilian Adventure e Dininho Adventures.

As músicas ambientais são boas, mas bastante discretas, como se faltasse algum apelo climático em momentos de ação ou algum efeito sonoro mais marcante. Em contrapartida, faço uma menção honrosa ao personagem Astuto Penácio, um urubu que encontramos pelo caminho, com sua pinta de malandro, cuja finalidade é nos fazer apostar em uma espécie de loteria. Sempre que ele aparece, começa a tocar um samba de partido alto, bem característico da cultura carioca. Sutil, mas outra referência bem efetiva.

Buscando um lugarzinho entre os grandes

Títulos de plataformas temos aos montes, ainda mais nos dias de hoje, ainda assim, Raccoo Venture consegue se destacar com carisma e personalidade, ao ponto de conseguir trazer diversas referências e manter sua singularidade. Os fãs do gênero terão uma grata surpresa com este guaxinim guardião feito pelo desenvolvedor brasileiro Diego Ras.

Prós

  • O level design traz variedades interessantes de exploração, obstáculos e puzzles;
  • Jogabilidade simples, criativa e sem rodeios;
  • Ótimas variações nas batalhas dos chefões;
  • Referências bem implementadas a outros games da indústria brasileira.

Contras

  • Picos desiguais de dificuldade;
  • Os trechos com Pru podem ser um pouco tortuosos;
  • A câmera gera alguns pontos cegos.
Raccoo Venture ─ PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX ─ Nota 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Análise feita com cópia digital cedida pela QUByte Interactive

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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