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Análise: Wizard with a Gun (Multi): armas de fogo encantadas na beira do fim do mundo

O mais recente título da Galvanic Games proporciona momentos de diversão com uma combinação complexa de sistemas e um combate simples.

Imagine um jogo de sobrevivência que combina coleta de recursos, crafting e combate de ação em estilo twin-stick shooter. Junte a isso áreas geradas proceduralmente e um multiplayer online para dois jogadores e temos Wizard with a Gun, novo jogo da Galvanic Games publicado pela Devolver Digital.

Um mundo de loops temporais

Em Wizard with a Gun, o mundo foi destruído por poderosos agentes do Caos que corromperam tudo com seu poder. Como um feiticeiro cuja alma está segura na Torre, cabe a você usar uma teomáquina ancestral chamada Roda para rebobinar o fim dos tempos em uma área conhecida como Ruptura. De acordo com textos que encontramos, muitos tentaram impedir esses eventos trágicos, mas fracassaram.

Temos agora a oportunidade de explorar esses momentos finais do mundo em busca de mais recursos. Além de conseguirmos itens consumíveis e materiais para usar no sistema de construção, é especialmente importante encontrar as engrenagens antigas que estão sob o controle de inimigos mais poderosos do que a média. Obtê-las é uma medida de progresso na experiência, alterando os desafios que podem ser encontrados e liberando as poucas novas áreas presentes na campanha.

Durante a exploração, precisamos enfrentar vários inimigos; além dos agentes do Caos que aparecem repentinamente, temos máquinas chamadas de Mecanas, pistoleiros e até mesmo animais selvagens que podem se incomodar com a sua presença.


Nosso único mecanismo de defesa são as armas de fogo. Inicialmente, podemos usar a madeira coletada destruindo árvores e objetos variados para criar uma pistola básica; depois de um tempo, é possível encontrar inimigos pistoleiros que podem deixar para trás suas armas ou usar um NPC específico chamado Young Joshua para a criação delas.

Os tipos de armas que podemos ter incluem pistolas, rifles, varas de máquinas (uma submetralhadora mágica) e Wanderbuss (uma arma que atira mais balas, mas é mais adequada para combate a curta distância). No fim das contas, há poucas opções, com modificadores de área de alcance, quantidade de balas e agilidade de tiros, dando um enfoque maior ao aspecto “mágico” das balas, cujos atributos são uma influência mais significativa na força do jogador.

O combate acaba sendo simples de forma geral e não tendo grandes variações de ação durante toda a jornada. Além de atirar, o elemento principal do combate diz respeito ao posicionamento, sendo importante desviar dos ataques e ter cuidado para não ser encurralado por hordas de inimigos.

Por um lado, a simplicidade facilita o entendimento rápido das mecânicas; por outro, temos pouca maleabilidade na gameplay, o que deixa o jogo facilmente repetitivo. Especialmente tendo em vista a necessidade de coletar muitos recursos para conseguir novos objetos úteis para a sua base e desbloquear novos poderes, o resultado tem bom potencial de se tornar enfadonho.

Apesar disso, gostaria de destacar como podemos explorar os padrões de ataque dos inimigos. Antes dos ataques, os oponentes revelam o seu caminho através de marcações vermelhas no chão, facilitando a esquiva e o planejamento do jogador. Porém, o que realmente chama a atenção é que inimigos de grupos diferentes podem atacar uns aos outros. Utilizar isso para lidar com alguns oponentes poderosos e complicados é bem divertido.

Um mundo de opções

Fora do combate, é fundamental coletar recursos como madeira, pedras e restos de máquinas durante as explorações pela Ruptura. Com eles, podemos construir novos objetos em nossa base, ampliando nosso leque de funcionalidades e até mesmo o armazenamento de itens. Esses materiais também são úteis para evoluir a criação de balas e para fazê-las de fato, algo muito importante antes de sair para explorar.

As opções de bala são bastante interessantes, tendo cada uma efeitos bem específicos. Primeiramente, temos poderes como a “bala de gelo”, que reduz consideravelmente a agilidade dos inimigos, ou a “de veneno”, que reduz a vida do inimigo aos poucos além do dano base. Depois de abrir as mesas de pesquisa específicas, podemos também fortalecê-las de forma significativa com os recursos obtidos na exploração.

Um detalhe interessante é que um dos recursos especiais que podemos coletar é a arcana, uma energia extraída dos agentes do Caos. Para coletar esses recursos, o ideal é esperar cinco minutos para que se inicie o fim do mundo; quando esse momento chega, esses inimigos se tornam muito frequentes.

Porém, torna-se muito mais desafiador voltar à Torre, justamente pela alta quantidade de inimigos e pela destruição dos trajetos. Com isso, temos um elemento de risco e recompensa para avaliar até que ponto vale a pena continuar a exploração e quando seria melhor fugir, tendo em vista a constante escalada da dificuldade.

O fator crafting também é refletido na possibilidade de alterar o ambiente com duas armas especiais. Uma delas permite destruir objetos e reconstruí-los; a outra tem um efeito similar, mas com o terreno, permitindo que o jogador o altere. Em especial, podemos modificar a aparência da nossa base e expandi-la pouco a pouco para acessar áreas inicialmente inatingíveis. Também é possível explorar essas possibilidades na Ruptura, mas como o mundo não mantém uma forma constante a cada nova rebobinada, o valor de fazer isso é apenas temporário.

Para abrir novas possibilidades de crafting, temos que utilizar um livro para coletar informações sobre as estruturas e inimigos que vemos. Nem tudo é escaneável e pode ser especialmente complicado obter os dados de determinadas criaturas evitando dano, mas os upgrades que podem ser desbloqueados valem a pena.

Por fim, gostaria de destacar que a trilha sonora tem um estilo meio faroeste, reforçando a ambientação; o protagonista é bastante customizável com vários estilos de chapéu; e o título possui uma boa tradução para a nossa língua. Há alguns pequenos erros de acento e interface utilizando o português como idioma, mas os textos em si costumam ser bons.

Um mundo de balas mágicas

Wizard with a Gun
consegue fazer uma boa combinação de gêneros diferentes e oferecer uma experiência agradável. Embora pudesse ser mais rico em conteúdo e explorar mais a fundo as possibilidades do combate, o saldo final do jogo é positivo, fazendo dele uma fácil recomendação para quem tem curiosidade nessa mistura.

Prós

  • O sistema de fim do mundo adiciona um fator risco e recompensa ao combate;
  • Grande variedade de opções de evolução para as balas;
  • Um bom posicionamento no mapa permite até mesmo explorar os padrões dos inimigos para que eles se ataquem;
  • Trilha sonora com estilo que remete a faroeste.

Contras

  • Combate simples e repetitivo;
  • A tradução para o português conta com alguns pequenos erros de acento e interface.
Wizard with a Gun — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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